Planejamento Estratégico sem rodeios: como a ViaNovva Agro virou o jogo

Planejamento Estratégico sem rodeios: como a ViaNovva Agro virou o jogo

Imagine uma empresa que, em todas as reuniões de início de ano, coloca a estratégia em pauta, mas o roteiro é sempre o mesmo: um planejamento simplista, cheio de ideias genéricas e metas que não tem compromisso com a realidade.

Nada de muito claro, nada de muito específico. As metas acabam sendo um conjunto de tópicos desconectados e, ao longo do ano, a empresa falha miseravelmente em criar rituais para garantir a execução efetiva do planejamento estratégico. Algumas metas se perdem; outras ficam na estante. Sò vão lembrar disso no final do ano.

Essa é a situação da ViaNovva Agro, uma empresa fictícia que enfrenta desafios em seu Planejamento Estratégico.

Qualquer semelhança com a realidade não é fruto do acaso

Fundada há 15 anos, a ViaNovva Agro nasceu como uma empresa familiar dedicada à produção e venda de insumos agrícolas. Com sede no Mato Grosso e foco no agronegócio, a empresa viu seu portfólio crescer, expandindo para produtos inovadores de biotecnologia e soluções sustentáveis para o manejo do solo.

Os gestores da ViaNovva Agro criam metas anualmente, mas sem um direcionamento claro ou um foco estratégico real. Planejam no papel, mas falta a peça central: o “porquê” de cada decisão e objetivo, o propósito por trás das metas.

A empresa é um exemplo típico do que acontece quando o planejamento estratégico é tratado como mera formalidade, sem se conectar de fato com a essência da empresa e as metas de negócio e das equipes.

O Contexto: Um Momento de Transição e Expansão

Com o crescimento acelerado, veio a necessidade de profissionalizar a gestão e adaptar a empresa para competir em novos mercados. Foi nessa fase que Lucas Pereira, um CEO com experiência em grandes multinacionais, foi contratado para liderar a ViaNovva Agro no lugar do fundador, que estabeleceu um conselho para a empresa.

Lucas entrou com a missão de transformar a cultura e preparar a empresa para um novo patamar de atuação, decidindo se iriam buscar fundos de investimento ou se seriam autosuficientes em fluxo de caixa, especialmente em um setor onde inovação e sustentabilidade passaram a ser não apenas um diferencial, mas uma exigência.

Porém, ao assumir o cargo, Lucas encontrou uma empresa com uma série de problemas enraizados. A ViaNovva Agro tinha uma cultura de gestão centralizadora, com práticas de RH bastante rudimentares, sem rituais de gestão de desempenho, feedback e acompanhamento.

A falta de um planejamento estratégico consistente e alinhado impactava não apenas os resultados, mas também a motivação e o engajamento das equipes. As metas “para cumprir tabela” eram frustrantes, e os colaboradores sentiam que o trabalho realizado no dia a dia não se conectava com o crescimento da empresa. Muitos profissionais talentosos passaram a buscar oportunidades em outras empresas, e a ViaNovva Agro enfrentava uma alta rotatividade de líderes, o que só aumentava os problemas.

Empresas como a LoongPong e a Nutridão estavam com estratégias altamente agressivas para roubar gente, pagando salários até 60% maiores que os da ViaNovva Agro.

Além disso, a cultura organizacional estava cada vez mais fragmentada. A ausência de um propósito claro e de um caminho a seguir tornava a organização uma maçaroca sem identidade própria, um fator preocupante, sabendo que seria preciso resgatar a confiança dos colaboradores e reposicionar a empresa.

Lucas percebeu que o desafio seria dos bons.

Construindo o Planejamento Estrategicamente

Para começar a mudar o cenário, a ViaNovva Agro contratou uma consultoria para rodar seu primeiro Planejamento Estratégico, de fato.

Kauê, um experiente consultor, foi destacado para rodar um workshop presencial de 2 dias na sede da empresa, reunindo toda a alta liderança. Após as conversas de briefing, Kauê decidiu usar 3 ferramentas para rodar o planejamento:

1 - Círculo Dourado

2 - Play to Win

3 - Matriz-X (Hoshin Kanri)

O Círculo Dourado

Um ponto-chave é entender o propósito – e é aqui que entra o Círculo Dourado, conceito desenvolvido por Simon Sinek.

Ele enfatiza a importância de começar pelo “porquê” (Why), seguido do “como” (How) e do “o que” (What).

Muitas empresas começam pelo “o que”, definindo metas e ações sem antes esclarecer o propósito, e na ViaNovva Agro não era diferente.

Com o Círculo Dourado, o exercício é começar pela razão de ser da empresa. No caso da ViaNovva Agro, esse exercício trouxe um ponto de partida: para onde queremos ir e por quê?

A discussão levou mais de 3 horas somente para chegar em frases objetivas para os 3 pontos do círculo. Kauê percebeu que os líderes tinham visões muito distintas sobre o real propósito da empresa e teve um belo desafio em fazer a facilitação.

Quando esse ponto começa a guiar o planejamento, há uma mudança nas intenções e nos resultados.

O propósito foi definido: a ViaNovva Agro estava comprometida em desenvolver soluções sustentáveis que ajudassem os agricultores a aumentar a produtividade de forma responsável e ambientalmente consciente.

“Play to Win”: Estratégia para Executar e Vencer

Outro passo essencial para consolidar uma estratégia é ter um plano de execução que vai além do básico – e é aqui que entra o conceito de Play to Win, do livro de A.G. Lafley e Roger L. Martin.

