POLÍTICA - Peça Nova em Máquina Velha não gera Resultado Diferente, pois as engrenagens são as mesmas
Passadas duas semanas da posse presidencial, várias questões foram postas à mesa para a sociedade brasileira e a maioria delas circula apenas um problema: poderá o Presidente da República fazer algo de novo para reverter o quadro de destruição causado no Brasil ao longo das duas últimas décadas? O cenário aponta que vontade para isso existe, mas que dificilmente se conseguirá efetivamente resolver o problema que assola o país se não atuarem no ponto certo.
A razão está sintetizada no título deste artigo: não tem como surgir qualquer coisa nova se a política está sendo feita com base nos mesmos pressupostos estruturais do sistema político apodrecido que temos e nas mesmas engrenagens da política anterior, mesmo que haja indivíduos bem-intencionados e estes queiram voltar suas ações para a mudança. E aí, apesar disso, ou seja, apesar de haver bem-intencionados que queiram fazer a mudança, está surgindo uma deformidade, embora se acredite que esta não é intencional por parte do Presidente.
A questão é que os indivíduos bem-intencionados parecem se ver acompanhados de outros que estão pouco se lixando para o país, sendo eles tanto políticos, quanto empresários, consultores, lobistas em Brasília etc., e está se reproduzindo o erro que veio sendo cometido até agora, começando a criar a impressão para a sociedade de que estamos olhando uma imagem no espelho, na qual a diferença é que o que era um lado agora é outro, mas o reflexo que está sendo visto começa a indicar que acabará se mantendo o mesmo corpo em processo de putrefação, mas com uma possível nova maquiagem de embalsamamento.
Há algo que precisa ser entendido: se há o desejo de mudar o país, isto só poderá ser realizado com a modificação das instituições políticas (razão pela qual precisamos de uma reforma) e o fortalecimento daquelas instituições que existem e funcionam adequadamente, necessitando apenas de uma limpeza, mas limpeza correta e não por meio de um incêndio da própria máquina.
Por exemplo, muitas das máquinas administrativas são compostas por pessoas que apenas cumpriam suas funções em seus empregos e até detestavam os seus superiores, os quais foram colocados nos cargos por razões ideológicas, criminosas etc. Mas, o que esses empregados (servidores) poderiam fazer? Ficavam lá, cumprindo seus papéis e pedindo a Deus que o final de semana chegasse, pois, para piorar a situação, eram os verdadeiros carregadores do piano, e ganhavam menos do que se imagina, enquanto os soberbos estavam no comando sem nunca ficarem assoberbados de trabalho, já que isto era realizado pelos pequenos servos da gleba (realmente sempre foram isso e não servidores), que, curiosamente, também ocuparam os cargos por indicação daqueles que estavam no poder. Mas, há algo que só consegue entender quem já viu a maquina por dentro: quando os incompetentes, corruptos – o que quer que seja – assumiam as funções de mando nos seus gabinetes, vindos por indicação feita para dar empregos riquíssimos à tchurma – eles sabiam que nada iria funcionar a seu favor sem apresentar algum resultado mínimo, e para isso precisariam ter pelo menos um grupo de pessoas sérias para fazer corretamente o que deveria ser feito – ou seja, carregar o piano –, daí surgiam esses servos na ala de baixo, que deviam aos de cima os seus empregos, o favor da sua indicação para ocuparem uma função subalterna, mas não tinham relação direta com a baixaria dos seus superiores, e, acreditem, muitos desses superiores, ao longo do tempo, ficaram odiosos aos olhos dos subordinados. Porém, novamente, o que poderiam fazer estes últimos senão ficar esperando o final de semana para descansar e voltar na segunda-feira para a máquina de moer carne da qual faziam parte, mas que lhe garantia o ganha pão?
A limpeza tem de ser feita, mas para fortalecer as instituições e desideologizá-las e não para criar nobres, barões, condes, marqueses e duques, que acham que aquele lugar para onde agora foram comandar são os seus feudos, já que receberam a carta branca para fazer o que querem em prol da limpeza política.
