A Pedagogia de Opinião está destruindo a Educação Brasileira
A Pedagogia, no Brasil, tem uma história difícil. Desde sempre se busca algo melhor para ela, desde sempre os profissionais carecem de valorização financeira, desde sempre ela tateia a aprendizagem... no escuro!
No escuro, porque o profissional formado para ensinar tem uma tendência a se basear em opiniões. Devido à má formação, à falta de educação básica do próprio profissional e até às características culturais do mesmo, muitos educadores buscam opiniões em lugar de fatos.
Há um tempo isso me incomoda bastante. É comum recebermos na empresa ou nas redes sociais pedidos de "dicas para o aluno ficar alfabetizado" ou comentários dizendo que "na minha opinião isso vem primeiro na alfabetização".
A opção de escrever este artigo, inclusive, veio de um comentário a um vídeo que fiz. Nele eu explicava que temos uma rota cerebral para aprender e que há uma ordem para formar essa aprendizagem na criança. No comentário, a pessoa dizia que "na opinião dela deveria ser primeiro tal e depois tal." Ao ler o comentário me perguntei muito o motivo de ela sequer cogitar que o que eu havia explicado no vídeo era uma opinião minha. Após muita reflexão eu cheguei à conclusão um tanto sombria de que ela tinha sido formada para ser assim, profissionalmente.
Sempre fui bastante objetiva e talvez isso tenha se intensificado após minha pós em Neuropsicopedagogia Clínica e Institucional. Confesso ter dificuldade para compreender o que levaria uma pessoa, em sua área profissional, a se basear em opiniões. Afinal de contas, opinião é algo pessoal e estamos falando de algo muito sério: o desenvolvimento de um ser humano.
Não se expressa opinião de algo que não se conhece, porém, na Pedagogia isso parece ser inverso. Digo isso com base nos meus 29 anos e alguns anos dentro da área, inclusive. Desde sempre foram poucas as vezes em que tive gestores realmente profissionais ou colegas que tivessem uma visão voltada para as necessidades de aprender do aluno. Geralmente há uma guerra de egos em relação ao que cada um opina. Egos, porque trabalhar a partir de opiniões se torna algo muito egocêntrico, de verdade. A todo momento, pela falta de segurança na própria formação e por esse caráter subjetivo, as regras mudam.
O professor, inseguro da situação em sua sala de alfabetização, procura o coordenador pedagógico, que por sua vez jamais lecionou para crianças abaixo do terceiro ano. Ao ouvir o relato do professor ele começa a se preocupar com os resultados e busca opiniões com os parceiros ou então emite uma opinião própria. O professor, que já estava inseguro, em lugar de receber uma formação adequada, recebe ordens ou uma opinião sobre seu trabalho, vinda de pessoas que não conhecem sua realidade e que muitas vezes nem tiveram contato profissional com turmas de alfabetização. O resultado é um desastre pedagógico, como o que assistimos anualmente nas estatísticas de ensino do país.
O mais preocupante em tudo isso é que para opinar é preciso conhecer. O professor no Brasil tem uma tendência a opinar sobre algo que não conhece e, pior ainda, acredita no que outro professor "opinador" diz.
Recomendados pelo LinkedIn
Se fulano montou um método milagroso feito a partir das opiniões e práticas dele, formado por um punhado de atividades aleatórias, resolve vender. Ao fazer a divulgação para venda, não estuda os demais métodos disponíveis e diz que o dele é melhor. Mostra os resultados do que ele aplicou. Claro que o expectador só verá o que o vendedor quer que ele veja... somente as crianças que apresentaram resultados aparecerão. O professor vendedor fala mal dos demais métodos, porque com ele nunca funcionaram. Não funcionavam porque ele nunca, de fato, se capacitou para de verdade entendê-los. Com sua formação de opinião e dentro de seus limitados parâmetros, além de criar algo próprio, sem comprovação científica, ainda divulga isso para uma centena de outras pessoas, que irão aplicar em milhares de alunos. Preocupante.
Temos uma Pedagogia de Opinião formada a partir de Experiências praticamente caseiras, montadas por professores que fizeram Pedagogia e sequer entendem que para montar um material é preciso outra formação: a de Designer Instrucional Pedagógico.
Um engenheiro sabe seus limites. Ele sabe que não está apto a fazer o trabalho do arquiteto, porque em sua graduação não teve aulas para isso. O professor jamais teve uma aula que fosse sobre elaborar materiais, quanto mais métodos e constantemente a escola lhe pede isso. Ele é incentivado a assumir papéis que não são dele, aos quais ele não tem preparação profissional. O resultado é um estímulo geral a esse tipo de Pedagogia.
O engenheiro é valorizado porque se atém ao que aprendeu e, um bem-sucedido, compreende que precisa trilhar uma carreira. Faz capacitações, investe em seu eu profissional, para entender e saber mais. O professor não compreende que a faculdade foi seu primeiro passo profissional. Ele é um profissional dependente, carente de capacitação. Por falta de visão profissional busca o que lhe falta em opiniões, dicas, conselhos, como se fossem resolver suas dificuldades profissionais.
Como podemos esperar que alguém que acredita que a profissão é formada por opiniões possa desenvolver academicamente outro ser humano? Como podemos esperar que nossos alunos concluam a alfabetização se os professores pedem "dicas" e usam atividades recreativas em aula?
A mudança desse olhar começa com o próprio profissional. Nós, do Grupo Spolidorio de Educação, conquistamos, um passo por vez, profissionais que despertam do mofo educacional que enfrentamos. São pessoas corajosas, que se tornam protagonistas de sua própria carreira e começam a perceber que a Pedagogia precisa ter um caráter mais regrado, mais maduro. Temos orgulho das pessoas que formamos e que conseguimos resgatar desse universo distorcido que tentam nos impor no país.
Propomos o avanço, porém ele só acontece quando a própria pessoa se dispõe a mudar. Não consigo acordar alguém que insiste em continuar dormindo. É preciso passar por um processo para avançar, como todo profissional. Este artigo serve para uma conscientização sobre este fato que tenho constatado diariamente: nossa Pedagogia de Opinião. Comece a observar os colegas, os professores de seu filho, faça perguntas, veja quais são as respostas e tire suas conclusões agora que coloquei uma pulguinha atrás de sua orelha. Nos vemos no próximo artigo!