Este método diferencia as empresas que buscam vencer das que apenas “jogam para participar”. A ideia é que uma estratégia de sucesso depende de ter clareza sobre onde a empresa quer vencer e como ela pretende chegar lá. Para a ViaNovva Agro, esse conceito trouxe uma reflexão profunda sobre o mercado, os concorrentes e o valor único que a empresa poderia oferecer.

Dentro do Play to Win, existe também o conceito das Must Win Battles – as “batalhas essenciais” que uma empresa deve vencer para alcançar suas metas estratégicas.

Essas batalhas são áreas específicas onde a empresa precisa focar seus esforços para se destacar no mercado. Para a ViaNovva Agro, isso significou identificar quais aspectos de seu negócio precisavam de investimentos prioritários, como inovação no portfólio de produtos ou melhoria da experiência do cliente. Ao definir suas Must Win Battles, a empresa pôde direcionar seus recursos e energias para as áreas que realmente fariam a diferença em sua trajetória de crescimento.

Com essa abordagem, o planejamento passou a ser não apenas um roteiro, mas uma série de movimentos estratégicos que reforçam onde e como a ViaNovva Agro busca competir e vencer no mercado.

As Must Win Battles da empresa foram definidas com olhar de 3 anos, que já é considerado longo prazo, como explicado pelo Kauê a executivos incrédulos no workshop. Após muita discussão, chegaram nas seguintes batalhas:

  1. Inovação no Portfólio de Produtos: Desenvolver produtos sustentáveis e de alto impacto que atendessem às demandas dos novos clientes, em especial, pequenas e médias propriedades.
  2. Melhoria da Experiência do Cliente: Investir em atendimento de qualidade, com suporte técnico diferenciado e presença em campo para entender as reais necessidades dos agricultores.
  3. Expansão Geográfica: Entrar em novos estados e regiões onde a ViaNovva Agro ainda tinha pouca penetração, mas havia alto potencial de demanda.

Para cada MWB, foram definidos KPIs que medissem exatamente se a empresa atingiu ou não os resultados, para não cair na seara de desenhar frases bonitas e não executáveis.

Aprofundando a Execução com a Matriz-X (Hoshin Kanri)

Para garantir que o planejamento saísse do papel, Kauê introduziu e ajudou a construir a Matriz-X (Hoshin Kanri) como uma ferramenta central.

A Matriz-X permitiu que cada Must Win Battle fosse desdobrada em metas e ações específicas, com prazos, responsáveis e indicadores de desempenho bem definidos. Com a Matriz-X, cada líder sabia exatamente quais eram suas responsabilidades e os critérios para medir o progresso. Essa abordagem trouxe um nível de clareza e responsabilidade que a empresa nunca havia experimentado.

Além disso, após o workshop, Lucas implementou uma rotina de acompanhamento mensal, em que cada departamento apresentava resultados e ajustava as estratégias conforme necessário.

Esse processo contínuo de monitoramento e ajuste fez com que o planejamento estratégico deixasse de ser um evento anual e se tornasse parte da rotina da ViaNovva Agro.

Planejar não é simples, mas é essencial para melhores decisões

A ViaNovva Agro descobriu que o planejamento estratégico pode ser um ritual poderoso, desde que se vá além do papel. Utilizando o Círculo Dourado para estabelecer o propósito, o conceito de “Play to Win” para focar em áreas de excelência e a Matriz-X Hoshin Kanri para organizar e acompanhar os objetivos, o planejamento passou de uma formalidade a um verdadeiro guia para o crescimento.

Após avaliar os desafios e as oportunidades, Lucas decidiu que a ViaNovva Agro buscaria a autossuficiência financeira. Ele entendeu que, para consolidar a cultura interna e implementar mudanças de maneira sustentável, a empresa precisaria fortalecer seu fluxo de caixa antes de considerar qualquer dependência de investidores externos. Esse movimento exigiu disciplina e uma reestruturação focada em otimização de recursos, mas também garantiu uma autonomia estratégica para a ViaNovva seguir o próprio ritmo de crescimento.

Ao optar por essa abordagem, Lucas reforçou o compromisso com uma gestão robusta e uma visão de longo prazo, preparando a ViaNovva para se tornar um exemplo de inovação e resiliência no setor agro. A escolha pela autossuficiência não apenas fortaleceu a confiança das equipes, mas também construiu uma base sólida para enfrentar os concorrentes com mais competitividade e sustentabilidade.

Para empresas que ainda tratam o planejamento estratégico de maneira simplista, o desafio está lançado: se o plano não tem propósito, estratégia para vencer e ferramentas que o sustentem, o resultado será mais um ano patinando. Mas, com as ferramentas certas, qualquer negócio pode transformar o planejamento em uma vantagem competitiva real.

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Hilda Carvalho

RH Executive | Gestão da estratégia | Gestão de processos e projetos | Inovação e metodologias ágeis | Planejamento estratégico organizacional | Desenvolvimento Organizacional

1 m

Muitas grandes empresas do Agro ainda vivem essa realidade de falta de gestão, ineficiência estratégica e uma área de gestão de pessoas que não consegue fazer o básico. Porém, só é possível uma mudança dessa quando o há mudança na alta cúpula da gestão, enquanto o empresário não muda a cultura dele, o time luta e luta, mas não consegue resultados eficientes.

Marcia Medeiros

Consultora de RH | Especialista em RH Estratégico | Job Hunter | Carreira | RH

2 m

Muito informativo. Conteúdo claro e objetivo!

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