Pessoas do E-commerce Brasileiro: Marcio Waldman

Pessoas do E-commerce Brasileiro #2: Marcio Waldman  

No auge da minha arrogância profissional de alguém com 20 e poucos anos que estava ajudando a criar o mercado de comércio eletrônico brasileiro em 1999, achei que não tinha limites. Por ter participado da equipe fundadora do Submarino que comercializava praticamente de tudo, imaginei que conseguiria vender qualquer coisa pela internet. Era 1999.

Eu costumava falar: se eu vendo livros, posso vender fraldas de bebê, roupas, móveis, pneus, comida e pet. Pois não poderia estar mais enganado. Cada uma dessas categorias demanda experiência de vendas e operações diferentes. Nunca fui alguém com muita convivência com animais de estimação, por isso não fazia ideia das características do setor. Pude entender um pouco melhor por causa de uma pessoa: Marcio Waldman. 

Na época que nos conhecemos, era Dr. Marcio Waldman, veterinário que criou uma loja virtual de produtos para animais de estimação depois de ter conhecido a novidade nos EUA em 1997. Uma história muito parecida com o precursor Jack London, fundador da Booknet que mais tarde viria a ser comprada para virar o Submarino em 1999. Nossos primeiros contatos foram por grupos online de discussão focados em negócios digitais. Uma espécie de comunidade via e-mail. Ainda haviam poucos ecommerces naquele período, não foi difícil encontrar temas em comum.

Em dado momento, acabamos nos conhecendo pessoalmente. Devia ser 2000/2001. A empresa que nasceu como Petsupermarket já havia saído de uma estrutura pequena para um imóvel maior no Bairro da Casa Verde, Zona Norte de SP. A região sofria com inundações toda vez que chovia forte. Era um drama que mesmo quem já estava grande tinha, pois a maioria dos centros de distribuição ainda eram da cidade. Somente depois que começaram a migrar para hubs logísticos especializados em municípios vizinhos.

Enquanto o comércio eletrônico crescia exponencialmente, investidores começaram a olhar novamente com mais seriamente para o setor. A bolha de 2001 estava definitivamente ficando pra trás. Pouco tempo depois que a Netshoes levantou capital, o ecommerce do agora empreendedor full-time Marcio captava também.

Nos encontramos um tempo depois, para gravação do webcast semanal Man In the Arena. Criado por Miguel Cavalcanti e Leo Kuba , era basicamente uma entrevista semanal com empreendedores, executivos e investidores. O Miguel e o Leo chamavam o MitA de MBA pessoal. Entrei como sócio quando o programa já tinha quase 2 anos de existência. Entre os convidados que eu trouxe, estava Marcio.* Quando ele chegou para gravação, descobrimos que convidados o fundador do Petsupermarket mas veio o fundador da Petlove , a nova marca da empresa. Na entrevista, Marcio conta vários momentos interessantes do início da empresa, como por exemplo, quando decidiu fechar a clínica veterinária presencial para se dedicar somente ao online. Nesse momento, o faturamento mensal do negócio offline era de R$ 20.000.

Pouco tempo depois da gravação, tivemos diversas reuniões novamente. Agora era eu que estava entrando no segmento pet, com a 4vets. Por alguns instantes quase chegamos a nos tornar concorrentes mas a startup onde fui co-fundador junto com Bernardo Arrospide e Benjamin Lewis acabou virando uma plataforma b2b para vender para petshops e clínicas veterinárias.

O destino (e as oportunidades de negócios) nos levou a mais interações no futuro, sendo uma delas no outro lado do mundo. Numa viagem organizada pelo fundo de capital de risco monashees , investidor em comum da Petlove e da Baby.com.br, ecommerce de produtos de bebê onde fui co-fundador, fomos para China encontrar com startups, empreendedores e investidores locais. Dr Marcio já havia ido diversas vezes ao pais asiático mas seria a primeira vez com uma visão mais tech.

E é da China que a Petlove tem uma importante inspiração estratégica. Seja por coincidência ou de forma planejado, a empresa transformou-se num verdadeiro ecossistema pet. Atualmente já um grupo de empresas, conta no portfólio outros serviços como DogHero (marketplace de hospedagem para cachorros e gatos), VetSmart (plataforma para veterinários), Vetus (ERP para petshops), e outros. Entre os investidores, além de fundos, estão a seguradora Porto Seguro e o Grupo Globo.

Segundo o próprio empreendedor, a jóia da coroa do grupo atualmente é o plano de saúde Petlove resultante da fusão da Porto.pet e da NoFARO, hoje o maior plano do brasil com mais de 100k pets assegurados e uma rede credenciada de 2000 clínicas.

O grupo faturou R$ 800 milhões em 2021.** A clínica não existe mais. O Dr Waldman não atende mais por consultas mas continua amando animais e quer se tornar a empresa que consegue satisfazer todas as necessidades dos seus clientes pets e seus donos. Seja com produtos, serviços ou só dando muito carinho.

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Esta não é uma biografia e sim um breve relato sob a minha perspectiva. Não é uma entrevista, apesar que poderá até acontecer. E esse é exatamente o objetivo, retratar alguém de forma mais humana, a partir do meu recorte, além daquele espaço do testemunhal do Linkedin.

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Referências

* Marcio Waldman (PetLove) - Man in the Arena #043

** Petlove: como uma clínica veterinária virou um grupo que fatura R$ 800 milhões

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