Eu pergunto: não é exatamente isso o que foi feito até então? Não foi exatamente esta a postura que gerou tanta indignação na sociedade, ao ponto de se eleger alguém para mudar este estado de coisas, independentemente de ter ou não um programa de governo?! O que se queria era um comportamento novo e a formulação de um planejamento estratégico e não a ascensão de feiticeiros com o poder da palavra sobre a realidade (numa linguagem nossa, com o poder da caneta), criando algo ou deformando-a, mas sem ter a menor noção do que estão fazendo, ou, se tem, buscando apenas os seus interesses, acariciar os seus egos agora inflados, ou a cristalização dos seus delírios.
Já que se brinca de magia, vou falar de uma distinção que certa vez ouvi de um indivíduo que tentava diferenciar as coisas neste meio mágico a partir da observação dos comportamentos daqueles que se dizem poderosos conhecedores das forças do universo. Se o que ele falou é real para os místicos eu não sei, mas, logicamente, serve para observarmos o que ocorreu e ocorre no Brasil, permitindo uma análise a partir de tipologias. Segundo ele, há clara distinção entre Mago, Bruxo, Feiticeiro e algo que ele chamava de Magista.
O primeiro é alguém que conhece os segredos da realidade, do universo, e age em harmonia com as forças ancestrais. Sabe o que liga as coisas, tem prática, aprendeu estudando em escolas, passou por cargos, evoluindo e pesquisando na carreira, participou como observador, atuou auxiliando os superiores, e estudou muito, tanto as coisas, como os lugares e as experiências alheias para entender como se deve tomar as decisões, além de estudar as pessoas, bem como ter se dedicado muito a se autoconhecer, razão pela qual não são arrogantes. E porque conhece e sabe desses segredos, ele tem o hábito de estudar os ambientes e conhecer os indivíduos antes de tomar decisões, por isso têm capacidade de fazer previsões – na nossa linguagem, tem capacidade de construir cenários – com probabilidade de quase 100% de acerto, daí se dizer que fazem previsões. Estes são os caras! O problema hoje está em como identificá-los, já que todo tipo de entidades está cercando o novo governo. Mas arrisco dizer, sem citar todos os nomes, que há pelo menos cinco deles no atual governo, três militares e dois civis. Um dos civis, Sérgio Moro, está ocupando cargo importantíssimo e poderá ajudar a melhorar o país, mas o outro, que deveria ser o coordenador nos projetos, foi jogado para ministério menor. Que pena, mas é possível que no futuro percebam o que realmente lhe cabe. Não vou citar seu nome agora, como também não farei para os militares, para não desviar a atenção sobre o cerne deste artigo.
Os bruxos também conhecem dos segredos, mas eles o aprendem na prática e na observação, estudando o dia a dia. Por essa razão, sabem do que falam, mas seus acertos se reduzem muito, já que chegam a isto pelo método experimental próprio, arriscando deveras, embora com capacidade de suportar os resultados, afinal não gostam de chutar, e, antes de fazerem uma bobagem, olham a bobagem alheia, para evitar de se igualar aos que lhes antecederam.
Os feiticeiros, por sua vez, conhecem apenas as fórmulas mágicas, os passes, mas não tem o menor conhecimento das razões que geraram elas, nem viram os resultados em vários lugares, as vezes em nenhum deles, vivem da tentativa e do erro. Este é seu método! Se der errado, que se dane, vamos testar de novo até que dê certo. Em uma oportunidade, um conhecido me disse que aquela ministra da economia do ex-presidente Collor era uma feiticeira de nível muito baixo, pois leu a fórmula de que a inflação é a circulação de dinheiro sem lastro, logo, por isso, bastaria retirar o dinheiro excedente do mercado que a inflação acabaria, então que fosse feito o teste e..., ponto final. O resultado, todos viram! Espero que isto não esteja agora sendo feito dentro de ministérios. Já o Real foi uma obra de bruxos, observaram e analisaram antes de fazer algo com base numa relação entre as coisas, daí ter dado certo, embora houvesse possibilidade expressiva de fracasso. Em síntese, o feiticeiro é um ignorante que sabe apenas recitar as palavras mágicas. É claro que o bem gerado por gente assim só pode ser pelo acaso! Mas..., às vezes, acontece...!
