Resenha crítica | Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas, por David Epstein
Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas, escrito por David Epstein, é um livro de 334 páginas, mas confesso que li mais rápido do que imaginei, dado a forma interessante e envolvente do tema tratado pelo autor.
Suas páginas trazem a importância do aprendizado, não apenas voltado para especializações, mas sobretudo para uma visão generalista. Baseando-se em evidências científicas, em aspectos biográficos de grandes nomes ao redor do mundo, de profissionais que se destacaram sobremaneira pelo desenvolvimento amplo de habilidades e competências.
Este livro é quase uma tese na sua proposição e riqueza de argumentos que passam pela educação de grandes expoentes em suas áreas de expertise, desde suas infâncias.
Começa com a comparação entre dois extraordinários profissionais, Roger Federer e Tiger Woods, e vai conduzindo a entendimentos que nos clareiam que o mundo de hoje não é nem “tênis” nem “golfe” ou seja, que não vivemos mais em um mundo estável, mas mutante com pouca previsibilidade. Não podemos deixar de também preparar os alunos para o mundo perverso, exigente e demanding, e não mais tão estável e generoso.
Comprova como a vantagem inicial dos treinos precoces podem trazer apenas uma vantagem acadêmica temporária. Aponta pesquisas que sugerem que para proporcionar benefícios acadêmicos duradouros, devemos nos concentrar em habilidades “abertas”.
Além disso, reflete sobre o quanto o excesso de garra (Angela Duckworth) é um problema, e esclarece o porquê seu projeto para o ensino médio sobre a ciência da tomada de decisões não durou os preconizados dois anos, mas, sim, oito. Lembra sobre a frase de Winston Churchill: “nunca, nunca, nunca, nunca desistir”, a qual é usada na web sem seu final: “exceto quando informado por sua convicção ou pelo bom senso”. Será que antecipar fases de amadurecimento cerebral é promotor?
O livro deixa bem claro que aprender a lidar com frustrações é mais importante, muitas vezes, do que dar uma resposta correta. Pontua a importância do erro e da tolerância às frustrações, que promovem muito mais do que o “efeito da hipercorreção”(SIC), para uma aprendizagem.
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“Quanto mais confiante o aluno se sente em relação a suas respostas erradas, mais a informação é lembrada quando ele aprende a resposta correta. Tolerar grandes erros pode criar as melhores oportunidades de aprendizado”, alega Epstein.
Aprender exige tempo e empenho do cérebro, o que no mundo de hoje é subestimado, pois busca-se rapidez de respostas, excesso de dicas, facilidades de envolvimento com o tema a ser aprendido, espera-se menos esforço e poucas repetições. Altos níveis de domínio imediato não sobrevivem à passagem do tempo. “Frustração não é um sinal de que você não está aprendendo, mas a facilidade é”, afirma Epstein, mesmo sem fazer menção ou recorrer ao que a neurociência já evidencia sobre como o cérebro aprende. Treinar com poucas dicas, incorrer em erros, diversificar estratégias, fazer intervalos, submeter-se a testes e fazer uso de perguntas - segundo sua pesquisa e argumentações - é ainda a melhor forma de aprender a longo prazo. Queremos formar indivíduos rasos, que aceitem e acatem sem questionar ou sem ter conhecimento?
Por outro lado, Epstein traz luz aos grandes questionamentos atuais com relação ao poder das máquinas: seremos superados pelos computadores? Se continuarmos abrindo mão de nossa humanidade… A criatividade, ainda é, segundo Epstein, a grande diferença. Apesar das gerações anteriores à geração digital, aqueles que como eu e talvez você (se tiver mais de 25 anos), ainda somos homo sapiens e não nascemos sabendo digitar. Já os alunos de hoje, os homo zappiens, também carregam o mesmo genoma onde o algoritmo da aprendizagem, este programa que está sendo rodado por centenas de milhares de anos, torna implícito um conhecimento inato, abstrato e que respeita as leis fundamentais da natureza, como pontua Stanislas Dehaene, que não está no livro (meu argumento).
Todos já nascemos com conhecimentos abstratos altamente flexíveis para desenvolver e criar soluções diversas para problemas complexos, o que uma máquina não faz. Ainda.
A obra vai trazendo seus argumentos, não de forma linear, mas contundentes de acordo com suas premissas, fazendo uso dos ensinamentos de Platão a Arturo Casadeval, de Darwin a Frances Hesselbein, de Van Gogh a Rachel Witeread (vencedora do Ig Nobel/Nobel para melhor produção artística do ano).
“Em um mundo perverso, confiar na experiência em apenas um domínio não é apenas limitador. Pode ser desastroso.”
As escolas não treinam pessoas para raciocinar ou pensar, e é isto que é necessário em um mundo perverso. Pior, “produzem” mentes rasas com bem mais certezas do que conhecimentos.
Seu raciocínio incentiva a descobrir primeiro quem você é para depois o que você deve ser; justifica a razão de ter uma ampla experiência inicial e uma tardia especialização, uma vez corroborados com a trajetória de muitos expoentes em suas áreas. Assim como foi a trajetória nada linear (vendedor, marchand, pregador religioso) e pouco previsível de um certo “mau” aluno, cujos professores diziam que não levava jeito para o desenho. Sim, Vincent Van Gogh, um dos artistas mais talentosos e reconhecidos da história teve uma ampla experiência inicial, muitas frustrações até chegar a maioridade e se encontrar como pintor, absolutamente notável.
Adriana Fóz | Educadora, palestrante, neuropsicóloga e autora de "Frustração" e "A Cura do Cérebro".
Marketing | Estratégista Digital | Marketing de Performance | Planejamento e Estratégia | Inteligência Artificial
11 mEstou fazendo a leitura desse livro e com certeza está sendo extremamente inovador para mim. Os dados e as argumentações são excelentes para o aprendizado e comprovação dos comportamentos citados no livro.