Por que decidi ser mãe?
A resposta mais honesta é porque eu queria caber no modelo “família margarina”.
A decisão não acompanhava a vontade ― sensação que, na verdade, eu não tinha. Uma voz perspicaz soprava dia e noite no meu ouvido me dizendo que eu não tinha uma vida adequada ao padrão imposto pela sociedade. Não era uma mulher “direita”.
Um incômodo profundo tomava conta de mim. “A errada sou eu!” ― essa frase ecoava o tempo todo em minha mente. Você talvez esteja se perguntando: “mas quem estaria cobrando algo dela?!” As vozes da minha cabeça.
Conversei com o meu parceiro. Ele disse “já que você quer…”, segui com o plano de gerar uma vida. Ops! Tem histórico de gêmeos na família (ria de nervoso).
Eu planejei tudo: fiz vários exames para saber se eu poderia engravidar, apesar da idade (38 anos na época). Tudo certo. O obstetra me disse para eu interromper o anticoncepcional imediatamente, pois com certeza haveria demora na concepção. A decisão estava tomada, porém me faltava coragem. Levei alguns meses até parar. Parei; e a menstruação do ciclo seguinte não veio.
Decisão é uma coisa muito séria. Não tive oportunidade de titubear. Repensar. Desistir. Não passei pelo vale do “será que este mês vai rolar”. Comprei 2 testes de farmácia. Positivo. Era um domingo de sol, que arrancava o couro da gente de tão quente. Na programação, um churrasco incrível com muita cerveja e comida. Cheguei lá mentindo sobre o motivo de não poder beber.
No dia seguinte, corri pro consultório. O médico, incrédulo, pediu para eu atravessar a rua e ir ao laboratório fazer o Beta. “Não pode ser!”, ele dizia. Gravidez mais do que confirmada.
A sensação de caber no tal modelo de família feliz não veio como conto de fadas ― caso isso exista. Quase não tive enjoos. Eu já sabia que era menino, sempre soube. Sempre teve nome: Benjamin.
Em 2017, com apenas 27 semanas de gestação, Benjamin precisou vir ao mundo. Nossa, como eu me senti culpada pela antecipação repentina do parto! Mas não teve jeito. Fui acometida por uma doença rara típica da gravidez. Após duas semanas de internação, eu estava curada; no entanto o Ben ainda corria risco de vida.
Ele veio ao mundo com 700 gramas e 30 cm em meio à folia carnavalesca. Começou a luta pela sobrevivência na incubadora da UTI neonatal. Foram 84 dias angustiantes com algumas intercorrências, cirurgia de hérnia, a espera do peso mínimo de 2kg para a alta, nada de resguardo e muito aprendizado.
Como taurina raiz, eu comemorava as boas notícias do desenvolvimento dele tomando cappuccino e comendo pão de queijo no Rei do Mate situado dentro do hospital.
Há coisas que não têm explicação. Quando a enfermeira-chefe me informou o dia que o Benjamin teria alta, eu fiquei muito emocionada: 15 de maio. O segundo “nascimento” do meu primeiro e único filho foi no dia do meu aniversário de 39 anos.
A prematuridade extrema deu lugar a uma nova etapa de vida.
A “família margarina” nunca existiu aqui. Minha ficha caiu de forma meteórica entre idas e vindas do hospital. Sobrevivi no modo “este ano eu não morro” (viva, Belchior!).
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[corta para 2024]
Ben está no 2o ano. Reunião de 1o bimestre na escola. A professora era só elogios. Batida Perfeita no coração. Entusiasmo. Afinal, ele gabaritou todos os testes e provas do período. De to-das as matérias: 10, nota 10!
A primeira prova que eu olhei foi a de português, é claro. Questões distribuídas em 4 folhas sobre antônimos, sinônimos, gêneros textuais (carta e bilhete), dígrafos. Fiquei todarrepiada! Como pode ser ótimo em português e matemática ao mesmo tempo?! O meu menino me surpreende a cada fase de sua tenra existência.
Nas últimas semanas, ele tem olhado para mim demoradamente e depois diz: “você é a melhor mãe do mundo”. Eu agradeço. Sorrio. Ben massageia a minha linguagem do amor primária ― palavras de afirmação.
Mas, por dentro, penso: “ah, não sou, não”.
Por que não me considero suficientemente boa? Uma busca incessante por perfeição. Ora, já sou perfeita do jeito que sou. Falta um passo para aceitar o fato. Todo dia é um “faço o meu melhor” diferente. Maternidade real.
Benjamin e eu somos um milagre. Medicina e reza forte nos fizeram permanecer neste plano.
Termino esta narrativa complementando a resposta do título: zero arrependimento sobre a decisão de ser mãe. A impermanência da vida me regenera a cada solavanco de minha travessia. Todas as dores, percalços, felicidades e amor incondicional construíram quem sou hoje.
Há 7 anos, eu me amo mais a partir do amor que nutro pelo meu filho. Assim é; assim seja.
Maio é um mês que mexe comigo. Então eu quero oferecer uma condição especial para as mulheres que desejarem fazer a minha mentoria de escrita autêntica. A agenda está carinhosamente aberta. Mande uma mensagem para mim aqui.
Um abraço aconchegante.
Designer de jogos corporativos. Acredito no poder dos jogos como ferramenta de comunicação. Compartilho minhas descobertas sobre aprendizagem.
7 mProfunda e elegante🩵
Planejamento estratégico Marketing On e Off Line Phygital | Instructor Designer | Desenvolvedora de Autoridade Digital | Lançamento de infoproduto| Produtora de Conteúdo
7 mAcompanhei seu texto, senti suas emoções. Agradeço por ter compartilhado algo tão pessoal e lindo, Dalva Corrêa
Mentor de líderes e profissionais | Top Voice Desenvolvimento de Liderança | Mentor de carreira | Consultor de empresas em práticas atuais de gestão de pessoas | Educador Corporativo e Palestrante
7 mQue texto e história mais lindas, Dalva Corrêa! Obrigado por compartilhar com a gente!
Corretora de imóveis no estado do Ceará!
7 mAcredito, sinceramente, que a maternidade nos torna melhores. A gente aprende tanta coisa, dentre elas, enxergar o outro. As falhas que eles têm, as limitações, as necessidades…E ainda que falhemos, porque sim, a gente erra, nos doamos e tentamos ser nossa melhor versão. Ah! E é um caminho sem volta, viu!! Rsrsrs Pq o amor e o laço que construímos é infinito e além 😉Parabéns Dalva Corrêa por sua escolha!😍