Um problema a mais é que este conhecido que que citei, o qual tipificava os comportamentos dos metidos em magia, dizia que existe um outro tipo de pessoa, o Magista, que é um estudioso que observa as forças da natureza, estuda-as, mas nunca usou do que sabe, sabe dos passos mágicos, mas nunca usou das fórmulas, talvez porque acredite mais no percurso da natureza, porém, às vezes, isso se dá porque, como nunca fez nada além de ler, ele deve ter o receio de que essas fórmulas não funcionem realmente, mesmo porque, para funcionarem, elas podem ter uma contribuição que vai além do conhecimento livresco sobre as coisas e precisar de algo que esteja na habilidade pessoal daquele que a usa. Porque isso é um problema a mais? Por que, não raro, o Magista (este leitor e teórico por excelência), quando alçado por alguém para tomar decisões ou organizar ambientes, e se vê na condição de fazer passes e falar palavras mágicas, acaba mostrando que é apenas um feiticeiro, muito ilustrado, mas nada além de um feiticeiro, destruindo tudo a sua volta.
Um líder máximo não pode construir seu castelo e todo o reino com a suposta sabedoria de um Magista, pior, muitas vezes baseando-se num Magista que está longe do lugar que deve ser organizado, por isso não conhece concretamente o ambiente onde outros ficaram para lutar pela mudança, enquanto ele apenas proferia palavras ao vento e fundou uma escola de chacretes dançando sua música, apenas porque ele falava de forma muito erudita e gritava contra os que todos combatiam.
Nesta sopa que está sendo cozida, o que há de mais importante não está sendo visto. Deseja-se recuperar a economia? Excelente! Pela forma liberal? Mais excelente ainda! Mas, como isso poderá ser feito realmente, sem antes reconstruir ou reformar uma máquina, ou tendo de fazer isso usando dos mesmos utensílios de antes, ou achando que se pode organizar o maquinário que aí está impondo feiticeiros que jogam seus sortilégios ao chute ou se expressam por engrimanços? Estou escrevendo assim, porque agora é moda falar para ninguém entender, mas quis dizer que se expressam de forma ininteligível, ou seja, por engrimanços! Parece que falar dessa maneira também está cacifando para pessoas para cargos públicos.
Para nos angustiar mais ainda, a todos os que estão apostando na mudança, se está cometendo o mesmo erro do último governante: ao invés de ir no Busílis (idem acima, mas, para não ficar tão arrogante ao ponto de pleitear ser Ministro, o significado é: ao invés de ir no problema que gera os demais problemas, ou aquele que articula os outros problemas), se está indo no fato econômico como se ele tivesse sido gerado apenas pelo erro no modelo econômico!
A economia apodreceu porque, além de ter sido degenerada pelo modelo desenvolvimentista adotado, que é falido, e a consequente irresponsabilidade fiscal flagrante, também foi discutida e gerenciada por indivíduos incompetentes que chegaram a estes postos sendo indicados por meio de mecanismos geradores do pior nas decisões políticas brasileiras, e, para nossa infelicidade, pelos mesmos mecanismos que estão sendo usados neste momento, mas com a diferença de que se está indicando pessoas do, agora, outro lado.
O principal erro está no processo, pois ele gera o que há de pior, e, se este processo não for alterado, a única forma de combater os problemas será por imposição, e isto é uma das armadilhas que estão aprontando para o atual governo, querendo que ele fique marcado como o reprodutor dos erros anteriores, com a novidade de ter acoplado decisões arrogantes e autoritárias, necessárias quando não for possível seguir o processo contaminado que está diante de nós há 30 anos, além de estar se baseando em gurus que não detém respeito tão absoluto quanto se pensa por todos da direita, sendo muito questionados entre uma massa expressiva dos que apoiam o governo atual, uma massa que poderá se cansar e deixar o novo governante ao léu, pois o que se quer é acabar com o que existia e não mudar a cor da podridão.
