A Peneira da Vida
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A Peneira da Vida

Sou Escritora. Colocar no papel meus pensamentos e dar forma à minhas ideias é o meu ofício. Mas escrever somente não é o bastante para que eu sobreviva, vivo em um país onde boa parte da população não está familiarizada com a leitura e por isso, creio eu, minha carreira "Ainda" não deslanchou. Modéstia a parte tenho meu pequeno séquito, pessoas com quem tive a oportunidade de trabalhar como prefacista, resenhista, corretora ortográfica e organizadora de livros, gente que admira meu trabalho e que já se diz fã da minha série que ganhará seu segundo livro neste ano.

Mas enfim, como disse no começo, meus admiradores são poucos, mal chegam a duas dezenas, e por isso, para manter as minhas responsabilidades de mãe preciso de um trabalho extra. Daí, me viro entre os trabalhos de escrita que surgem e algumas aulas de reforço de língua portuguesa para alunos do ensino fundamental I e II e aulas de redação para alunos do ensino médio.

E eis aí o motivo do meu artigo, é na educação que a vida começa a nos peneirar, e nessa peneira, os bons ficam cima e os que não atendem todos os inúmeros requisitos que a vida adulta nos cobra são eliminados e misturam-se à grande massa que se aglomera em busca de uma de vida melhor. Vou explicar meu pensamento leitor amigo. A situação hoje, a realidade educacional que impera no nosso país é muito semelhante à realidade cantada pela Banda Pink Floyd no seu épico vídeo another brick in the wall.

É só mais do mesmo. A educação repassada na grande maioria das escolas públicas do nosso país, é esdrúxula, vazia e ineficaz. Trabalho com dois alunos de doze anos de idade cada um, que estão no quarto ano do ensino fundamental I, e meu trabalho com eles tem sido, corrigir as tarefas copiadas na sala de aula e alfabetizá-los, mas alfabetizá-los mesmo, desde o alfabeto, ensinado os nomes das letras e depois formando sílabas para tentar assimilar neste processo algumas palavras dissílabas junto com o conceito de ditongo, tritongo e hiato. E se esse caso ainda não parece cruel o suficiente, leve em conta que no lado oposto, três alunos com dez anos de idade já dominam os mesmos conceitos e leem fluentemente as palavras da nossa língua materna, com a ressalvas de que os três últimos alunos veem de boas escolas, com ensino rígido e que claro, são da rede privada.

O questionamento deste artigo resume-se então à pergunta feita à séculos atrás por Thomas Morus onde se tem: "Se um governo submete seu povo à ignorância e corrompe suas maneiras desde a infância, e então os pune pelos crimes à que foram expostos na primeira instância, qual é a conclusão à que devemos chegar, a não ser a de que, primeiro o Estado cria ladrões, e depois os pune?"

Antes que se imagine que há aqui uma generalização digo, minha formação foi adquirida em escolas públicas, mas tive a sorte de ser bem acompanhada em casa, por familiares que reconheciam que era importante "passar de ano". O motivo deste texto se dá por conta do voraz descaso que emerge a cada dia nas nossas escolas. Observe, se você é pai ou mãe não será difícil constatar que, o percentual de alunos com baixo rendimento em escolas públicas, é infinitamente superior do índice de alunos com dificuldade na escola particulares.

É uma situação cruel, ver crianças sendo privadas de uma educação de qualidade é a mesma coisa que ver um ser humano caminhar para o abate, o mundo engole cada um dos que estão despreparados. Você que busca emprego sabe disso, sabe da relevância de ter tido ou de ter a oportunidade de estudar. Eu tentei no dia de hoje encontrar um culpado, apontei a família, mas logo vi que a família de cada um dos meninos que eu atendi já era um produto acabado da "educação" que eles agora estão recebendo.

E a questão feita por Morus continua sem resposta, a peneira segue peneirando e este artigo certamente ainda será atual daqui dez anos. Vou fazer o melhor que posso para que estes meus dois alunos progridam. Continuarei a tentar. Sempre. E enquanto tento, reflito sobre a letra de Gabriel O Pensador em sua música Até Quando: "[...] Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar. O cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudar. E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falar. Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá [...]".

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