Por que estamos demorando a ter as tais escolas do futuro no Brasil?
Todo início do ano é a mesma coisa, aquela correria dois pais para comprar os livros escolares. Ontem, estava acompanhando minha esposa nessa tarefa ingrata. Olhei para aquela quantidade de livros e me perguntei por qual motivo as escolas ainda não partiram para o mundo digital. Isso seria o mais lógico, pelo menos para mim. Os jovens hoje estão inseridos, quase imersos no mundo digital, seria natural para eles. Mas de onde vem a resistência? Tenho para mim que grande parte da resistência seja da geração que ainda está a frente destas instituições. São na sua grande maioria tradicionais e veem a tecnologia de uma forma diferente. Ainda não houve a quebra de paradigma necessária para criar o movimento. Mas é uma questão de tempo para que isso ocorra. Até mesmo em escolas de ensino superior, de MBA ainda possuem forte resistência em quebrar tais paradigmas. Hoje o problema não é mais quanto a não ter tecnologia. Existem várias que podem ser usadas para se ter o máximo de produtividade e absorção do conhecimento. Poderia ser uma questão de custo e o retorno de investimento. Mas vejo aí ainda o "querer fazer de fato". Opções existem e diversas onde os custos são acessíveis e poderiam ser absorvidos facilmente, quando confrontados com as vantagens e benefícios que trariam. É uma questão de querer fazer diferente.
Algumas Iniciativas
A Fundação Dom Cabral está se preparando com a inauguração da primeira sala-conceito Xperience, na unidade de Nova Lima (MG). Projetada pela Steelcase para promover a aprendizagem ativa, a sala voltada à educação executiva pode ser considerada um dos espaços de ensino "com maior número de itens com tecnologia embarcada em funcionamento nas Américas". Com quatro lousas interativas – onde o docente pode fazer anotações e o aluno salvar automaticamente em seu computador, com quatro lousas interativas – onde o docente pode fazer anotações e o aluno salvar automaticamente em seu computador, como se fosse um “print screen” – e oito mesas coletivas dispostas em x, cada qual preparada com sistema de microfone e projeção de vídeo embutidos, além de uma tela de LCD de 46’’ polegadas para receber dados de até seis notebook conectados em rede ao mesmo tempo. Posicionado no centro da sala, o professor pode compartilhar a informação dos grupos nas telas maiores, ou com alunos de outras salas conectadas via wifi, apenas com a ajuda de um tablet. O que cria um ambiente interativo, onde o conhecimento coletivo e individual circula de forma simples e instantânea.
O trabalho envolveu neurocientistas, psicólogos, ergonomistas, arquitetos, engenheiros e pedagogos durante um ano para chegar ao ambiente educacional ideal.
Orçado em cerca de US$ 2 milhões, o projeto agora serve de modelo para outros mercados, como França e Estados Unidos, e deverá ser replicado em outras salas e unidades da própria Fundação.
As tecnologias Vestíveis ("wearables")
Estamos vendo uma evolução fantástica das tecnologias vestíveis . Wearables, para citar os principais exemplos, são os headsets/oculus de realidade virtual, as roupas, as pulseiras e os relógios inteligentes (smartwatches), além de monitores de fitness e de frequência cardíaca. Estes dispositivos têm a proposta de permitir uma integração maior da tecnologia com o ser humano.
Vemos a Apple, Google e outras empresas correndo com novos desenvolvimentos, olhando para um mercado fabuloso. Por exemplo, em relação à saúde e fitness, estão sendo desenvolvidas soluções por empresas como Apple (HealthKit), Google (Google Fit), Samsung (Gear), Microsoft, Nike e Intel.
Os wearables usados na Educação
- Para conectar professores e alunos
Em algumas escolas e universidades, já existem sistemas e plataformas que ajudam conectar professores e alunos. Os wearables irão melhorar essa interação, permitindo que os alunos compartilhem perguntas entre si ou interajam com o professor de forma mais prática e mais rápida.
- No reconhecimento facial
É complicado para um professor, memorizar o nome de todos os alunos e isso pode tornar as relações um pouco “frias”, afinal, um aluno se sente mais acolhido e incluído, quando um professor lhe conhece, sabe o seu nome.