Para ilustrar melhor e indo direto ao ponto, ficar numa guerra contínua sobre a Reforma da Previdência poderá ser uma perda de tempo gigantesca, além de desviar a atenção do problema principal, por mais uma vez. Isto foi feito pelo Presidente que acabou de sair, que precisava resolver o problema do fluxo de caixa governamental para iludir o povo, criando a sensação de que o país estava recuperado, tendo bastado tirar o PT do poder. Mas o PT apenas deu a esta máquina podre uma configuração industrial, pois, no cerne desta máquina já está o erro e ela nasceu antes de o PT chegar ao poder, nasceu em 1988. Além disso, o ex-Presidente que acabou de sair não queria mexer no sistema político atual, já que, sem este, pessoas como ele jamais poderiam ter voado tão alto.
Veja a perversidade do problema. Todos sabemos que o Congresso teve uma renovação em sua metade, mas o novo governo teve de negociar com o Congresso antigo certas decisões que tomaria neste momento, pois os novos parlamentares ainda não assumiram os cargos e os antigos, apenas para mostrar ao atual governante que ele vai perder muito no futuro e se desgastar bastante, já aprovaram coisas muito singelas que deixará o Presidente sem condições de garantir a responsabilidade fiscal que ele próprio defende, algo que só será possível fazê-lo, tentando ser responsável, se não cumprir suas promessas, ou se aprovar a reforma da previdência, a qual é essencial, devido ao teto de gastos públicos aprovado pelo ex-Presidente, que fez isso, sejamos sinceros, não porque quis melhorar o Brasil, mas porque desejava mostrar para investidores internacionais que o Brasil estava diferente e, por isso, estes poderiam mandar dinheiro para cá, e, se estes enviassem seus investimentos, ele conseguiria trazer ao povo a sensação de que é íntegro e teria sua ficha limpa, graças ao apoio popular obtido com os novos investimentos que vieram porque todo mundo entrou no conto de que, de então, todos os governantes no Brasil passaram a ser fiscalmente responsáveis, apenas porque o teto foi aprovado e a Previdência Reformada, e não pelo fato de que a estrutura política e o modelo econômico foi mudado. Acrescente-se que, curiosamente, por uma questão de moral, o proprio ex-Presidente, em momento algum teve a ousadia dignificante de anunciar que renunciaria a sua aposentadoria obtida aos quarenta e poucos anos de idade, mas queria que todos se aposentassem bem depois dos sessenta! Ufa!
O presidente Bolsonaro está nesta ciranda, e se vendo na situação de barganhar cargos, mesmo que esteja dizendo que não mais fará a negociação com os partidos fisiológicos para aprovar projetos!!!!! No entanto, não há como negar que está sendo obrigado a negociar, sim, até mesmo a Presidência da Câmara, pois tem medo de que, se não garantir o apoio do Presidente da Câmara, não conseguirá aprovar esta tal de Reforma da Previdência, que se tornou o mantra dos mantras para recuperar a economia.
Uma questão extra é que quando se negocia um cargo deste nível, além de outros similares, para garantir projetos dentro deste sistema político, você se vê obrigado a ceder outros cargos para mais indivíduos que já deveriam ter ido embora ou para a cadeia e acabam sendo alçados a posições interessantes e vou criar aqui uma ficção para ilustrar, por exemplo, tornando-se Gestor de Produção Energética na Fronteira! É quase dar um Marquesado para alguém. Não esqueçam que o Marquês é um conde que tem um Feudo na fronteira (Marco), daí Marquês. Deixando o feudalismo de lado e voltando à economia, bem como à Reforma da Previdência, ou eu estou enganado, ou todo mundo está virando socialista, pois tudo é visto como se só o Estado existisse e ele tivesse de aposentar todo mundo.
Quer mudar a economia e resolver a Previdência, sendo entendida de uma forma ampla e não apenas como aposentadoria? Desenvolva uma economia concorrencial; proteja o micro, o pequeno e o médio investidor, com um período de 3 anos com zero de imposto ao micro e pequeno para eles garantirem empregos; assegure a estes micro e pequenos, que geram quase 50% do emprego formal no país, empréstimos a juros iguais aos que se dava aos gigantes monopolistas; proteja a propriedade, dentre elas a intelectual; dê educação financeira ao povo; ensine-o a ser investidor e explique a ele como poupar para que tenha o seu colchão de aposentadoria quando desejar parar de trabalhar, independentemente da sua idade, ou independentemente da teta do Estado. Aí não se precisará de Previdência e, para o susto de todos, enfim, o Brasil será um país capitalista.
