Por que estamos indo para a Estônia?
É uma pergunta que todos estão nos fazendo e é por isso que decidi escrever esse artigo. Até dentro de nossa empresa (Coortex, marca para o mercado mundial, e aqui no Brasil, Seed, marca que manteremos por algum tempo), tive que explicar a razão várias vezes. Sempre comecei dizendo que não fora pela culinária, muito menos pelo clima. A verdade é que como gestor acredito que qualquer empresa deve tentar expandir continuamente, e se no caso dela não houver barreiras geográfica, ela deve também buscar o mercado internacional. Por isso, decidimos começar a nossa operação internacional. E por estratégia, agora é hora de ir para a Europa. Temos ciência, que o desafio será grande, mas toda empresa precisa seguir o curso de seu destino e cabe a administração prover meios para isso. Fazemos isso pela empresa, por nossa equipe e nossas famílias, bem como por nossos clientes e fornecedores além de todos aqueles que estão diretamente ou indiretamente envolvidos.
Nossa oportunidade é agora
Acreditamos que a oportunidade é agora, pois sabemos da importância da aplicação de ferramentas para o planejamento e sequenciamento da produção nas mais diversas indústrias. Não importa onde elas estejam. E agora ainda mais, pois as indústrias, em todo mundo, estão enfrentando não apenas problema com concorrência, flutuação de demandas, Covid-19, mas principalmente problemas para atrair e reter pessoas. E nesse ambiente, as atividades complexas e desgastantes, como a do PCP/M, estão se tornando um problema extremamente difícil de lidar. Nela, os colaboradores executam as atividades diárias apenas como planilhas. Isso é quase a regra e garanto, é extremamente cansativo para quem é responsável. O pior, é que nesse processo, o profissional fica impossibilitado de crescer na empresa. Afinal ele é exatamente uma pessoa extremamente necessária para executar a rotina. É claro que há alternativa, contudo ela é baseada na compra de licenças de soluções envelhecidas, com arquitetura do início dos anos 2000. Elas são quase que unicamente baseadas em Aplicações Windows. Logicamente essas soluções não são aderentes ao conceito da Indústria 4.0 e o que é pior, tendem a ter uma percepção extremamente negativa para a nova geração de profissionais. Seja pelo design da interface, seja pela customização em código escondido, ou mesmo pela limitada capacidade de integração e dificuldade de upgrade de versões. Em outras palavras são produtos obsoletos, caros e que logo se tornarão inúteis.
"Por mais que dissessem que era impossível uma solução de Planejamento e Sequenciamento em nuvem, fomos lá e fizemos"
A razão da nossa solução ser a única realmente concebida para a indústria 4.0.
As empresa de software tradicionais tendem a ter uma inércia bastante grande em mudar seu negócio. Seja pelo risco da mudança em sua base de clientes, seja pela dificuldade tecnológica ou mesmo por impactar seus resultados financeiros. Por isso, muitas desaparecem. No caso do mercado de soluções, ainda conhecidas como APS, o problema é ainda mais agudo, pois essas soluções que necessitam muito uso de memória, CPU. Elas ainda demandam customizações e integrações em ambientes híbridos (On Premises e na nuvem). Difícil, caro e totalmente superado. Esse é exatamente o conceito da Indústria 3.0 Isso provavelmente impediu que empresas tradicionais conseguissem desenvolver uma solução viável para APS em Nuvem. Mas, por mais que dissessem que era impossível, fomos lá e fizemos.
Pìlares da indústria 4.0 (fonte: Conceitos da Indústria 4.0 | LermenSys)
Mas voltando ao tema do artigo, por que a Estônia?
Não é difícil explicar, mas preciso explicar que a nossa decisão foi motivada não pelas razões para ir, mas justamente pela eliminação de países por critérios baseados em impedimentos. Nosso processo se baseou na listagem de problemas que não queríamos enfrentar. Os principais foram: impostos complexos, leis e justiça anacrônicas, crise econômica latente, burocracia e sistema bancário ineficiente. Por fim, não mesmo importante, países em que a população tenha aversão a empresas e empresários.
Então vamos aos principais listados
"Se for fazer comércio de serviço vai acabar com uma multa grande, falência e possivelmente prisão"
Brasil, primeiro eliminado
Aqui foi fácil identificar os motivos;
- Receita Federal: A melhor explicação foi dada por um professor do curso de comércio exterior da FIESC- Federação das Indústrias de Santa Catarina; Ele nos disse categoricamente. "Se for fazer comércio de serviço vai acabar com uma multa grande, falência e possivelmente prisão". Excelente, mas como não via alternativa na época, fui buscar informação na Receita Federal. Não preciso dizer que não consegui nenhuma explicação descente e conclusiva por parte do Fiscal Tributário que me atendeu e que mandou embora depois de 30 minutos. Gostaria ainda de dizer que ele que não sabia nada tem o poder de multar e abrir um processo contra qualquer empresa. Portanto, sai sabendo menos do que entrei e com mais medo.
