Por que os Medíocres se Destacam?

É um paradoxo desconcertante: em muitas empresas, não são os mais talentosos ou inovadores que sobem na hierarquia, mas aqueles que, ao invés de fazerem ondas, se misturam à maré. O motivo está profundamente ligado a uma falha comum em líderes ineficazes que não sabem organizar a estrutura hierárquica de forma adequada. Elliott Jaques, com sua análise sobre estratificação organizacional, nos ajuda a entender por que os medíocres se destacam — e como evitar essa armadilha.

O Perfil do Medíocre e a Acomodação na Estrutura

Pessoas medianas, aquelas que cumprem suas funções sem questionar ou inovar, têm uma característica interessante: elas não expõem as deficiências estruturais da empresa. Elas se ajustam perfeitamente a sistemas falhos e evitam atritos. Isso faz com que líderes ineficazes, que preferem evitar conflitos e mudanças profundas, acabem favorecendo esse perfil. Para esses líderes, o destaque vai para quem não ameaça a zona de conforto da organização.

Jaques nos lembra que um dos papéis cruciais de qualquer líder é colocar as pessoas certas nos lugares certos (RP²). Mas, quando essa premissa é ignorada e a organização privilegia estabilidade ao invés de desempenho, o cenário está montado para que a mediocridade prevaleça.

Por Que Líderes Ineficazes Valorizam a Mediocridade?

1. Menos Problemas, Menos Dor de Cabeça: Um colaborador mediano não levanta questões difíceis, nem aponta falhas significativas na estrutura. Eles fazem o que é pedido, sem mais. Para um líder que prefere uma gestão “tranquila”, essa postura é valiosa.
2. Aparência de Eficiência: Pessoas medíocres dão a impressão de serem eficientes, pois entregam o que é esperado, nada mais, nada menos. Para um líder que não sabe diferenciar resultado real de conformidade, isso é suficiente.
3. Evitação de Desafios Complexos: Líderes que não têm a capacidade ou o interesse de lidar com questões complexas preferem colaboradores que não desafiam o status quo. A presença de talentos excepcionais pode evidenciar falhas na liderança e exigir mudanças que esses líderes não estão preparados para implementar.

O Erro na Estrutura Hierárquica

Jaques enfatiza a importância de uma hierarquia clara e funcional, onde cada nível de liderança é responsável por um grau de complexidade de tarefas. No entanto, em muitas organizações, essa estratificação é falha ou inexistente. Sem uma estrutura bem definida, líderes acabam recompensando aqueles que não desafiam as camadas superiores, mas que se mostram “seguros” — e, na maioria dos casos, isso é sinônimo de mediocridade.

Exemplo Prático: Imagine um colaborador que, ao ver uma ineficiência nos processos, propõe uma solução inovadora. Se o líder é ineficaz e teme mudanças, ele verá essa proposta como uma ameaça ao seu conforto, e não como uma oportunidade de melhoria. Enquanto isso, um colega que apenas cumpre sua parte sem questionar é visto como mais “fácil de lidar” e, portanto, mais valorizado.

O Impacto da Mediocridade na Empresa

Quando pessoas medíocres sobem na hierarquia, elas replicam essa preferência em suas próprias equipes. Isso cria um ciclo onde talentos reais são desmotivados e, eventualmente, deixam a empresa, enquanto os medíocres permanecem e perpetuam a cultura. O resultado? Uma organização que falha em inovar e em se adaptar às mudanças do mercado.

A liderança medíocre reforça a mediocridade nos níveis inferiores, limitando o potencial de crescimento e inovação de toda a empresa.

Como Quebrar o Ciclo?

1. Reavalie a Estrutura Hierárquica: Use a metodologia de Jaques para garantir que cada nível da hierarquia tenha um papel claro e adequado à sua complexidade.

2. Valorize a Performance e a Iniciativa: Crie critérios de avaliação que premiem a capacidade de resolver problemas e a contribuição real, não apenas a conformidade.

3. Treine Líderes para Enfrentar Desafios: Líderes precisam ser capacitados para lidar com opiniões divergentes e ideias inovadoras sem se sentirem ameaçados.

Para Avançar, Valorize a Excelência

Se a sua empresa quer crescer e se destacar, é fundamental que os critérios de promoção e valorização sejam claros e baseados em desempenho real, e não em uma falsa ideia de estabilidade. Líderes devem ser corajosos o suficiente para questionar, incentivar e apoiar os talentos que desafiam a mediocridade.

Os medíocres podem flutuar na superfície, mas é a verdadeira excelência que impulsiona a empresa adiante.