Mas para garantir a Reforma da Previdência, o Presidente está caindo em várias armadilhas e está colocando os militares em constrangimentos, sendo eles obrigados a se pronunciarem politicamente. Eis um erro que não pode cometer! As pessoas, quando votaram no atual mandatário e ouviram que os militares iam ser a base do governo, não o fizeram porque queriam as Forças Armadas na política, mas porque queriam aquilo que os militares têm de mais sagrado: uma conduta baseada na honra, na dignidade, na verdade e atuando com o sacrifício pessoal em prol do bem coletivo.
Não pediram militares negociando com políticos, pediram que os valores dos militares doravante norteassem as condutas e não que se colocasse as Forças Armadas na situação de risco de acabarem se contaminando com a imundície que estava antes e ainda continua, devido a sistema político atual, o qual é uma indústria de produzir bandidos. Não adianta dizer que o PT saiu e se resolveu o problema, pois a máquina continua a mesma e o PT apenas soube chafurdar melhor do que ninguém no chiqueiro, que ainda continua tendo a mesma arquitetura.
Colocar os militares nesta armadilha será o maior dos erros, pois poderá destruir a instituição que mais tem crédito na nossa sociedade, e tem a mídia tentando de tudo para destruí-la. Esta instituição ainda é uma esperança para o povo brasileiro, por favor, não acabe com isso!
Quando ocorreu a intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro, difamada por segmento da imprensa como “Intervenção militar no Rio de Janeiro”, ficou claro que as Forças Armadas poderiam estar caindo numa grande armadilha, e imediatamente me posicionei sobre isso em entrevistas e redes sociais.
Os militares cumpriram uma ordem dada por um Presidente da República que estava sob questionamentos, acusações de corrupção, suspeitas de formação de quadrilha e vários crimes, e pelo qual, indiscutivelmente, a grade maioria, senão a quase totalidade têm aversão (não esqueçam do que o general Mourão declarou à imprensa sobre o desconforto em relação a esta personalidade), mas cumpriram a ordem por uma razão simples: respeitam a Constituição, que determina que o Chefe Supremo das Forças Armadas é o Presidente da República e este pode convocá-las para a Garantia da Lei e da Ordem. Ponto Final!
Engoliram o chamado atabalhoado e imediatista de um indivíduo que queria um ato político estrondoso para desviar a atenção sobre o fato de que não tinha força, credibilidade e respeito do povo e de líderes sociais e políticos para aprovar seus projetos, especialmente a tal Reforma da Previdência. Este aproveitou a desgraça que se abate no Rio de Janeiro, fruto de décadas de erros coletivos, tanto dos administradores, por incompetência e desonestidade, quanto dos formadores de opinião, por interesses pessoais, bem como do povo, por escolher o que há de pior na sua sociedade para governá-la e estar preocupado apenas em respostas imediatas e por brincar com algo sobre o qual não se brinca: a política.
Mas, os militares engoliram a ordem e foram ao cumprimento da missão. A armadilha em que caíram, e poderia ter sido uma desgraça para a Instituição se o resultado eleitoral de 2018 tivesse sido outro, foi achar que os valores, procedimentos e capacidade dos militares poderiam ser suficientes para resolver o problema da segurança pública naquele estado, bastando, para tanto, que tivessem autonomia para tratar deste segmento das políticas públicas.
O problema é que a segurança pública do governo do Rio é apenas uma das políticas públicas, conectada com as demais, como se dá em qualquer governo, e, obviamente, quando se viu a rede criminosa montada por Sérgio Cabral, não tem como imaginar que a podrura estaria apenas na segurança, como se houvesse um detector de personalidades que dissesse: huummm... este indivíduo tem tendência para ser vagabundo, vai dirigir ou trabalhar na segurança pública; este... não, então vai para a infraestrutura, ou saúde, ou educação e aí não houvesse sujeira.
