Pertencimento: conseguimos ser quem somos no ambiente de trabalho?
Para você, o que é o sentimento de pertencimento? Consegue colocar em palavras?
Este sentimento é um indicador que informa se está havendo inclusão e equidade nas empresas ou não.
O conceito pertencimento vem sendo utilizado para expressar um sentimento de segurança que acontece quando existe aceitação e valorização de cada pessoa, especialmente de grupos historicamente sub-representados.
Se eu me sinto pertencente a um determinado ambiente, eu não preciso fingir ser uma outra pessoa, pelo contrário, eu consigo ser quem eu sou, autêntica, sem medo de retaliação, preconceitos ou discriminação. Com o pertencimento conseguimos ter relacionamentos positivos que, no local de trabalho, podem ser estendidos para a cultura da empresa.
Para elucidar mais sobre o assunto, vou primeiramente trazer um exemplo de intervenção e depois trarei questionamentos para gerar reflexões do que pode ser trabalhado nas empresas.
Como já mencionei, eu venho da Engenharia Elétrica e, já passei por vários sentimentos que me desmotivaram a continuar na profissão. Sabemos que a maioria das engenharias são campos dominados por homens e que isso acarreta muitas vezes um clima no mínimo estranho quando se tem alguma diversidade de gênero na empresa. Muitas vezes isso nem é percebido pelos homens, e muitas mensagens são passadas de maneira implícita, mas colocam a mulher como uma profissional inferior, pelo fato de ser mulher.
Assim, trago um artigo, publicado no Journal of Educational Psychology, que relata dois experimentos para aumentar o senso de pertencimento das mulheres nas engenharias:
No primeiro, após identificar com as mulheres quais eram os aspectos que garantiriam a elas o senso de pertencimento, foram realizadas intervenções de prevenção de ameaças e, em seguida, foram medidos os seus efeitos com relação às conquistas, engajamento e desempenho das mulheres.
O segundo experimento trabalhou a auto afirmação e valores pessoais. Este trabalho contribuiu para reduzir o estresse e ajudar as mulheres a desempenharem bem a sua profissão, apesar do ambiente ameaçador.
Ambos experimentos foram positivos e melhoraram as experiências das mulheres nas engenharias.
Notem que, principalmente, o primeiro experimento saiu do “meio comum e tradicional” de como trabalhar o desempenho das pessoas. Quando usamos ferramentas tradicionais como avaliação de desempenho, podemos piorar a situação e o estresse dentro da empresa e o que parece ser justo e correto pode agravar a discriminação.
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Neste mesmo sentido, manuais de conduta, sobre o que é aceitável e o que não é aceitável, ajudam de certa forma, mas também não eliminam preconceitos.
Mas então o que fazer?
Levanto, agora, alguns questionamentos para trazer reflexões sobre como melhorar o sentimento de pertencimento nas empresas:
Quando as empresas trabalham efetivamente em todos esses pontos, as dores e necessidades de cada pessoa e de cada grupo ficam mais claras. As lideranças passam a buscar soluções para os problemas que antes não enxergavam, para assim eliminar preconceitos e discriminações que são estruturais e vem de gerações.
Além disso, o envolvimento das lideranças impacta muito positivamente na diminuição das barreiras e permite que o ambiente se consolide como um ambiente psicologicamente saudável.
Para finalizar, deixo aqui a minha experiência como mulher na tecnologia, e digo que a inclusão e o sentimento de pertencimento deve ser expandido para fora da empresa também, junto aos stakeholders. Passei por situações desagradáveis fora da empresa e senti falta da intervenção das lideranças que pouco ou nada fizeram. Logo, para que a inclusão seja realmente eficaz e útil, trabalhe para que o sentimento de pertencimento seja criado e fortalecido dentro e fora da empresa.