Pare com esta divisão: você precisa ser líder E ser chefe.

Se você já viu algum artigo ou aquelas imagens comparativas entre líder vs gestor (como a foto deste artigo), onde ser um é claramente melhor que o outro, não é o que eu vou contar aqui. Na real, das pessoas que eu vejo de fato "praticando" liderança e obtendo resultados, elas afirmam que você precisa ser chefe e líder em momentos diferentes - e os dois têm a sua importância.

Então, eu vou citar alguns exemplos aqui dessa diferença e quando aplicar cada uma. 

Você precisa saber: você vai ter que ser líder e gestor. Essa é a verdade.

Líderes criam a visão. Gestores lidam com os objetivos.

Liderança, na maneira que é comumente descrita, é muito mais pautada em criar inspiração, focado naquilo que se pode ser. O papel de gerente é definido no que você precisa fazer de fato, em criar objetivos e metas. Um pensa no longo prazo da motivação, e outro pensa no longo prazo da organização. 

Uma pessoa que só pensa no futuro, sem se preocupar com o agora, não vai conseguir manter a empresa. Já uma empresa que só se preocupa com o agora também está fadada a não sobreviver, porque o futuro vai ser inevitavelmente diferente do presente.

Os dois precisam se revezar no controle. Você vai ter que separar momentos pros dois acontecerem. Eu gosto de dizer pra mim mesmo, às vezes em voz alta mesmo, "agora estou assumindo papel de gestor". Porque é muito mais gostoso sonhar com o futuro, tentar inspirar as pessoas e fazer todos sonharem juntos. Talvez é o que todos sonham quando pensam que estão assumindo papel de liderança.

Líderes são agentes de mudança. Gestores mantêm a previsibilidade..

Tá aí um paradoxo que exemplifica bem o ponto anterior. Você vai precisar atuar nos dois pontos o tempo todo. Ao mesmo tempo que, enquanto gestor, você tem que ser um guardião dos processos e fazer com que todos andem na linha; você também tem que pensar "será que essa é a melhor forma de fazer?".

Então, você tem que ter uma cabeça aberta o suficiente pra, quando alguém fizer algo fora do processo, corrigi-la ao dizer que não pode ser feito assim, mas também se perguntar se algo no que ela fez não pode ser incorporado e se tornar a norma.

Líderes correm riscos. Gestores controlam riscos.

Parte da visão idealizada da liderança é aquele rebelde que quer mudar tudo e fazer as coisas andarem mais rapidamente, porque o modo atual é defasado, lento e burocratico. Ele vai, levanta a marreta e corre riscos.

Imagine um líder trabalhando só com pessoas rebeldes iguais a ele. Não vai pra frente. Eu sei porque já quis ser o tipo de líder super democrático, que ouve todo mundo.

Como disse, o papel do gestor é ser o guardião dos processos e você terá que direcionar as pessoas, dar-lhes tarefas claras e garantir que as metas sejam alcançadas. Outra frase comumente divisiva usada para reforçar essa dicotomia inexistente é "gestores dizem 'vai' e líderes dizem 'vamos'". Essa visão é um pouco simplista, porque o papel do gestor é, sim, de dar tarefas (e isso é extremamente importante), mas quando uma pessoa segue uma tarefa bem pensada, toda a empresa anda junto.

Você vai ter que ser líder algumas vezes e gestor em várias outras.

Por isso, você tem que se sentir confortável em ser mais exigente quando a situação demanda. Mediante uma situação de crise, não dá pra sempre sentar todos à mesa, tomando chá e decidir o que se vai fazer. Muitas vezes, e não algumas, o gestor vai ter que decidir. Todos têm que estar confortáveis com isso.

Além disso: é muito pior pra a equipe quando você quer ser "líder demais" quando existem pessoas que não querem trabalhar. A coisa que mais desmotiva é ver gente que performa pouco dentro do barco porque o líder deixou elas lá.

O convite que fica é: saiba quando ser gestor e quando ser líder. Você, sua equipe e sua empresa vão se beneficiar tremendamente com pessoas que navegam bem, e sem peso na consciência, por ambos os mares.

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Um PS: eu entendo que as imagens e essas sátiras geralmente se referem àquela posição de chefia autocrática, que acha que tá sempre certa e só quer mandar. Contudo, é um discurso que tenho ouvido com frequência cada vez maior de desprezo à posição e papel de gerente, como se fosse errado controlar tarefas e medir performance.