Percepções de um Avô sobre o processo de educação escolar de seus netos: Episódio 1.
Uipirangi Câmara[1]
Converso com meu neto (Theo) de 12 anos sobre mais um dia de aula. A conversa é resumida, mas profunda:
- E aí meu netinho querido, como foi sua aula?
- Prontamente me responde: “Foi normal, foi legal, mas que saber mesmo? Eu detesto aula híbrida”.
- Imaginei qual seria a resposta, mas insisti em saber, mais por aquela mania de pesquisador que teima em me perseguir, do que uma simples curiosidade. Por que você não gosta de aulas híbridas? As respostas vocês já ouviram em algum momento (de palestras à conversas de corredores).
- Ah vô:
- Porque a aula não é para nós. A maioria da sala não está indo para a Escola, então eles transmitem uma aula presencial com alguns alunos, os outros, que são em maioria, se sentem excluídos;
- O som falha, a internet cai;
- Os professores não nos ouvem, algumas vezes não os ouvimos;
- Não conseguimos interagir como nossos colegas;
- O Ensino é maçante;
- Os professores parecem perdidos, sem saber para quem devem dar atenção.
- “Eu simplesmente odeio aulas híbridas”.
Imagino que, diante de todas as imensas responsabilidades que envolvem a gestão da educação nesses tempos de Pandemia, ouvir mais conselhos de um “brilhante” [Re] lembrador do já sabido, deva parecer cansativo. Mas, sendo maior que qualquer razão, um educador coloca todas as urgências em perspectiva com sua missão maior – educar, por isso insiste em lembrar. Nesse sentido, peço escusas por falar o já sabido.
Vou me arriscar a reafirmar um saber que não pode ser esquecido em nenhum tempo, mais ainda na pandemia. Vou transformá-lo, para amenizar as dores, em um pequeno conselho, daqueles [De] testáveis de autoajuda escolar:
Foque na relação ensino-aprendizagem usando mediadores tecnológicos de fácil investimento e domínio. Perguntem às crianças, que são seu público principal, como elas estão se sentindo (Aprendendo) e ajuste sua aposta pedagógica.
Ensino Híbrido e um cem números de nomes para garantir a reserva de originalidades que as escolas teimam em cultivar, têm sido apresentados como um meio da moda para atrair pais e alunos para um ensino melhor. Não faltam consultores ou autodidatas para dizer que isso é simples de se implementar: Câmeras, Microfones, Internet e uns poucos cuidados e voilà: faça-se o ensino. Sabemos que todos se enganam (Guardo aqui a reserva de não generalizar) com a capitulação sem resistência frente ao discurso dos coaches da Educação.
Crianças são os usuários do sistema educativo. Tudo o que se fizer em termos de processos pedagógicos e administrativos deve ser feito em prol do aprendizado, do prazer da educação. Nesse sentido, a conta é simples: Aulas via Zoom ou Teams (Para citar alguns mediadores tecnológicos) para crianças que estão em casa, investindo-se nos processos pedagógicos (Tornar essas aulas as melhores do mundo).
Aulas híbridas? Não agora, não para todo mundo. A maioria das escolas, professores e atores do universo escolar não estão preparados para essa oferta nesse momento. Na pandemia, dois públicos diferentes devem ser encarados em suas diferenças. Necessidades de sociabilidade e interação devem ser resolvidas com alternativas criativas. Encontros virtuais semanais, rodas tecnológicas, aprendizagem por pares, enfim, as possibilidades são inúmeras.
As crianças devem ser ouvidas quanto à implementação dos modelos pedagógicos (educacionais) que vão influenciar suas vidas, sobretudo em tempos de Pandemia, com incertezas, conflitos e anseios que nem sempre são compartilhados (Faltam ouvidos). Essa é uma decisão estratégica que não pode ser relegada como se não tivesse impacto sobre a relação ensino/aprendizagem.
Por fim, vale, para esse momento de incertezas, o conselho da vovozinha educadora: Sem modismos, o menos é mais.
[1] Doutor em Ciências da Religião, Filósofo, consultor em Educação e docente em Ensino Superior. E-mail: ucamara@gmail.com
ESG. Gestão Estratégica. Pesquisadora da educação e complexidade. Docente no Ensino Superior, formação de profissionais que aprendem e ensinam.
3 aTantas incertezas! E o que veio foi entendido como alerta parece não alertar. Outras vias surgem incluindo aquelas em que conformar-se e esperar voltar ao normal tem uma representatividade... insistir em alertar, instigar também me parece ser uma teimosia necessária.