Plano de Atenção Primária à Saúde – Será a solução para o controle dos custos assistenciais?
Nos últimos anos o mercado de saúde suplementar enfrenta diversos desafios, como o aumento exponencial das despesas assistenciais, o envelhecimento da população, o aumento das doenças crônicas, os avanços na expansão do mercado e os progressos nos tratamentos médicos. A figura a seguir demonstra os principais:
Visando melhorar as suturas do sistema e, consequentemente, o relacionamento entre médicos, operadoras e beneficiários, é necessário buscar algumas medidas para o reequilíbrio do mercado de saúde suplementar.
Uma alternativa encontrada foi o cuidado preventivo com maior racionalidade de uso, a implementação do plano de Atenção Primária à Saúde – APS. Mas será que o modelo é a solução para a saúde suplementar ou trata-se apenas uma ferramenta paliativa de curto prazo?
Para compreender a real efetividade da APS é importante entender o seu conceito. De acordo com Starfield (2014), a APS pode ser entendida como o primeiro nível do sistema de serviço de saúde, o qual deve funcionar como porta de entrada preferencial do sistema com ações resolutivas sobre os problemas de saúde, articulando-se com os demais níveis de complexidade e formando uma rede integrada de serviços. Mas a implementação dessa ideia não será fácil, conforme muito bem observado pelo diretor de Desenvolvimento Setorial da ANS, Rodrigo Aguiar, que observou que estamos propondo a desconstrução de um modelo que vigora por décadas e que tem se mostrado ineficaz.
Atualmente o paciente começa o atendimento em uma instância de maior complexidade (hospital) e não encontra organização e linearidade no cuidado. Dessa forma, recebe uma assistência fragmentada e que acaba gerando também muitos desperdícios ao longo do sistema.
Com a implantação do APS, espera-se a ampliação do acesso dos beneficiários a médicos generalistas, a vinculação dos doentes crônicos a coordenadores de cuidado, a redução das idas desnecessárias a unidades de urgência e emergência, internações relacionadas a casos que podem ser resolvidos na atenção primária e a ampliação da proporção de usuários que fazem uso regular de um mesmo serviço de saúde. Abaixo figura que ilustra perfeitamente a diferença entre o modelo atual e da APS:
A implantação da APS passa por uma mudança de cultura de todos os envolvidos neste mercado (beneficiários, médicos e operadoras). Podemos destacar como maiores desafios os seguintes pontos:
● Mudança cultural (Médico e Paciente);
● Médico personalizado x Médico especialista;
● Resistência dos médicos à adesão de protocolos clínicos;
● Gerenciamento dos indicadores;
Alinhado a todos os fatores citados anteriormente, para que o modelo obtenha sucesso deverá buscar o equilíbrio e o alinhamento das expectativas de cada envolvido:
● Beneficiário: Garantia de Atendimento personalizado e qualificado, conciliado com menor custo
● Área comercial da Operadora: Planos com preços mais competitivos
● Operadora: Promoção à Saúde e Equilíbrio Sustentável tanto do Plano quanto da Operadora
Se não tiver um engajamento de todos, o objetivo pode não ser atingido, e consequentemente não terá um controle da carteira de beneficiários pertencentes a este plano, descaracterizando o plano de APS.
Os principais pilares para efetividade da APS são: Acesso, Longitudinalidade, Coordenação do Cuidado e integralidade com a articulação da rede, conforme demonstrado na figura a seguir:
Só haverá uma APS de verdade se todos os atributos estiverem desenvolvidos. Para uma precificação de sucesso, a Operadora precisa estabelecer metas claras relacionadas aos resultados que espera obter com o produto, como por exemplo redução do número de consultas em pronto socorro, redução do volume de exames (quando há demanda excessiva), resolutividade da primeira consulta, e demais objetivos, desde que a concepção do produto e a forma planejada para a implementação viabilizem o alcance das metas. Sua operadora está preparada para esse desafio?
Mais sobre os autores:
Rafael Esteves Miguel da Silva, atualmente coordenador atuarial e atua no mercado de Saúde Suplementar a 10 anos. Graduado em Ciências Atuariais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tem MBA em Gestão de Plano de Saúde. Faz parte da Comissão de Saúde do Instituto Brasileiro de Atuária – IBA. Além disso, tem a Certificação Atuarial no Segmento de Saúde Suplementar e Saúde Social.
André Vinicius Alves, especialista em planejamento estratégico e inteligência de mercado. Atua no mercado de Saúde Suplementar a 5 anos e já trabalhou no mercado Segurador e Construção Civil. Graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MG) e capacitado em inteligência competitiva pela Mentor Consulting.
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