A Política é o Mar. A Eleição é a Onda. O Candidato é o Surfista.
Anos atrás li um artigo do publicitário e professor Cid Pacheco, um dos precursores do Marketing Político no Brasil, em que ele contava a história de um surfista de Belo Horizonte (cidade sem praias) e seu encontro com o mar, traçando o paralelo entre o desafio de aprender a surfar numa piscina para depois confrontar-se com a realidade do oceano e a relação entre o profissional de marketing e o tão temido e, ao mesmo tempo, venerado mercado.
Ao ler o texto, imediatamente fiz minha própria analogia, desta vez traçando o paralelo entre o mar e os candidatos e adicionando um terceiro elemento: a onda.
No artigo do professor Cid, ele defende que "Ao contrário da piscina, o mar não é um ambiente inerte, onde só a vontade do nadador prevalece. No mar, a vontade do surfista ajusta-se à 'vontade' e ao poder das ondas. Por isso ambos 'descem' sempre juntos — o surfista e a onda, em harmoniosa sinergia."
É nessa palavra SINERGIA que eu acredito que está o segredo de tudo, quando ela se refere a esforços simultâneos, cooperação, coesão, ação associada para que o resultado seja a execução de um movimento orgânico.
É isso!
Está aí a fórmula de uma campanha eleitoral de sucesso! Foi o que pensei.
O ambiente político é o mar. Ele contém em si uma infinidade de elementos que influi diretamente ou indiretamente na vida de todos nós. No mar estão, ao mesmo tempo, as ideologias fundamentais das principais correntes políticas e os atos administrativos que aumentam ou diminuem a inflação; as ações de movimentos sociais que moldaram a construção de narrativas históricas e a lei que institui o dia nacional de alguma coisa sem importância para a maioria das pessoas.
Ou seja, o mar tem o mais importante e o sem importância nenhuma. A baleia e o organismo microscópico. O poderoso tubarão e o amigável golfinho.
E a onda?
A onda é a Campanha Eleitoral.
É um processo muito específico dentro da imensidão do mar, que tem começo, meio e fim bem definidos e que precisa de toda a atenção, energia e habilidades, além de muita antecipação, para que seja possível prever com o máximo de exatidão toda a dinâmica que envolve desde a sua formação, ainda distante do ponto em que está o surfista, até o momento em que se dissipa e chega calmamente à areia da praia.
E aí vem o surfista, que aqui podemos entender não apenas como uma pessoa e sim como um conjunto de elementos que vai formar o que podemos chamar de “produto eleitoral”, construído a partir da junção de diversos atores humanos, que incluem desde o próprio candidato e sua equipe até seus eleitores, e não humanos, que são as estratégias, técnicas e ferramentas utilizadas.
Fazendo mais uma analogia, dentro da analogia, surfista, habilidade e prancha podem ser definidos como candidato, estratégia e estrutura.
Um bom surfista não consegue surfar sem a habilidade construída através de anos e anos de aprendizado teórico – sim, surfistas fazem muitos cursos, sobre os mais diversos aspectos ligados à sua atividade! – e prático, muito treinamento e um número significativo de fracassos que, via de regra, ensinam muito mais que o sucesso.
Uma forma de tornar esse processo mais rápido e muito mais eficiente é buscar um mentor, que vai transferir de maneira sistemática e coordenada todo o seu próprio conhecimento e experiência, fazendo o surfista/candidato avançar de maneira muito mais célere e, sobretudo, muito mais eficiente.
Uma boa prancha pode até ser um diferencial, mas a gente sabe que quando os outros dois elementos têm qualidades acima da média e a onda é perfeita o bom surfista surfa até sem prancha, tornando-se ele próprio a estrutura que interage com a onda.
Na "onda" que foi a campanha de 2018 vimos muito disso...
Partindo dessa analogia, o que podemos aprender objetivamente sobre Estratégia e Marketing eleitoral?
Primeiro, que é impossível fazer uma campanha baseada em política.
Não apenas pelo fato de que não temos nenhum controle sobre ela e sequer conseguimos ver toda a sua amplitude, mas, principalmente, porque a grande maioria das pessoas simplesmente não está nem aí para a política, a não ser aqueles aspectos muito pontuais que tocam diretamente suas vidas.
Quando a gente entra no mar a gente não se preocupa com o oceano de uma maneira geral. A gente tá preocupado com a temperatura da água, se a corrente tá puxando a gente pra um lado ou pro outro, se não tem nenhuma criatura estranha passando perto de nós...
Basicamente a gente tá preocupado se aquele metro quadrado onde estamos é seguro, sem nenhuma preocupação com os outros milhões de quilômetros que formam a superfície dos oceanos, sem falar nas profundezas.
Segundo, que a gente precisa se preparar pra quando a onda vier.
Observe todo o processo de um surfista para pegar uma onda.
Ele observa com atenção o horizonte, tentando identificar quando se forma a melhor onda, depois ele se posiciona no local que acredita ser o lugar ideal para estar quando a onda chegar, sempre atento ao posicionamento dos outros surfistas, ou para evitar algum choque ou, no caso de surfistas inexperientes, para ver onde os outros estão e tentar descobrir um lugar ainda melhor.
Quando a onda vem chegando o surfista começa a remar pra conseguir a velocidade necessária para emparelhar.
Se ele ficar parado, a onda simplesmente passa por ele.
Se ele nadar devagar demais ele também perde a onda.
Se ele nadar muito rápido entra na onda no momento errado...
Já na onda, o surfista usa todas as informações de que dispõe naquele momento – tamanho da onda, velocidade, formato, direção da onda e do vento, posição dos concorrentes... – ao mesmo tempo em que põe em prática os conhecimentos adquiridos ao longo de toda sua vida, junto com a preparação para pegar onda naquela praia específica e ainda os ensinamentos recebidos de pessoas mais experientes.
Esse, aliás, é um ponto importantíssimo. A primeira coisa que um surfista faz quando chega numa praia onde nunca pegou onda é procurar alguém que conheça bem aquela praia e que possa lhe passar todas as informações necessárias sobre aquele pico.
Voltando ao surfista na onda, sua performance normalmente é dividida em três aspectos: performance, técnica e criatividade.
A busca por performance faz com que ele procure o tempo todo tirar o máximo possível daquela onda, adaptando-se permanente à onda e não tentando adaptá-la à sua vontade, que naquele momento é irrelevante.
No quesito técnica o surfista tenta demonstrar o máximo domínio dos fundamentos, executando uma sequência de movimentos e manobras que lhe darão a melhor pontuação possível naquela descida.
E finalmente, cumpridos os dois parâmetros mais importantes, a criatividade do surfista entra em cena pra tentar encaixar algo diferente, surpreendente, inédito e que o destaque de todos os outros, estabelecendo uma marca pessoal e maximizando os resultados de performance e técnica.
Você consegue traçar um paralelo entre essa relação do surfista com a onda e a relação de um candidato com o processo eleitoral?
Se sim, parabéns! Você entrou totalmente na nossa “vibe”! 🤟
Se não, não se preocupe. 😉
Cola aqui que a gente te ajuda. 🤜🤛
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5 aMuito bacana seu artigo Emerson Saraiva. Você conseguiu definir cada etapa de um eleição. Ano que vem estaremos nesse ambiente e se ninguém estiver preparado, tanto candidato quanto quem os atenderá, é capaz de tomar um caldo daqueles. Parabéns!