Por que tão poucos brasileiros conhecem esta canção tão bonita?
Você a conhece, já escutou alguma vez? Ou faz parte da grande maioria que infelizmente não a conhece?
Nós Dois foi composta por Celso Adolfo há quase quatro décadas, em 1982.
Nos anos seguintes, a canção se tornou um hit obrigatório nas rodas de violão de Minas Gerais. Também obteve um alcance significativo em cidades do Nordeste e do Espírito Santo. Mas não foi além disso.
Embora muito bonita (me contive para não dizer linda), ela não decolou o quanto merecia. Tinha tudo para fazer sucesso nas rádios brasileiras. Mas só chegou a um percentual reduzido de emissoras.
E olha que seu autor não é um completo desconhecido. Celso Adolfo teve seu Coração Brasileiro eternizado em discos de Milton Nascimento e Elba Ramalho.
Entretanto, afora uma versão gravada por Tadeu Franco nos anos 80 (eu não soube de outras), Nós Dois permaneceu distante do grande público – ainda que continuasse presente no repertório de centenas de violeiros espalhados pelo país.
Uma grata surpresa!
Durante a pesquisa para concluir este artigo, soube de algo que eu desconhecia e que me alegrou muito.
Em 2015, nossa querida canção (não só foi regravada como) fez parte da trilha sonora de uma novela da Rede Globo. Nas vozes de Layla e Gabriel Sater (filho do Almir), Nós Dois embalou a trama de Além do Tempo.
A versão da dupla ficou muito boa (o link com a regravação está mais abaixo, assim como a versão original de Celso Adolfo), mas EU ME ALEGREI ESPECIALMENTE COM O PRIMEIRO DOS COMENTÁRIOS NO YOUTUBE. Adivinhem, postado por quem?!
Enfim, um sabor de redenção – ainda que relativa – para uma injustiça perpetrada pelos deuses da Música.
Mas é melhor agradecer, em vez de reclamar da sorte. Acho que essas coisas (sucesso, fracasso) também fazem parte da loteria da vida. Ou então é coisa cármica mesmo... sei lá!
Que decepção: boate People vazia
Em 1990, Celso Adolfo fez um “aguardadíssimo” show no Rio de Janeiro. Quer dizer, talvez o evento fosse aguardado por um pequeno número de pessoas, porque...
Juro: eu gostava tanto da canção que imaginei uma apresentação bem cheia, lotada, uma grande festa, mas......
Choveu forte naquela noite de sábado. E para complicar a situação, em vez de uma casa de espetáculos de médio porte, o espaço escolhido pelo artista e seus produtores foi o palco da então badalada boate People, no Leblon.
O constrangimento só não foi maior porque o Celso “levou na esportiva”, teve jogo de cintura. Sentado num banquinho com seu violão, ele sorriu e perguntou ao público se seria pedir muito: que os 12 (doze!) fãs presentes se reunissem em mesas próximas ao palco.
Ninguém se opôs, e a noite acabou sendo bem agradável. Contudo, todos ficaram com a sensação de “quero mais” – mais gente, muito mais gente na plateia, para aplaudir aquele menestrel tão peculiar, divertido e sensível.
Abaixo, um vídeo com a gravação original de Celso Adolfo para Nós Dois.
Em algum lugar do passado
Em 1986, fui a Belo Horizonte visitar uma amiga jornalista. Ela estava recém-separada, morando de favor com uma colega. E essa moça, que na época era atriz, me contou uma história que eu achei encantadora, sobre a canção pela qual eu havia me apaixonado.
Dois anos antes (e muito antes, também, de Nós Dois ser lançada), ela foi assistir a um show noturno na universidade em que estudava. Era a apresentação de um cantor e compositor chamado Celso Adolfo, do qual ela nunca tinha ouvido falar. Ingresso baratinho.
E aí, conforme seu relato, (ai-ai-ai, de novo) choveu muito naquele dia... principalmente no fim de tarde. Na hora do espetáculo, o teatro estava vazio! Quase vazio. Afinal, um é mais do que zero...
A gloriosa espectadora, então, caminhou até o artista para dizer que ficaria meio sem graça se ele se apresentasse somente para ela. Mas Celso não guardou seu instrumento na caixa: dispensou o iluminador e fez o show – apenas para a atriz, que não se chamava Beatriz...
Foram só cinco canções, conforme os dois haviam definido em sua conversa inicial. Mas, com direito a um “bis” inesperado! Um momento marcante, que ela recordou emocionada.
Após os derradeiros aplausos recebidos, o músico desceu do palco e aproximou-se da moça sorridente, sentada bem no meio da primeira fila. Disse que iria tocar para ela uma canção inédita, que ele ainda não havia mostrado a ninguém. Uma composição que certamente não estaria no repertório, se o show não tivesse se tornado tão intimista...
A canção? Sim: Nós Dois. Ou, o que havia restado de um relacionamento amoroso intenso, difícil e doído, terminado algumas semanas antes.
Ferida aberta que inspirou (na minha opinião) uma das canções românticas mais belas do cancioneiro nacional.
Prova disso é a versão de Layla e Gabriel Sater – para quem quiser conferir como ficou. Vale a pena!
Ainda no YouTube, se digitarmos as palavras Nós Dois Celso Adolfo, também encontramos a gravação de Tadeu Franco e versões ao vivo com diferentes artistas.
Inspirado na interpretação visceral de Tadeu, um artista plástico criou um videozinho muito simpático. Que ele dedicou ao amor da sua vida...
Do interior de Minas para o mundo
Celso Adolfo nasceu em São Domingos do Prata (MG), em 1952. Foi apadrinhado por Milton Nascimento, que além de ter gravado uma canção sua no LP Anima, produziu o primeiro disco de Celso. Elba Ramalho gravou duas composições do autor.
Se você por acaso ficou meio agoniado com o teatro e a boate vazios, é bom saber que Celso Adolfo “cansou” de fazer shows com lotação esgotada em Minas Gerais. Também fez apresentações memoráveis em outros estados e em países como Itália e Dinamarca. Mas o melhor de tudo é que ele continua a se apresentar por aí.
Ao me deparar com tantas notícias boas e conteúdos ricos, me senti aliviado e feliz. Falando nisso, meu primeiro contato fonográfico com o cantor e compositor, já no fim dos anos 80, aconteceu quando ganhei de presente seu segundo LP, batizado de... Feliz.
Sim, a impressão que ficou do Celso é de um músico e um ser humano altíssimo astral, supercriativo e afetuoso. Além, é claro, de ser o autor de Nós Dois!
Para encerrar, como “faixa bônus”, vamos de Coração Brasileiro. É um videoclipe singelo, embalado pela voz e pelo violão de Celso Adolfo.
Salve-Salve a Música Popular Brasileira!
(as imagens da espectadora solitária no teatro e da ponte cheia de notas musicais foram editadas a partir de fotos do Creative Commons)
Veja também:
De repente, bem na minha frente, UM TESOURO para quem trabalha com textos
Que país é esse:
Você também gosta de gritar É A P.... DO BRASIL!?
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Rogério Imbuzeiro
Revisor e Redator Final de Textos para empresas e profissionais autônomos – sites, blogs, ebooks, artigos, revistas e outras publicações. Editor de Conteúdo. Jornalista.
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5 aGrande Buza. Muito bom artigo. Abraços