Planejamento, design e eficiência dos espaços de saúde*
Design de serviço, design de mobiliário, design de arquitetura, design de engenharia, design de ambiente, tudo é design e tudo têm de estar alinhado com o plano de negócios do cliente, independentemente da área de atuação. E, para ser bem-sucedido, o projeto exige esforço multidisciplinar e empatia.
Em um hospital, por exemplo, a equipe de enfermagem, de facilities, de manutenção e gestores possuem rotinas distintas e, quanto mais elas forem detalhadas, mais o projeto arquitetônico será eficiente, isto é, será criado da melhor forma para atender às necessidades de cada um dos públicos-alvo.
Para ilustrar o conceito de design e eficiência, vale citar o case dr. consulta, rede de centros médicos inaugurada em 2011 com um modelo disruptivo de negócio.
Todos os tipos de exames em diversas unidades foram cronometrados para obter a média de atendimento e tempos de espera. Mapeamos a jornada do paciente e com todos esses dados foi possível dimensionar as salas de espera, otimizando espaço e melhorando a experiência ao usuário. Afinal ter muitas cadeiras vazias numa sala grande é tão incômodo quanto não ter lugar para se sentar.
Eficiência de design significa alcançar eficiência econômica e na prestação do serviço. No caso do dr. consulta – cuja proposta é oferecer bom serviço médico a baixo custo – torna-se fundamental controlar a proporção entre área produtiva, utilizada com exames e consultas, e as áreas de apoio, espera e circulação.
Aspecto tangível e intangível na humanização
Outro ponto importante é a humanização. Discutir humanização pode parecer sem sentido, visto que a arquitetura é feita por seres humanos para seres humanos, mas não é. Muitos espaços parecem ignorar isto. Chamo a atenção para dois aspectos de humanização dentro de um ambiente de saúde.
O primeiro é mais tangível, como a própria arquitetura. A pessoa consegue perceber se a temperatura e a iluminação estão agradáveis, se os móveis são confortáveis, se há espaço suficiente e se a comida é boa.
O segundo aspecto é intangível e se refere ao atendimento prestado pelos colaboradores. Muitas vezes eles têm de se antecipar à necessidade do cliente, entender o que ele está sentindo para oferecer soluções e improvisar além do treinamento. Mas eles só conseguem se o projeto proporcionar tudo o que se espera dele.
O colaborador só vai conseguir atender a essa demanda intangível se todas as tangíveis forem atendidas. O arquiteto, então, tem de criar um ambiente eficiente para que todos os atores desempenhem a sua função sem esforço. Como consequência, o atendimento se torna mais humano e faz toda a diferença, porque o paciente se sente cuidado, acolhido.
O espaço tem voz própria
O espaço tem voz própria. É preciso estar no comando das sensações e sentimentos que o espaço transmite. Não devemos nunca ignorar o enorme impacto que a arquitetura tem sobre nossas vidas e nossa saúde.
A função da arquitetura é estratégica para o negócio saúde, visto que tudo acontece dentro de um edifício. O arquiteto é um planejador e, quanto mais informações ele tiver, mais eficiente o projeto será. Conversando com todas as esferas e equipes ele vai conciliar design, sustentabilidade, identidade da empresa, tecnologia com a eficiência do negócio do cliente.
A eficiência também na identidade da marca e na experiência do cliente
Na rede de centros diagnósticos Fleury, após branding desenvolvido pela GAD Retail, ACR Arquitetura levou para o espaço e design dos móveis os conceitos do branding com efeitos de iluminação, escolha de materiais, linhas mais orgânicas e emprego de cores mais vibrantes. Além disso desenvolveu um caderno de padronização dos ambientes onde compilou todos os dados e o aprendizado ao longo dos anos. É a eficiência do design aliado à identidade de uma marca.
Outro case especial é o do Hospital Israelita Albert Einstein, sinônimo de excelência em todos os aspectos, o desafio foi melhorar a experiência do paciente padronizando as salas de espera.
A partir de premissas discutidas com o cliente, desenvolvemos a estratégia do projeto, conceituada a partir do significado de healing spaces, do conforto do paciente e dos valores da instituição, como sustentabilidade e desospitalização. Criamos elementos que podem ser aplicados em espaços diferentes com soluções diversas, resultando em ambientes com a mesma identidade e conectados pelos mesmos conceitos.
* Esse artigo foi desenvolvido a partir da palestra “Planejamento, design e eficiência dos espaços em saúde” apresentada por mim, em 21 de maio, primeiro dia da 26ª edição da feira Hospitalar, realizada em São Paulo.