Plano de Negócios e Gestão da Petrobras

Plano de Negócios e Gestão da Petrobras

Mais uma vez, a Petrobras mostra que está retomando o pragmatismo empresarial em sua gestão. Ao anunciar o seu plano de investimento, ela deixou clara a mensagem que quer passar: prometer apenas o que pode cumprir, gastar apenas aquilo com que pode arcar e focar nos negócios que vão trazer mais retorno, preterindo alguns e até mesmo se desfazendo de outros. Simples, mas eficaz.

A verdade é que a Petrobras não pode mais se dar ao luxo de quebrar suas promessas e comprometer ainda mais a sua credibilidade. E não estou falando só de investidores; isso inclui também a cadeia de fornecedores, pois mais importante do que o volume de investimentos é a assertividade do plano, de forma que os fornecedores também possam ter mais segurança ao planejar seus investimentos ao longo de toda a cadeia produtiva.

Portanto, por mais que seja dolorosa essa redução dos investimentos por parte da Petrobras (pois afeta uma enorme cadeia de fornecedores e milhares de empregos), ela é a coisa certa a se fazer, olhando do ponto de vista da empresa. É o pragmatismo se sobrepondo, de modo que a empresa dê foco no futuro e àquilo que deve ser feito daqui para frente, ao invés de ficar apenas remoendo os problemas do passado e lamentando sobre como a empresa chegou na atual situação.

Mas dois pontos ainda me intrigam ao analisar mais a fundo esse plano de negócios da Petrobras.

O primeiro ponto está associado à nova curva de produção. Pelas minhas contas (grosseiras), a Petrobras estaria deixando de produzir, considerando o período do plano (2015-2019), aproximadamente 1,5 bilhões de barris de petróleo. Ou seja, esse petróleo todo ficaria lá embaixo da terra, sem ser extraído. Nesse caso, não seria mais vantajoso se o governo permitisse que alguém mais (outras empresas exploradoras, por exemplo) explorasse toda ou parte dessa reserva? Isso iria garantir mais produção, mais investimentos, mais empregos e até mesmo mais arrecadação para o próprio governo, seja através de royalties ou de uma parcela do óleo produzido como ocorre no sistema de partilha. Por mais que essa ideia seja objeto de uma acalorada discussão política e ideológica, não dá para deixar o pragmatismo de lado e simplesmente ignorar tamanha oportunidade como essa. Afinal, de que adianta o Petróleo ser nosso, se ele continuar embaixo da terra?

O segundo ponto tem a ver mais especificamente com a distribuição dos investimentos destinados ao E&P, dos quais 86% serão destinados ao desenvolvimento da produção e apenas 11% para a exploração. Mais uma vez, a Petrobras dá sinais claros de que a prioridade é aumentar a produção de petróleo e fazer caixa. Mas aí cabe uma ressalva, que é justamente o ponto onde eu queria chegar. Uma vez que o trabalho de exploração é importante para a descoberta e desenvolvimento de novos campos, até que ponto essa estratégia de destinar poucos recursos para a área exploratória não comprometeria a produção da Petrobras no longo prazo? Sabemos que as reservas comprovadas até hoje possuem uma enorme quantidade de óleo; mas por outro lado os campos que já produzem não vão durar para sempre e possivelmente parte deles entrará em fase de declínio ao longo dos próximos anos, fazendo com que a Petrobras tenha que buscar e desenvolver outros novos. E com um orçamento baixo para a área de exploração, essa se torna uma tarefa ainda mais complicada.

A resposta não é simples e espero que essa não seja uma estratégia de “vender o futuro para pagar o presente”. Caberá à Petrobras, através de sua gestão e de seu competente corpo técnico, equilibrar esses pratos na balança, traçando assim os caminhos para a companhia de forma que ela possa colocar em ordem a sua operação no presente, mas sem comprometer a sua sustentabilidade no futuro. Torcida não vai faltar.

Rodrigo Cordeiro

Business Development Manager | Key Account Manager | Head of Sales

9 a

Bom artigo , a questäo é , mesmo com a redução significativa , se a Petrobras irá cumpir o plano .

Leandro Pacheco

Engenheiro Químico | Engenheiro de Processos | Gerente de Projetos| Gestor de Contratos | Planejamento de Projetos | Engenheiro de Desenvolvimento de Negócios | Engenheiro de Aplicação e Vendas | Professor

9 a

Belo artigo, Gildeon! Em relação à diminuição na curva de produção do PNG 2015-2019 se comparado ao anterior, acredito que o motivo principal tenha sido a queda no preço do barril de petróleo em relação ao que foi considerado pela gestão anterior da Petrobras. Sinceramente, fiquei receoso com o anúncio do Bendine como presidente da Petrobras, não só por mais uma vez ter sido indicado pelo governo corrupto, mas também pelas acusações feitas a ele na época do Banco do Brasil. Hoje, o perfil de um gestor com raízes na área financeira era o que a empresa precisava para voltar aos trilhos, recuperar a credibilidade dos brasileiros e dos investidores e retomar os investimentos, além de beneficiar as famílias brasileiras com o retorno dos empregos.

Perfeita colocação!

Raymond D.

Atualmente procurando um novo projeto.

9 a

JT:...Nem falar da ideia de" postear" no linked in em cualquer outra lingua que nao seja ingles, como se isto fosse um forum interno, e soh para quem fala portugues.Vergonha.

Raphael Lima (De Lima)

Innovation & Technology Strategy, Digital Transformation, Information Management, Systems.

9 a

Ótimo artigo!

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