A pesquisa, a jornada e as atualizações: o que aprendi nesses 20 anos.
Eu pedi a um jovem aluno que começasse seu trabalho de pesquisa por esse meu singelo livrinho. Ele me perguntou: mas professora .... já tem 20 anos que você escreveu isso. Quase a minha idade. Não está desatualizado? A senhora não aprendeu nada nesses 20 anos que merecesse uma atualização? Eu reli..... talvez mudasse uma coisa aqui outra ali. Mas nesse fim de ano talvez valha mais pensar no que aprendi nesses 20 anos que não está no livro.
O livrinho é singelo porque é pequeno e começou como uma intenção simples: esclarecer sobre a jornada da pesquisa e seus desafios para alunos de administração, da nossa graduação, MBAs, mestrados e doutorados executivos. Não é um livro de metodologia, nem um tratado sobre epistemologia da ciência ou sobre teoria do conhecimento. É sobre como pensar a pesquisa aplicada ao campo da administração. A tarefa não é simples. Administração é um campo muito multidisciplinar e interdisciplinar. É muitas vezes mais práxis, intuição ou arte do que ciência. No entanto, a pesquisa aplicada tem um papel imenso: reduz os erros, facilita a aprendizagem, traz dados e fatos que aumentam a qualidade do processo decisório e o alinhamento interno; reduz o domínio dos palpites e dos paradigmas de pensamento, e, mais do que tudo: facilita a inovação. Não apenas em tecnologia, mas em gestão, em marketing, em cultura, em confiabilidade humana e gestão de riscos, em ESG e tantos outros campos.
Relendo, achei que o livro ainda cumpria bem o seu papel: Ajudar a pensar sobre a jornada, suas possibilidades e desafios. Preciso de hipóteses? Qual é o papel da teoria? Como resolvo problemas da minha empresa por um processo de pesquisa? Como isso funciona e que tipo de resultados práticos devo esperar? São as respostas que procuro dar. Queria um livro curto. Rápido de ler. E que engajasse o leitor na aventura do conhecimento.
Mas de fato há coisas que aprendi nesses 20 anos e que não estão no livro. Achei que valia compartilhar.
O esforço de pesquisa se parece com a vida.
1) Livros ajudam. Mas se perdem na memória. O que importa de fato são as perguntas que fazemos e o quanto as mantemos vivas. São elas que nos mantém aprendendo. Quando as trocamos por certezas, é porque envelhecemos. Não importa a idade que temos. Descobrimos que sem certezas conseguimos escolher os melhores caminhos. Compreender seus riscos. Enxergar alternativas. Expandir nossa liberdade de escolha.
2) Nada substitui a resiliência e a alegria na busca por respostas. A resiliência porque o caminho é cheio de desafios. E a alegria de aprender porque é ela que torna a jornada gostosa. E sem isso a resiliência não se sustenta. É preciso cuidar da alegria. Se divertir no caminho. Se maravilhar com o que descobre.
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3) Existe em nós aquela criança curiosa e inteligente que ouvia uma história e dizia: de novo! Precisamos mantê-la viva por que cada vez que repetimos uma pergunta, relemos um texto ou voltamos sobre um dado aprendemos coisas novas. É preciso cultivar a paz que nos mantém livres da ansiedade para que possamos fazer isso. Há grandes descobertas por trás de coisas aparentemente óbvias. E precisamos cultivar a imaginação.
4) Hipóteses negativas são uma benção. No começo, a gente se decepciona. Entristece. Fica com raiva. Não entende..... Pensa em torturar os dados para que digam o que a gente quer. Hipóteses negativas mostram que estávamos errados. Atinge a nossa vaidade. Nossa autoconfiança. Nossa vontade de continuar. Mas são elas que nos ajudam a ir além.... a testar nossa capacidade. A fazer novas descobertas.
5) A humildade é a maior professora.
6) Nunca, de fato, terminamos e concluímos nossas dissertações e teses. Nem as pesquisas que fazemos depois dessas. E é aqui que a pesquisa mais se parece com a vida. No começo, queremos salvar o mundo. Buscamos a pergunta mais ampla e relevante na qual conseguimos pensar. Queremos deixar um legado. Fazer a diferença. Nosso orientador vai nos guiando até acharmos um problema pequenininho. Bem delimitado. Em um projeto todo amarradinho. Ficamos chateados. Nos sentimos contidos. Limitados até. Queríamos uma grande realização. Achávamos que jamais conseguiríamos escrever coisas suficientes sobre uma questão tão pequena. E aí mergulhamos no tema. E quanto mais mergulhamos, mais descobrimos. E quanto mais descobrimos, mais nos perdemos. A nossa pergunta é como as migalhas de pão que João e Maria espalharam na floresta para encontrar o caminho de volta. E como na fábula, os pássaros comem o pão e não há volta de fato. E precisamos, então, arbitrar sobre um caminho. Escolhemos não porque há poucas opções. Mas porque elas são muitas e é necessário escolher. Quando tomamos pé da situação e começamos a entender a jornada, o prazo termina. Jamais esgotamos um assunto. Jamais concluímos de forma definitiva. Não acabamos a pesquisa. O que acaba de fato é o tempo.
Então para quê?
Para cumprir o papel da nossa geração, no nosso tempo, e garantir avanços.
Porque a pesquisa gera riqueza, salva vidas, melhora a vida.
Para abrir o caminho para que outros sigam nessa jornada.
E porque sem pesquisa, sem ciência e sem filosofia as trevas cobrem a humanidade.
E porque a grande aventura do conhecimento é o que nos leva adiante.
Segurança e Contingência | Óleo e Gás | Etarismo; Diversidade Geracional | Professor
3 aComecei por ele meus estudos para a dissertação e sei que ele me acompanhará até o final da jornada, com muita resiliência e alegria. Estou gostando demais da sua orientação.
Self-addictive for agile solutions; Learner; Love to be father; Energy and Natural Resources profissional; Oil & Gas executive; Business consulting
3 aFantástico!
HSE | Prevenção de Riscos | NR-37 | SGSO
3 aCarmen, Inspirador, como sempre! Sinto muita falta de participar de suas palestras presenciais, pois sempre foram alimentos para minha imaginação e inquietude para buscar o melhor sempre. Que em 2022 a gente possa retomar esses encontros. Muito obrigado por tudo.
Sócio | Safer Advogados | Mestre em Gestão Empresarial | Black Belt LSS
3 aLeitura obrigatória! Muito, muito bom!
Partner and Head do Segmento de Ensino Superior
3 aBons livros, boas ideias ... duram, e mais importante nos ajudam a encurtar o caminho