- Taxas: O Brasil possui poucos acordos de não tributação para países importantes. Basta lembrar que com os EUA, não há. A taxação é em cima do faturamento. Portanto a carga tributária apenas aumenta o risco. Á única vantagem aqui é ficar a torcer por taxas cambiais favoráveis.
- Sistema Bancário: Qualquer um que queira trazer dinheiro fruto de operações de venda de serviço no mercado exterior sabe o quanto os bancos são arredios a essa operação. Praticamente eles nivelam todas as empresas que fazem essa operação de maneira honesta, com aquelas que lavam dinheiro. A culpa é parte dos bancos e parte da legislação. Se alguém procurar a razão, verá que existe a ameaça de prisão e de multas astronômicas para execução de operações suspeitas (se elas forem identificadas pelo Banco Central). Logo, se tem outra operação mais fácil de fazer, por que se preocupar com isso.
- Justiça e crise econômica: acredito que nem precisaria entrar nessa questão.
"Se a Receita Federal brasileira é complicada, a dos EUA - IRS - não fica atrás. A título de informação, qualquer serviço prestado em solo americano envolvendo empresas estrangeiras, o imposto retido (Withhold) é de 30% do faturamento"
EUA a opção #1 dos brasileiros e segundo eliminado (por enquanto)
Vou falar, com base em experiência própria. Se a Receita Federal brasileira é complicada, a dos EUA, através do IRS, não fica atrás. Tenha em mente que ela é confusa e obsoleta e os impostos não são baixos. A título de informação, qualquer serviço prestado em solo americano envolvendo empresas estrangeiras, o imposto retido (Withhold) é de 30% do faturamento. A retenção é feita diretamente pelo cliente, mas as despesas podem ser deduzidas. Para fazer isso, basta preencher formulários que não são simples de preencher (entre na página do IRS e baixe os PDFs, caso se interesse). Logo, dada a complexidade busquei ajuda em escritórios de contabilidade, mas nenhum aceitou me ajudar.
Portanto me restou ir buscar orientação em um escritório do IRS. O que obtive não foi muito diferente do que consegui no Brasil. O escritório era ocupado por duas pessoas. Um estagiário que não sabia nada sobre qualquer assunto, e um responsável que da primeira vez não estava trabalhando por motivo de doença. Na segunda vez, o responsável estava, mas ao ouvir dizer que eu representava uma empresa brasileira, ele logo se desculpou e me passou um telefone para obter ajuda. Obviamente o número, que me passou, era errado.
Busquei então acesso direto ao IRS pelo telefone. Enviei os documentos e nada. Mas, por sorte, consegui um contador - CPA - Certified Public Accountant, que gostava de desafios. Antes que me perguntem, o Ryan Perkins de Terre Haute, IN. é quem me ajudou. Com ele, conseguimos recuperar 17% do que foi retido. Ou seja, nos EUA paga-se menos que no Brasil e o risco é menor.
Por fim, recebemos três cheques pelos correios, contendo alguns milhares de dólares em carta comum enviado ao nossa prestigiado e seguro "Correios". Mas, se não bastasse, o problema passou a ser outro. Como descontar esses cheques? Nenhum banco aceitou trocar. Vida difícil.
"Burocracia, altos impostos, crises econômicas rotineiras, alto endividamento, atividade sindical agressiva e população afeita a hostilizar empresas"
Portugal, seria uma opção?
Provavelmente uma das piores escolhas possíveis na Europa, ao lado da Itália e França. Burocracia, altos impostos, crises econômicas rotineiras, alto endividamento, atividade sindical agressiva e população afeita a hostilizar empresas, principalmente indústrias. Melhor nem pensar como opção, não vale a pena, mesmo que a língua falada seja algo parecida.
"O governo é efetivamente eletrônico. Basta ter um e-residence, que pode ser retirado aqui no Brasil, para poder tratar de qualquer assunto"
E a Estônia?
Quem está atento ao mercado de tecnologia já deve ter ouvido falar da Estonia. No nosso caso isso foi o que nos despertou interesse. Mas valeria a pena sair do Brasil e ir buscar a sorte em um país com cerca de 1,3 milhões de habitantes? Obviamente fez!
E quais foram as razões?
