A Ponte Azul: Como Enfrentei o Medo e Refiz Meu Caminho

A Ponte Azul: Como Enfrentei o Medo e Refiz Meu Caminho


Ontem, enquanto refletia sobre minha vida, me dei conta de que meu primeiro trabalho aconteceu há 30 anos – sim, trinta anos! Parece que foi ontem, uma memória tão vívida na minha mente.

Eu tinha acabado de completar 18 anos e estava terminando o segundo ano de um curso técnico em Química. Como toda jovem da minha idade, adorava sair, comprar roupas novas, tênis... a vida parecia ter uma infinidade de possibilidades! Mas minha mãe, com a sabedoria de quem já passou por tantas coisas, me disse: “Se você quer fazer tudo isso, vai ter que trabalhar. Agora você é adulta, não tenho mais obrigação de te sustentar.”

Eu, claro, entrei em pânico. O que eu faria? Como poderia trabalhar? Meu curso era em período integral, com aulas tanto de manhã quanto à tarde, e eu não estava disposta a largá-lo – ele era tudo para mim naquele momento.

Foi quando minha mãe, com a firmeza de quem sabe que a vida real exige escolhas difíceis, decidiu que eu iria morar com meu pai. Naquela época, ele estava no Japão trabalhando, e a ideia era que eu fosse para lá e, quem sabe, arrumasse um emprego.

Foi um baque. Eu não queria deixar o curso, mas o que eu poderia fazer? Com o coração apertado, tranquei minha matrícula e embarquei para o Japão, em minha primeira viagem de avião. E não era só a viagem que me assustava, era o fato de que eu estaria indo para o outro lado do mundo, sozinha – meu Deus, que medo! O voo foi longo e teve escala em Los Angeles, até que finalmente cheguei ao aeroporto de Nagoya.

Ali, porém, tive uma sorte imensa. Meu pai estava me esperando. Eu não conseguia acreditar que aquela era a minha nova realidade. De Nagoya, fomos para nossa casa em Iwata, e quando pensei que ia descansar, meu pai já tinha um emprego esperando por mim. Ele trabalhava na mesma fábrica, mas nosso turno seria diferente: ele à noite e eu durante o dia.

Mal consegui descansar. No dia seguinte, acordei cedo para o meu primeiro dia de trabalho. Meu pai me acompanhou até a fábrica, para me mostrar o caminho. Eu teria que ir de bicicleta, e ele me orientou a marcar bem os pontos de referência. A nossa casa era afastada, em uma rua estreita que dava em uma rodovia – a famosa 150.

Passando pela rodovia, tinha uma casa com um pequeno mercado ao lado, com meio muro de pedras. Depois disso, era seguir em direção a Hamamatsu, atravessar uma enorme ponte azul próxima ao mar. O vento cortante fazia meu corpo tremer de frio. Quando passava a ponte, precisava fazer um retorno pequeno, passar por baixo da ponte e seguir pela estrada que beirava o rio até chegar à fábrica Suzuroku.

Cheguei lá completamente congelada, o corpo rígido pelo frio e a mente cheia de incertezas. Mal sabia o que me esperava. Meu pai me apresentou ao sasho (supervisor) e ao cacho (chefe de seção), mas eu não entendia nada de japonês. Não falava, não escrevia. Minha única orientação foi: não diga "Hi" se não entender, pergunte de novo se tiver dúvida. E lembre-se, nos primeiros dias, é normal não saber de nada. Depois, meu pai me deixou lá e foi embora, dizendo para eu voltar para casa quando terminasse.

Por sorte, havia uma brasileira trabalhando comigo, e ela foi minha salvadora. Mas isso é uma história para outro dia.

O fim do meu primeiro dia foi um misto de cansaço e desconforto. Com frio, fome e exausta, peguei a bicicleta para voltar para casa. Segui pelo rio, passei pela ponte azul e, depois, continuei pedalando... e pedalando... até perceber que estava perdida. O que parecia uma simples rota se transformou em um labirinto. A rodovia 150 estava cheia de mercadinhos com máquinas de bebidas e cigarros, tudo muito parecido. E, de repente, eu não sabia mais onde estava.

Parada no meio da estrada, entrei em pânico. Orei, chorei e rezei mais uma vez. Mas, o que eu faria? Como poderia pedir ajuda se nem ao menos falava o idioma? Olhei ao redor, vi um posto policial à distância e pensei em ir lá, mas então me acalmei e decidi tentar voltar para a ponte azul.

Foi uma caminhada longa e assustadora. A cada pedalada, meu medo só aumentava, e já era noite. Eu estava longe de casa e, por um momento, me senti completamente sozinha. Mas ao chegar novamente à ponte azul, parei, respirei fundo, e decidi refazer o caminho com mais calma. Agora, fui mais atenta a cada detalhe. Fui devagar, controlando o medo, até que vi, do outro lado da rodovia, o meio muro de pedras e o mercadinho. Aquele era o meu ponto de referência, a luz no fim do túnel.

Segui pelo caminho estreito até encontrar o prédio vermelho, o meu lar naquele Japão distante, onde minha jornada começaria de verdade. Em 1994, aquele prédio se tornaria o meu refúgio, e eu, uma jovem que jamais imaginou que estaria tão longe de casa, começava a construir a vida que me aguardava.

Moral da História:

A vida é cheia de momentos desafiadores, e o medo, muitas vezes, é o primeiro obstáculo que enfrentamos. Mas, assim como eu precisei controlar o medo para encontrar o caminho de volta, nós todos precisamos aprender a "refazer o caminho" quando nos sentimos perdidos. Quando as dificuldades parecem insuperáveis, é importante lembrar que a chave para superá-las está em tomar o controle das nossas emoções e agir, mesmo que seja com passos pequenos e cuidadosos. O medo pode ser um guia, se soubermos ouvi-lo sem nos deixar dominar por ele. E, muitas vezes, os obstáculos que enfrentamos revelam forças em nós que nem sabíamos que existiam. O segredo é não desistir, refazer o caminho quando necessário, e confiar que cada passo, mesmo o mais incerto, nos aproxima de nossa vitória.

Alessandra Kimie Hiro

Gerente, Coordenadora e Supervisora de Processos • Especialista em Lean Six Sigma, Kaizen e KPIs • Habilidades em Excel e Dashboards • Foco em Eficiência Operacional no Vale do Paraíba/SP

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Às vezes, a vida nos leva por caminhos inesperados, e eu só consigo olhar para trás com uma imensa gratidão e orgulho dos meus pais. Minha mãe, com sua sabedoria e coragem, me ensinou desde cedo que a vida exige escolhas difíceis, mas que também nos oferece oportunidades para crescer. Meu pai, com seu amor e dedicação, foi meu guia e apoio, mesmo estando do outro lado do mundo. A força deles me ajudou a superar os medos mais profundos e a enfrentar os desafios que eu nunca imaginei que seria capaz de superar. Tenho tanto orgulho deles, por tudo o que me ensinaram e pelo exemplo de coragem e amor incondicional que me deram. 💖

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