Por que temos tanto medo da palavra sensível?

Por que temos tanto medo da palavra sensível?

Pode ser que na sua criação você tenha escutado coisas como “engole o choro”, “para de drama”, “essa menina é muito chorona”, por causa disso, acessar esse lugar mais sensível, pode estar ligado à fraqueza, ou a um estereótipo de gênero.

Ainda temos um senso comum na educação das crianças, ao orientar os meninos a serem fortes e nunca demonstrar sua vulnerabilidade, enquanto ensinamos as meninas a desenvolvê-la, só que de maneira contida, porque precisa manter o controle. E assim, criamos pessoas com dificuldade de falar, sentir e acessar suas emoções e sentimentos. 

Pense um pouco: como você tem se relacionado com a sua sensibilidade? Essa pergunta te afeta mais para o lado da curiosidade ou do desconforto?

Quando se tem uma cultura de tolerância zero de vulnerabilidade, onde perfeccionismo e armadura são necessários e até aplaudidos, tais conversas não serão produtivas. Brené Brown.

Honrarei sempre o trabalho e contribuição sobre a vulnerabilidade dessa pesquisadora. No livro, A Coragem para Liderar, ela faz uma pesquisa com altas lideranças, olhando para o mercado profissional e tem muitas coisas que podem nos ajudar a partir dos levantamentos e resultados dos seus estudos. 

E se pensarmos no futuro (ou presente) das gerações que estão iniciando sua relação com o trabalho, e não se apegam a cargos, não se escondem atrás de corporações, gostam de receber feedback e sinalizações de como estão evoluindo para perceberem suas mudanças e novas possibilidades na carreira, é uma dicotomia, onde buscamos por profissionais cada vez mais produtivos, engajados e altamente criativos, mas sufocamos uma das virtudes estruturantes da criatividade: a sensibilidade.

Porque a vulnerabilidade e a sensibilidade fazem parte da trilha de acesso a criatividade, dando espaço a expressões cada vez mais autênticas do que observamos no mundo e relacionamos com memórias, repertórios e experiências vividas.

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Já temos inúmeros dados, reflexões e inquietações do mercado em relação ao tema Pessoas e Talentos e ainda em tempos contemporâneos, encontramos uma vaga de trabalho onde na descrição pode-se ler em destaque que o profissional precisa ter “zero sensibilidade". Sim. É possível! 

🔗Profissionais ZERO sensibilidade existem? 

Pessoas com a característica de baixa sensibilidade geram um cenário de preocupação, o efeito é um baixíssimo nível de conexão com as pessoas, além de uma frieza que é preciso ser cuidada de uma forma bastante delicada. 

A sensibilidade é parte da nossa humanidade

Eu sou sensível e filha de pais sensíveis. Hoje já temos estudos da neurociência que falam que a sensibilidade possui um componente genético.

“Os estudos dizem que não há um único gene que “torna” alguém PAS - Pessoa Altamente Sensível, no entanto, nos últimos 20 anos ou mais, pesquisadores acreditam que um punhado de genes desempenham um papel particularmente importante na experiência da sensibilidade em cada pessoa. 

O mais proeminente nos estudos é uma variação particular no gene transportador de serotonina (SERT). Uma área crucial desse gene contém duas linhas de código genético que podem ser cada uma “longa” ou “curta”. Pessoas Altamente Sensíveis podem ser mais propensas a carregar a variante "curta”. - Tradução e adaptação dos artigos abaixo, que estão originalmente em inglês. Para saber mais, trago as referências: 

🔗 Cientistas têm uma nova maneira de encontrar os genes por trás dos traços de personalidade

 🔗 O mapa da depressão: genes, cultura, serotonina e um lado dos patógenos

Não é o componente genético que determina o acesso a sensibilidade, afinal, esta é uma capacidade humana, está em todos nós, mas quando você possui um histórico genético, há um incentivo a mais para florescer a forma de você estar no mundo e se relacionar com as experiências através da sensibilidade ao longo da vida. 

