Pesadelo!
A pior partida, desde que o Brasil perdeu de 2 a 0 para Honduras pela Copa América em 2001, sob o comando do Felipão. Curiosamente, a última derrota para o Uruguai também foi sob o comando do mesmo treinador quando da sua estreia à frente da Seleção Brasileira, nas eliminatórias da Copa de 2002.
Espero que as coincidências sigam o caminho de Yokohama, no Japão.
Vamos para 24 anos, novamente, sem títulos. Período em que colecionamos o nosso pior resultado em copas, contra a Alemanha em 2014, e a nossa pior classificação em mundiais, sétimo colocado em 2022, desde o nono lugar em 1990, na Copa da Itália há 33 anos atrás.
A partida de ontem (17/10/23) foi para esquecer. Simplesmente, vergonhosa!
Do jeito que jogamos contra o Uruguai, o Fernando Diniz colocou em risco a sua condição de estar à frente da Seleção Pentacampeã Mundial.
Não por suas ideias, mas pela sua falta de sensibilidade em entender a alta complexidade do jogo que ele próprio propõe, e da necessidade de se construir processos, respeitar etapas e cumprir prazos para que tal modelo de jogo seja alcançado.
Em clubes, como no Fluminense onde trabalha atualmente, o dia-a-dia lhe permite mais tempo junto aos atletas para a consolidação de suas ideias. Jogos frequentes lhe permitem avaliações e ajustes constantes.
Acrescente-se ao contexto o fato de que vários jogadores se mostraram tecnicamente muito abaixo do que geralmente podem produzir. Alguns atletas colocaram em xeque a sua própria convocação.
Neste sentido, cabe uma pergunta: não se fala que o Campeonato Brasileiro é o mais difícil do calendário mundial, devido ao grande número de equipes que podem conquistar o título?
Então, por que o artilheiro do mesmo campeonato, o mais disputado do mundo, não é convocado? Por que o Tiquinho Soares não é convocado? E o Talisca, que vive fase melhor que a do Richarlison? Que tal o Marcos Leonardo do Santos?
Entendo a necessidade de continuidade de alguns jogadores, mas o momento técnico do jogador não deveria ser o fator primário para a sua convocação?
Aliás, o fato do artilheiro do Campeonato Brasileiro ficar fora de uma convocação não é exclusividade do Diniz. Já aconteceu com outros treinadores.
Contra a Celeste Olímpica, enquanto Neymar esteve em campo, mesmo sem grande atuação, quer por sua liderança técnica ou pelo respeito dos adversários, a equipe nacional parecia demonstrar um mínimo de organização.
Com a sua lesão, esse frágil tecido estrutural se desintegrou.
Gabriel Jesus, alçado à condição de exercer a função de armador-central, no 1-4-2-3-1 desenhado por Diniz, tentou bravamente. Esteve acima dos demais. Porém, não nos deixemos enganar, pois a média geral foi muito baixa.
Tendo Raphael Veiga, que vem fazendo a função com maestria no Palmeiras, não teria sido mais sensato a sua utilização? Ou é critério que o jogador atue fora do Brasil, dentro da hierarquia de utilização na seleção nacional? De novo, isto também não é exclusividade do Diniz, pois já aconteceu com outros treinadores.
Rodrygo cobrou um bela falta. Só!
Vini Jr., novamente, irreconhecível!
A dupla de zagueiros se mostrou frágil, mesmo contra atacantes que ainda não estão na prateleira de cima do futebol mundial.
Éderson, solitário e sem ter o que fazer para ajudar a equipe, tomou dois gols indefensáveis, a queima-roupa.
Terminamos com cinco atacantes, tendo David Neres como lateral direito, e como se empilhar atacantes, sem ter alguém competente para organizar o jogo, fosse a solução. Raphael Veiga entrou no final, como segundo-volante, e não como meia-central.
Perdemos uma invencibilidade de 37 jogos em eliminatórias.
Particularmente, trocaria facilmente esta invencibilidade por mais um Título Mundial.
Fernando Diniz, que tem ideias de jogo mais ousadas que o Tite, poderia aprender com este uma estratégia sábia e muito simples. Aproveitar, principalmente neste início de ciclo de trabalho, as funções que os jogadores desenvolvem nos seus respectivos clubes para otimizar o rendimento individual e coletivo da nossa seleção.
A partir daí, evoluir com suas próprias ideias. Buscar criar seu próprio legado.
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Ao tentar se construir legados sem processos, perdem-se referências importantes ao longo da jornada.
Por outro lado, processos que não conduzem ao sucesso, dificilmente, serão ratificados como legados.
E no futebol, um legado de sucesso significa a vitória ou o encantamento.
Quem sabe.....vencer e encantar.
No primeiro caso, podemos citar o Brasil de 1994; a Itália de 1982 e de 2006; o Brasil de 2002; e a Argentina de 2022.
Aliás, Scaloni, em 2022, lembrou Parreira com Romário, em 1994, ao estruturar sua equipe para potencializar o seu principal astro, Lionel Messi.
No segundo caso, temos a nossa seleção de 1982; o Carrossel Holandês de 19774 e 1978; a Hungria de Púskas em 1954.
Vencer e encantar? Por que não?
Temos as Seleções Brasileiras de 58, 62 e, principalmente, a do Mestre Zagallo em 1970; o Santos de Pelé; o Flamengo de Zico; a Seleção Argentina de 86; o Barcelona de Guardiola; a França de Zidane em 1998.
Que vençamos e encantemos em 2026.
É mais brasileiro!
El Loco Bielsa
Diniz previu um jogo ofensivo entre duas equipes que buscam um protagonismo técnico.
Bielsa o surpreendeu.
Na sua versão mais light, após as ousadas equipes da Seleção Chilena e do Leeds United, dirigindo o time uruguaio, foi mais comedido. Foi reativo frente ao Brasil.
Diferentemente do seu companheiro de profissão e com a experiência dos seus 68 anos e da sua longeva carreira profissional, entende que precisa-se de tempo e prudência para construir uma equipe que seja protagonista e que reproduza o seu modelo de jogo.
Um modelo que é complexo; exige muita mobilidade; é ousado; requer uma técnica refinada e muita confiança por parte dos jogadores para a sua execução. Talvez não consiga reproduzi-lo, na sua plenitude, dirigindo a Celeste Olímpica.
Contra o Brasil, foi conservador. Sabe que o processo de renovação de uma equipe acontece a médio e longo prazo.
Montou o seu 1-4-3-3, com um triângulo alto de meio-campo e com meio-campistas muito intensos. E como joga o Valverde!
Uma linha de quatro zagueiros com forte marcação e dois garotos como extremos. Na frente, Darwin Núñez rompedor; competitivo e goleador.
A sua equipe foi competitiva; fez pressão alta no primeiro tempo; abusou das faltas e foi fiel ao seu plano de jogo. Demonstrou ter a noção clara do seu atual estágio de construção.
Eventualmente, ficou descompactada, o que não foi aproveitado pela equipe brasileira ou, quando explorado, foi interrompido com uma falta tática.
Com o placar favorável, baixou as linhas da equipe e administrou o jogo.
Bielsa, humildemente, abriu mão do protagonismo do jogo para fazer o Uruguai vencer o Brasil, após 22 anos.
Continua gênio.