- Facilidade de se abrir uma empresa. O governo é efetivamente eletrônico. Basta ter um cartão do programa de e-residency, O melhor, ele agora pode ser retirado aqui no Brasil, para poder tratar de qualquer assunto. Portanto não é necessário se deslocar a Estônia ou a nenhum escritório local para resolver qualquer que seja o problema. Como dizem meus amigos estonianos, apenas para casar e se divorciar é que precisa ir a um local físico. E o custo? cerca de 100 Euros pelo cartão.
- Euro: Além disso, o país está na zona do Euro, no espaço Schengen e o custo de vida ainda é baixo.
- Taxas fixas de impostos. Atualmente com uma alíquota de 20% é cobrada apenas na retirada para pagamento de dividendos. Ou seja, não se paga imposto de despesas, investimentos, nem de prejuízos. Risco minimizado.
- Burocracia: Para ajudar, segurança jurídica e pouca burocracia. Toda a documentação em inglês, mas o papel do notário, ou do cartório ainda existe.
- Risco País: Temos ainda baixo endividamento do Estado. Portanto o país corre pouco risco de quebrar. Afinal, quem quer mais um pacote de medidas emergenciais, aumento de impostos, choque em taxas cambiais?
- Sistema Bancário: Facilidade de transações bancárias. Praticamente o fluxo de dinheiro é facilitado. Temos empresas locais de muito sucesso fazendo esse serviço, como pro exemplo a TransferWise.
- Ecossistema: Por fim, no nosso caso, contamos ainda com o apoio de investidores locais. Importante dizer que todo o ambiente local incentiva investimento e empreendedorismo.
Portanto não foi uma decisão difícil. E fica aqui meu convite para quem quiser saber mais, procurar informação, a começar com o Rafael Fassoni do Estonia Hub.
ou diretamente no sites:
- Works in Estonia
- Programa de E-Residence chega ao Brasil
- Startup Wise Guys: maior aceleradora de empresas B2B. Startups e empresas que desejam começar a expansão em solo europeu
Se for o caso de contar com ajuda na região, existem diversas aceleradoras na região, cada uma com sua especialidade.
- Buildit Accelerator: hardware, IoT, energética, saúde, vida inteligente;
- Incubadora Biomédica: biotecnologias, tecnologias verdes, veterinária;
- Tehnopol Startup Incubator: tecnologias informacionais-comunicacionais, tecnologias verdes, saúde.
- ClimateLaunchpad: tecnologias claras;
- Ajujaht: não possuem especialização na esfera específica, a única condição é que a ideia de uma equipe que deseja ingressar no programa de aceleração não dê lucro nos 6 meses anteriores;
- Laboratórios de startups VUNK: cidades inteligentes e digitalização b2b, comércio eletrônico, saúde;
- GameFounders: jogos;
- Elevator Startup Labs: tecnologia de mídia, tecnologia de anúncios, software de entretenimento, comércio eletrônico;
- TalTech Mektory: tecnologias da informação, mecatrônica, eletrônica.
E como ficam nossas operações no Brasil e na América Latina?
Nada muda, pois obviamente elas ainda são as mais importantes. Não abandonaremos o Brasil, mas não podemos apostar unicamente aqui. Vamos continuar a trabalhar, investir e expandir por todo o nosso país.
Com relação a América Latina, fechamos há pouco um acordo com a Logsis SRL da Argentina. Depositamos muita esperança em expansão a partir desse acordo, mas estamos ainda negociando outras parcerias nessa região, onde divulgaremos em breve novas informações.
Agora é período de muito trabalho e dedicação. Obrigado a todos que nos ajudaram.
Administrativo Financeiro
2 aCheiro de sucesso! 😉
CEO | Estruturação Comercial | Vendas Consultivas | Treinamentos | Social Selling
3 aBoa Fernando!
#Founder of Markedu Brasil, training for Software and IT Companies. #Vice President at Datainfo, one of the largest IT companies in Brazil.
3 aFernando Loureiro, tive a oportunidade de assistir uma apresentação sua em 2019 do SEED em Nuvem. Vocês tem um potencial fantástico! Segundo pesquisa da ABES, no Brasil 93% das aplicações de Manufatura não são em nuvem. E muito obrigado por fazer um relato tão completo sobre o desafio de vender e receber o pagamento de serviços no Exterior. Desejo saúde e muito sucesso para você e sua equipe. 🙏
Strategic Management Consultant, Project Manager, Business Developer en Argentina y Latinoamérica.
3 aEn logsis nos contagiamos el entusiasmo de Fernando y su equipo, por innovar y apostar al mundo. Comparto la evalucion que hizo Fernando, para liberar sus fuerzas productivas y creativas. Como dijo San martin "SEAMOS LIBRES QUE LO DEMAS NO IMPORTA NADA"
Software Engineer | Software Architecture | Backend | Microservices | Event Driven Architecture | .NET | C# | React.js
3 aExcelente Post, vamos nessa!