Por que o Censo do IBGE é tão importante?
Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) cancelou as provas do concurso para recenseadores e agentes censitários. Eram 204.307 vagas temporárias distribuídas em 5.297 municípios brasileiros para realizar o que seria o Censo 2021.
O motivo da suspensão do estudo estatístico foi o corte de 96% de recursos previstos no Orçamento Geral da União para o que seria o Censo deste ano. A redução de 2 bilhões para 71,7 milhões evidencia a crise no IBGE, que perdeu sua gestora Susana Cordeiro Guerra após a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) na Comissão Mista de Orçamento (CMO).
É bom lembrar que o Censo é o principal estudo que mapeia a população brasileira em aspectos como educação, saúde, mortalidade, emprego, renda, saneamento básico, entre outros, e seu resultado é base para a criação de políticas públicas.
Realizado a cada 10 anos, de acordo com a lei 8.184/ 1991, a pesquisa feita por meio de entrevista presencial foi adiada em 2020 devido à pandemia e suas restrições de circulação. Não havia tempo hábil para treinar os concursados. Neste ano, são os projetos parlamentares na luta contra a crise sanitária que impedem a realização do Censo.
Mas, de fato, como esse adiamento afeta a vida dos brasileiros?
Como já expliquei acima, o Censo é fundamental para compreender como vivem os brasileiros e, assim, construir um retrato da população e sua condição de vida. É o Censo que aponta como vivem os moradores de cada região do país e fomenta a implantação de políticas públicas para o desenvolvimento social tanto no âmbito público como privado.
A falta do Censo neste ano abre um espaço de 11 anos de informações desatualizadas sobre o Brasil. Segundo o próprio IBGE, as ações pós-pandemia serão fragilizadas com a ausência de informações em todo o território brasileiro. Todos nós seremos afetados por esse atraso, mas com certeza serão os indivíduos das camadas mais vulneráveis os principais prejudicados.
As ações governamentais e o direcionamento correto ficam prejudicados a nível federal, estadual e municipal. Ajustes democráticos como o número de deputados estaduais e federais, e de vereadores por contagem populacional não é adequado.
Deslocamento de recursos para o Bolsa Família e outras ações sociais são afetados, assim como quais áreas precisam de recursos financeiros priorizados: saúde, educação, habitação, transportes, energia, programas de assistência a crianças, jovens e idosos.
A situação é mais grave porque campanhas de vacinação e regulação das políticas para superação e recuperação após o fim da pandemia serão significativamente afetadas.
O apagão estatístico é um golpe brutal que vem fragilizando a pesquisa desde 2019, quando houve uma redução no questionário para redução orçamentária. Entretanto, especialistas afirmam que diminuir as perguntas pouco afeta o orçamento do Censo. O descaso dos governos com o IBGE se apresenta desde 2015, quando deveria ter ocorrido a contagem populacional aplicada a cada cinco anos, mas cancelada por falta de verba.
Populações podem estar invisibilizadas quando o assunto é políticas sociais, mais do que nunca a atuação das organizações do terceiro setor se faz necessária para garantir um mínimo de dignidade aos desempregados e pobres que formam a camada mais densa dos cidadãos brasileiros.