Os wearables irão ajudar no reconhecimento facial. Com um par de óculos e um aplicativo, um professor será capaz de saber o nome de cada aluno, só em olhar para ele.
Não importa se uma sala terá 20 ou 200 estudantes: o professor sempre saberá o nome de quem fizer uma pergunta e até mesmo visualizará um pequeno perfil e histórico daquele mesmo aluno.
- Com realidade virtual
A realidade virtual vai abrir portas em diversas áreas, especialmente a educação.
Os alunos poderão ter uma experiência muito mais vívida de conteúdos que estão sendo dados em sala de aula, o que tornará o aprendizado muito mais empolgante.
Por exemplo, numa aula de química, os alunos poderão testemunhar a colisão de elétrons, com um cientista real transmitindo os procedimentos aos alunos.
Com o óculos os alunos poderão passear virtualmente por museus, participarem de eventos históricos como se estivessem no local.
- Em treinamentos esportivos
Observar um time praticar um esporte e entender as táticas de jogo, não é o mesmo que seria se você estivesse “em campo” com os jogadores.
Usando a tecnologia da realidade virtual, um treinador pode mostrar uma técnica para seus alunos de forma muito mais real.
Os alunos irão ver exatamente o que o professor vê. Será mais fácil para eles recriarem os passes e os movimentos corretos, acelerando a aprendizagem e o alto desempenho nos esportes.
- Aplicativos de aprendizagem
Aplicativos para a aprendizagem não são novidade, mas a maneira como os wearables irão usá-los para ensinar os alunos, será a próxima grande revolução em sala de aula.
Um app como o Street Museum iOS, por exemplo, já permite que os alunos passeiem pelas ruas de Londres e vejam como lugares e pessoas eram no passado. Mas tudo ainda é muito rudimentar.
Há um conjunto infindável de aplicativos para a educação a ser repensado para funcionar em dispositivos vestíveis.
Falamos das tecnologias vestíveis e o que elas podem possibilitar de mudança e evolução no âmbito educacional, porém não podemos esquecer de outro assunto que deve ajudar e muito, a gamificação. Tenho para mim que está demorando muito para que seja adotado este conceito, afinal as gerações que estão aí já são gamificadas. Seria natural que as instituições educacionais se aproveitassem mais disso para que o conteúdo educacional pudesse ser mais absorvido. Mas ainda assim, vemos algumas iniciativas interessantes acontecendo, como é o caso de uma professora, em Americana, interior de SP. A professora de história sempre quis fazer algo diferente nas suas aulas.
Observando o interesse dos alunos por jogos, ela percebeu que eles tinham um fundamento histórico que poderia ser explorado em sala de aula de uma forma diferenciada, incentivando os estudantes a pesquisarem sobre o período tratado no jogo.
Como ela também gostava muito de jogos e estavam em um momento privilegiado graças à variedade de títulos disponível no mercado, ela propos aos alunos que estudassem o conteúdo e a partir deles, na sequência, montassem vídeos.
Logo no início, eles já sugeriram vários jogos que poderiam ser utilizados no trabalho (Revolução Francesa em Assassin’s Creed, Segunda Guerra Mundial em Mundial em Battlefield 2). A única obrigatoriedade era o fundamento histórico. Depois de jogar em casa, tinham que trazer para ela uma lista de pontos que tinham observado no jogo, como arquitetura e figurino dos personagens.
Ela orientava a pesquisa a partir dos pontos que chamavam a atenção deles, indicando sites e temas de estudo. Ela também passava fontes na internet que não tinham informações fidedignas. Assim, eles aprenderam a refinar a busca. A primeira pergunta que fazem agora é “mas quem escreveu”? Depois de um tempo, esse processo ficou natural, e eles aprenderam a questionar a informação.
Ainda assim, existe uma estrada longa a ser percorrida. Particularmente, acredito que a escola que conseguir quebrar este paradigma terá muito a ganhar. Seus alunos e professores irão agradecer. Obviamente, alguns professores nem tanto, mas será muito bom para eles também, pois terão que abraçar a causa e embarcar num novo desafio. Desafios sempre são bons!!!
"Logo que, numa inovação, nos mostram alguma coisa de antigo, ficamos sossegados."
Friedrich Nietzsche
Ótimos negócios e semana para você!
Alexandre Salema