Pensamento crítico: hard ou soft skill?

O pensamento crítico é definido, a priori, como uma Soft Skill, estando diretamente relacionado com as habilidades comportamentais e emocionais. E assim o é, afinal, sem ele não somos capazes de estabelecer os necessários filtros que norteiam as nossas relações interpessoais e que definem as nossas condutas. Contudo, uma indagação que tem me perseguido com frequência é se ele estaria restrito, unicamente, a esta modalidade de competências. Ou, também fortemente presente nas habilidades técnicas que constituem o arcabouço de atuação de uma gama de profissionais, inclusive dos administradores.

Dito de outro modo, eu me questiono sobre o porquê do pensamento crítico/reflexivo não ser definido, explicitamente, também como uma Hard Skill, ou, uma competência técnica. Afinal, as tomadas de decisões mais importantes de uma empresa requerem além do conhecimento técnico, uma boa dose de criticidade e de discernimento. Seria possível então, a estruturação do pensamento técnico, sem a existência do pensamento crítico. Neste sentido, o pensamento lógico ou matemático que é construtor de fórmulas, programas, sistemas e soluções, é também pensamento crítico, pois exige reflexão! O pensamento linguístico que oportuniza a manifestação das várias formas de comunicação verbal e escrita, como relatórios, é também pensamento crítico, pois exige reflexão! E quanto ao pensamento criativo, gerador das novas ideias tão valorizadas pelo mercado? É também pensamento crítico, pois exige reflexão!

Diante desse panorama, me arrisco, por minha total responsabilidade, a descrever o pensamento crítico como uma modalidade híbrida de pensamento que encampa tanto as Hard quanto as Soft Skills. E que, na esteira desse processo de desenvolvimento de competências está, gradativamente, abarcando novas tendências, como por exemplo, as Digital Skills que são as competências digitais, inegavelmente essenciais para a sobrevivência no mundo pós-moderno. Ou ainda, novos conceitos como o de Human Skills para definir as habilidades humanas socioambientais, tais como inteligência emocional, empatia e autoconsciência, avaliadas então, como uma evolução das Soft Skills. E, ao me debruçar sobre as reflexões aqui apresentadas, cheguei a uma conclusão que, em princípio tive a pretensão de acreditar que representasse uma inovação de minha autoria. A de que o pensamento crítico pode ser considerado como uma espécie de Depp Skill. Termo que até então eu desconhecia e que faria alusão à profundidade desse tipo de pensamento. Mas bastou uma simples pesquisa para que eu identificasse que as Depp Skills já foram observadas, estando relacionadas, sobretudo, com a motivação para o desenvolvimento das demais competências. Exatamente como eu vinha tentando elaborar! Concluo então, despretensiosamente, que o pensamento crítico é, em última instância, uma competência profunda que deveria desenrolar-se em toda experiência humana!

Flávia Meirelles