Além de ser uma ingenuidade pensar que atuando com autonomia no setor da segurança, apesar de isolado dos demais setores, se resolveria o problema com a intervenção, esqueceu-se que a vagabundagem, o roubo e a falta de caráter seguem o cheiro do dinheiro e todos os outros segmentos das políticas públicas detém verbas gigantescas e, obviamente, quando se chega à situação em que o Rio de Janeiro chegou, isso indica que as ações criminosas de todas as áreas existem porque o governo é dirigido e os segmentos são coordenados ou por um completo incompetente, ou por um poderoso chefão, e este chefão dificilmente estará em outro lugar que não seja no maior dos cargos, diretamente, ou por meio de um representante seu, que, por isso, também é um criminoso.
Mas, a armadilha ainda estava no fato de que a segurança envolve variados mecanismos para que possa ser operada, dentre eles a Inteligência. Se houvesse um mínimo de capacidade e autonomia de Inteligência para os interventores, claro seria que, ou se descobriria que a própria seção de informação está do lado do crime (obrigando a trazer uma nova seção, inteira, de outro lugar), ou se chegaria a ver a capilaridade da corrupção claramente, bem como que ela está ao seu lado, sendo obrigados os interventores a tomar uma decisão e, caso não o fizessem, estariam prevaricando, senão pactuando, ou o que quer que seja.
Em síntese a armadilha foi acreditar que cumpririam a missão, bastando a honestidade das Forças Armadas. Para ilustrar melhor, é claro que alguém que foi secretário e vice-governador do poderoso chefão também tinha de ser um capo menor, tanto que se confirmou depois, mas ninguém na sociedade brasileira, quando o Pezão foi preso, viu que esta conclusão veio dos interventores das Forças Armadas e ficou para o povo apenas a certeza da demora para mostrar algo logicamente tão óbvio. Como me falou um amigo piadista muito debochado: “não era possível que os interventores, tendo toda a estrutura de segurança em suas mãos, se é que tiveram, não vissem ou demorassem tanto tempo para ver que alguém com pé tão grande (Pezão) também tinha de ser mão-grande!! As vezes o deboche é a mais profunda das análises lógicas, políticas e metafísicas!
Onde está a armadilha?! Se viram isso e não denunciaram cometeram erro e a imprensa estava de olho para colocar os militares na mesma sopa, ou dizê-lo incompetentes. Se o outro candidato tivesse vencido a eleição de outubro, tenho pena do que fariam com os nossos militares! Tendo este exemplo, não se pode, agora, com situação mais favorável, cometer este risco com as Forças Armadas levando-as a se misturar no chiqueiro que é o atual sistema político brasileiro.
A questão está numa única situação: é necessária uma reforma política. Não dá para pensar em construir o futuro e refazer a economia tendo de negociar no Congresso com indivíduos medíocres, mal-intencionados, egoístas e egocentrados, além dos sujos e seus grupos amplos, fortes e com capilaridade, claro. Podemos fazê-la por uma Constituinte Revisional Exclusiva para a Reforma Política, que trate também de uma reforma do Estado! Já citei isso em outro artigo, e mencionei a tese do ex-secretário da habitação do Rio Grande do Sul, Armênio dos Santos, que a defendeu em Dissertação de Mestrado, e me comprometo a, em muito breve, colocar um artigo ou entrevista com ele sobre a questão.
Por exemplo, temos de mudar a maneira de indicação dos Ministros do Supremo, a forma de sabatiná-los, o tempo de permanência desses nobres que cada vez mais desenobrecem a própria instituição com atos que os analistas no mundo inteiro, quando olham, perguntam se aquilo foi uma “piada em português”, debochando dos brasileiros, e quase perguntado também como podem os brasileiros serem tão deselegantes com os seus irmãos de Portugal, fazendo as ditas “piadas de português”, em que os atos estúpidos são falados como típicos desse povo, e não olham para o próprio umbigo e não questionam a inteligência dos atos de seus líderes. Ressalto ainda que discordo plenamente da expressão “piada de português”, pois, como descendente também de portugueses, vendo a beleza daquele povo e de sua cultura, e olhando os nossos governantes, muitos descendentes de outros povos, fica difícil alguém necessitar atravessar o Oceano Atlântico para testemunhar tanta burrice. Dizem que tais mudanças podem ser feitas pelo Congresso, sem reforma política.