Eu olho para minha história e vejo meus pais vivendo e expressando a sensibilidade, cada um a seu modo e por vezes de jeitos diferentes, o que é muito interessante, porque a expressão da sensibilidade carrega singularidade.

Essa é mais uma camada de beleza acrescentada ao aceitar e valorizar o quanto esta força existe em mim como pessoa e profissional. Um traço de personalidade extremamente valioso que por vezes lidei com dúvida e minimizei seus benefícios na minha jornada. 

Falar de sensibilidade é tocar em um lugar onde há desconforto e um certo mal-estar, pois pessoas sensíveis são vistas como molengas ou cheias de mimimi. Passa um monte de coisa na cabeça das pessoas ao trazer a sensibilidade pro palco, inclusive eu passei por isso até tomar coragem de lançar essa newsletter.

Mas você sabia que o que deu um empurrão para esta leitura equivocada da sensibilidade em nossa sociedade é o mito da dureza? Vamos conhecê-lo de perto, afinal, nomear é dar significado para ressignificar:

MITO DA DUREZA -

A sensibilidade é um defeito. Somente os fortes sobrevivem. Ser emotivo é sinal de fraqueza. A empatia fará com que se aproveitem de você. Quanto mais você conseguir aguentar, melhor. É uma vergonha descansar ou pedir ajuda.

Este é um mito que ainda está bem vívido e falar sobre isso, explicar, sensibilizar e educar é parte do processo. Eu faço uma escolha de mexer nesse vespeiro, com a missão de semear essa transformação, por acreditar que a gente pode encorajar realizações autênticas na vida e nas organizações. 

Pessoas Altamente Sensíveis com consciência da forma que operam na vida, percebem na prática os pontos de atenção e podem evoluir para sinalizar cada dia com mais clareza e firmeza para as outras pessoas, como funcionam, pois sentimos tudo o que é experienciado na vida com mais intensidade, as coisas incríveis e o que é mais desafiador também. 

A cada nova descoberta, acrescento a minha confiança e coragem para mostrar para as pessoas o que significa a sensibilidade a favor das relações interpessoais  em uma  organização, essa característica  pode ser um catalisador para transformar o ambiente de trabalho.

Passei por aberturas e fechamentos de negócios, estive ao lado de pessoas visionárias que fizeram e fazem negócios incríveis e que eu pude estar perto por meio da Maestrina de Negócios que é uma marca, movimento, espaço e lugar onde podemos desenvolver pessoas e negócios através de relações saudáveis e éticas. 

Por isso, é impossível não me incomodar com alguém que subestima tanto aquilo que pode trazer para sua organização tudo o que essa pessoa mais quer, como criatividade, resiliência, determinação e capacidade de liderar com autenticidade e integridade, por exemplo. 

E se a gente quer liderar de forma orquestradora, um passo importante será acessar a nossa sensibilidade. 

A sensibilidade tornou-se uma vantagem competitiva que impulsiona talentos

Ao perceber detalhes que outros ignoram ou buscar soluções holísticas que beneficiam o grupo, líderes sensíveis demonstram eficiência nos ambientes de negócios.

Quando pensamos na liderança sensível, percebemos que vai muito além de simplesmente reconhecer as emoções dos outros, ela envolve a capacidade de compreender profundamente as perspectivas e necessidades individuais, visão de jogo e facilidade de solucionar problemas de maneiras diferentes, ao acessar um repertório trabalhado na curiosidade e sensibilidade, incentivando e aprimorando este olhar no time para promover um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam valorizadas e ouvidas. 

Contrariando a crença popular, a sensibilidade não é um obstáculo à tomada de decisões eficazes, na verdade, os líderes sensíveis muitas vezes demonstram uma capacidade excepcional de compreender as nuances de uma situação e considerar o impacto humano de suas escolhas. Ao integrar a empatia e a compaixão em seu processo de tomada de decisão, esses líderes são capazes de promover soluções mais adequadas  e sustentáveis a longo prazo.

