Podemos trabalhar de tênis?

Podemos trabalhar de tênis?

Os mais antigos funcionários lembravam que fundador só vinha trabalhar de terno e gravata e valorizava a formalidade, tida como símbolo de profissionalismo.

A equipe de gestão da cultura, após analisar o diagnóstico de traços culturais, defendeu a ideia de que era estratégico tornar o ambiente mais leve e descontraído, atrairia profissionais das novas gerações e contribuiria para uma boa "employee experience".

Então iniciou-se a implementação de uma mudança: tornar a empresa, de origem familiar e postura conservadora um pouco menos sisuda e mais descontraída, mais informal.

Como se muda uma cultura? A partir de pessoas de poder e influência dando o exemplo das novas posturas; modificando ou criando novos ritos ou rituais, alterando os símbolos que representavam a cultura anterior, cultivando novas histórias, ajustando o sistema de pesos e recompensas para reforçar (e não detonar) os comportamentos desejados.

Mas a teoria na prática é outra. O RH fez um comunicado a todos os funcionários, informando que, a partir daquela data, qualquer funcionário poderia vir trabalhar de tênis, todos os dias. Poderiam vir também com roupas mais casuais na 6ª feira desde que não tivessem encontro com clientes (esse ponto disseram que veio da diretoria).

No dia seguinte ao comunicado, apenas uma das pessoas veio de tênis. As pessoas não sabiam a certo se essa pessoa era corajosa ou ingênua.

Nas semanas que se passaram observou-se que nenhuma alma viva veio de tênis além de uma. O comentário de corredor era “bom, a Camila é da área de inovação, então ela pode”, racionalizando uma justificativa e reforçando o traço cultural de submissão e obediência, já enraizado há anos.

Foi então, quando um diretor todo-poderoso declarou abertamente que era para todos virem de tênis. Isso fez com que as pessoas começassem a tomar a iniciativa de vir com essa peça do vestuário anteriormente mal-vista na organização.

Pergunto: a determinação imposta pelo diretor simbolizou o começo de uma cultura mais descontraída ou recaiu em uma prova clara de que a cultura da hierarquia é a que ainda prevalecia? Resposta óbvia. Mais adiante, com a implementação de outras mudanças de traços culturais que enfraqueceram o ranço cultural autocrático, esse diretor acabou se demitindo da empresa.

Voltando ao uso ou não do tênis, quando os que acataram a imposição do diretor começaram aos poucos a esquecer o tal comando, os outros diretores foram por um caminho diferente - se uniram e resolveram a dar o exemplo, sendo vistos vestindo tênis com a logo da empresa e fazendo comentários positivos quando viam pessoas utilizando tal calçado, com ou sem a logo.


Foi a partir de então que a nova cultura começou a “pegar”, sustentada inicialmente pela alta gestão de depois "contagiando" as pessoas até um ponto em que virou costume - tanto que, meses depois, nem se comentava mais sobre o tema.

Essa história é ficcional criada por mim – inspirada por histórias reais.

Ao ler, o que isso despertou em você?

Sou Dante Mantovani, apaixonado por desenvolver lideranças e organizações.


Alexandre Siegmann

Gestor em Saúde | Liderança e Gestão de Pessoas | Talento Sênior | CNV

9 m

Dante Mantovani (ele) Trabalhei em uma instituição tradicional, onde a cultura era rígida. Não estava escrito, mas os homens não podiam sustentar barba, cavanhaque, principalmente se quisessem crescer naquele local. Uma vez um rapaz do suporte de TI foi fazer um atendimento na diretoria e ele tinha uma barba fininha, quando ele retornou ao setor, o meu chefe o aguardava com um barbeador descartável, dizendo que se ele quisesse continuar que fizesse a barba imediatamente. Outra situação foi um rapaz com barba, que tinha um cargo de liderança, foi a uma reunião de diretoria, ao voltar recebeu um conselho, se quiser crescer ainda mais na empresa é melhor não usar barba. Isso acontece há muitos anos fico imaginando como é hoje com tanta gente barbuda por aí. Como vc sempre diz a liderança pelo exemplo, é uma caminho importante para a mudança de cultura, lembrando a Brené Brown, que é necessário diminuir a lacuna entre o que se espera e o que se faz.

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