Uhum! Papai Noel também me disse isso numa cartinha dentro da minha meia! Quem acredita nisso acha que não deve haver ninguém dançando nas pontes entre os três poderes fazendo de tudo para que tudo permaneça como está.
Temos de mudar a relação entre os poderes, pois, a forma como está ou paralisa o governo, ou o corrompe! Além disso, não esqueçam dos dançarinos transitando nas pontes, e eles nem precisam ser autoridades, muitos se dizem meros consultores!
Temos de mudar a forma de escolher os representantes executivos, a forma de elegê-los. Ah, mas assim é feito nos EUA! Quem fala isso que se mude para lá! Nós somos brasileiros e temos nossas idiossincrasias, bem como nossas formas de relacionamento humano. Há uma base comum que pode ser observada e usada, mas a estrutura tem de ser gerada com base no nosso fator histórico e na nossa cultura. Claro que podemos errar e esta loucura chamada Presidencialismo de Coalizão é um exemplo.
Este sistema de presidencialismo que aí está tem de mudar, pois ele fomenta este tipo de parlamentar de baixo nível, ou leva para o Congresso prioritariamente este padrão de pessoa. Por isso, ao invés de se debater para aprovar reformas que deveriam estar num segundo momento, o esforço precisa ser deslocado para a reforma política, pois de nada adiantará ficar dando murro em ponta de faca, acreditando que o novo Congresso será diferente.
Os novos parlamentares ficarão perdidos, ou descobrirão que não tem o que fazer, ademais, dificilmente alguém irá querer reformar um sistema cujas regras lhes permitiram chegar aonde estão e, no caso desta renovação atual que ocorreu, ela se deu por uma condição especial: os eleitores votarem em gente nova por que esgotaram a paciência, apenas por isso!
Por sorte, a situação estava tão escancarada que muitos votaram em candidatos para impedir que outros permanecessem no poder, ou para que fosse para lá gente que gosta de brigar contra aquilo que nós mais desprezamos, algo que ficou corporificado em um partido, que, embora os seus partidários não admitam, a cada dia mais se autodestrói. Mas vários continuaram, há outros partidos da mesma natureza e o Nordeste se esmerou em mantê-los. Não ficaremos surpreendidos se, em breve, uma frente de governantes em formação de combate surja boicotando por dentro as instituições nacionais e enfrentando por fora as tentativas de mudança, usando da legislação que aí está, a qual tem de ser mudada, pois ela é tão incongruente que é capaz de permitir que um único homem, se dizendo o porta voz da pureza humana, coloque na rua 170.000 marginais, talvez apenas para soltar um amigo seu, ou a pedido de alguém para quem deve favores.
O Problema é que esta máquina que aí está tem todos os instrumentos para fazer surgir outros partidos de igual teor, mesma conduta, comportamento semelhante e moral de mesma baixeza, e dificilmente permitirá que algo novo surja, e a mudança será necessária, pois, como diz uma internacionalista que estuda a política brasileira, Daniela Alves:
“ uma maquina nova obrigará a que os parlamentares se adaptem naturalmente a forma modificada de atuar, ou naturalmente serão excluídos, sem a necessidade de qualquer esforço externo, ou muito sofrimento da sociedade. Ela automaticamente selecionará as peças que cabem nela”.
Em síntese, o atual governo tem de fazer com o que a reforma política seja uma prioridade, número um, senão um Mito, que teve tudo para se tornar uma Lenda, acabará sendo apenas uma fábula moral para ensinar as novas gerações de que não se deve cometer o mesmo erro de alguém que preferiu ficar dando murro em ponta de faca, e entrou para os livros de história por isso, juntamente com reforma Política que nunca veio, exatamente porque ignorou aquilo que está no título deste artigo:
PEÇA NOVA EM MÁQUINA VELHA NÃO GERA RESULTADO DIFERENTE, POIS AS ENGRENAGENS SÃO AS MESMAS!