À medida que avançamos para o futuro, é imperativo reconhecer o papel vital que a sensibilidade desempenha na liderança eficaz e na criação de organizações verdadeiramente humanas e compassivas. Ao abraçarmos a empatia como uma força para a mudança positiva, podemos construir um mundo onde a excelência profissional e o cuidado pessoal andam de mãos dadas.

Para navegar em mares ainda desconhecidos, nada melhor do que sugestões e conteúdos interessantes. Confira as indicações deste mês: 

🔗 Pesquisa: Como Se Sentem As Lideranças De Empresas No Brasil

Uma pesquisa quantitativa, inédita no Brasil, realizada em 2023 com 3 empresas parceiras (Amélie Consulting, minha amiga e parceira Camila Holpert do Studio Ideias e Templo de Mulher), para ouvir sobre sentimentos no ambiente de trabalho.

Eu fiquei impactada, participei de rodas de conversa e hoje compartilho o acesso a esse documento, com os resultados completos desta pesquisa para que mais e mais empresas possam acessar e refletir sobre o que queremos promover nas culturas organizacionais. 

🔗 Brené Brown: The Call to Courage

O trabalho da Brené Brown é o que me permite estar aqui. A partir da sua pesquisa sobre vulnerabilidade, ela chegou no mundo dos negócios e organizou uma metodologia muito interessante pautada na sua sensibilidade. A história inicial desta palestra é algo que me toca profundamente. 

🔗 Por que ser sensível é uma força

“Aproximadamente 30% de todas as pessoas, independentemente do gênero, pontuam alto em sensibilidade. Esses indivíduos, às vezes chamados de pessoas altamente sensíveis (PASs), são programados para ir fundo. E essa profundidade vem com presentes”.

Criatividade e capacidade de tomar decisões, são alguns dos superpoderes dos humanos sensíveis. 

Existem formas de expressar a sua sensibilidade e não há um manual de conduta, o que se nota são características comuns.  

Bruce Springsteen, Albert Einstein, Frida Kahlo, partilham essa semelhança, cada um ao seu modo e se enquadram nos diferentes tipos de sensibilidade, mas essa é uma conversa que podemos iniciar em outro dia. 

Hoje, meu convite para você é: 

Sensibilize-se e escute as pessoas altamente sensíveis sem medo, com coragem.

Vamos nessa?

"Tudo está muito condicionado ao resultado, à efetividade, ao acerto. Por exemplo, nossas gerações jovens atuais estão condicionadas a uma pressão permanente, que tem sido exercida voluntária ou involuntariamente sobre a juventude, no sentido de que devem acertar, devem ser bem-sucedidos em tudo o que fizerem. Eu detesto essa visão. Detesto a ideia de não poder errar, de não poder aprender com os erros, de não poder falhar e nos levantarmos, nos recuperarmos e seguirmos em frente porque esse é um dos motores do templo humano. Errar". Trecho da entrevista com Ricardo Darín no programa "Sangue Latino" Canal Brasil.  

Com amor, Taís! 



Sobre a autora:

Taís Souza é uma profissional multifacetada, graduada em Administração Hoteleira e pós-graduanda em Arteterapia. Com especializações em Disciplina Positiva e Inovação Social, ela acumula uma vasta experiência corporativa e empreendedora, atuando como CMO e gerente de operações no setor de luxo, além de planejadora e pesquisadora de projetos.

Desde 2016, lidera a Maestrina de Negócios, oferecendo serviços de mentoria para negócios e liderança, atendendo mais de 100 clientes e guiando 80 turmas em aulas, workshops e palestras.

Sensível. Curiosa. Entusiasmada pelos mistérios da vida.

Tem a missão de desenvolver pessoas e negócios através de relações éticas, por meio da curiosidade genuína pelas pessoas e por sua escuta ativa e acolhedora.

Vamos conversar?

ola@taissouza.com.br

(11) 99984-1050 

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