Por que você não consegue economizar
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Por que você não consegue economizar


Olá amigos e amigas, meu nome é Daubert Gonçalves e hoje estou aqui para contribuir com o projeto “Janeiro Verde” do nosso querido amigo Marcelo Mussareli Corghi.

Para nos conhecermos sou formado em Gestão Pública com MBA em Administração Pública e Gerência de cidades e MBA em Ciências Políticas. Atualmente Bacharelando em Administração Pública e apresentando projeto para o Mestrado em Administração Pública profissional. Para conferência de outras certificações vou deixar um link aqui na descrição do vídeo.

Feita a apresentação meu objetivo aqui é de elucidar quem vê este vídeo ou lê o texto no sentido de conscientizar as pessoas dos principais motivos que as impossibilitam de economizar e até planejar suas finanças considerando, é claro, terem ultrapassado a linha da sobrevivência.

Porém, antes de decifrar os motivos da sua incapacidade de planejar e economizar alguns conceitos são importantes para o entendimento.

 1 - Fatores teóricos

1.1 - Sobre a insatisfação do ser humano

Desde os mais remotos tempos o ser humano luta contra sua insatisfação sobre os diversos aspectos e motivos. Este “incômodo” pode ser traduzido tanto no “encolhimento” de suas capacidades como pode ser um forte aliado para a criação da solução de problemas e é justamente neste momento que as grandes invenções são criadas tanto por solucionar uma necessidade como também um problema.

O filósofo Martin Heidegger trouxe em seu livro “Ser e Tempo” a relação aflitiva entre a própria existência do ser humano e sua ansiedade causada pela contagem regressiva de encontro com a morte. Neste período procura preencher a sensação de “oco”. Se faz necessário também comentar que essa característica não é e nunca foi atual. Em sua obra “Sofista”, Platão demonstra toda inquietação dos antigos quando o assunto sobre o motivo de ser e existir é discutido mas, para melhor compreensão, nosso marco estará em conceitos mais atuais.

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Martin Heidegger

A insegurança do ser humano se baseia na realidade de sua pequena existência, traz para a sociedade a falsa perenidade da raça humana comprovada pelo pequeno “prazo de validade” de cada indivíduo. Com isso a necessidade de se “manter” vivo na história também foi motivo das mais diferentes guerras e batalhas que tiveram como ponto de partida o legado que seria deixado pelos “atores” de cada episódio.

Nosso raciocínio sempre nos traiu e continua acelerando as vontades e necessidades.

Com o advento da internet houve uma explosão da quantidade de informações disponíveis para qualquer pessoa independente do preparo dos povos para assimilarem tanto essa velocidade como a quantidade não observando, na maioria das vezes, a qualidade das informações. Como a morte sempre foi uma possibilidade, apesar de certa, a angústia trazida pela incompreensão dos novos valores e dos novos conceitos aumentou, potencialmente, a pressa de novas realizações que, na maioria das vezes, não é possível e/ou viável. Esta inconsistência tanto em tentar como simplesmente não conseguir gera frustrações que impulsionam para a insatisfação.

Este estado de insatisfação não é uma característica passivamente aceita pela maioria dos seres humanos e invocam as incertezas, incapacidades e, com estes elementos, retornamos ao “oco” proposto por Martin Heidegger.

Vale lembrar a importância do fato que não é objetivo deste artigo resolver problemas individuais e se tratar de uma breve explanação dos motivos que nos “traem”.

1.2 - Sobre as necessidades

Como muitos já devem conhecer ou ter ouvido falar vamos partir da pirâmide da hierarquia de necessidades criada por Abraham Maslow

Abraham Maslow foi um psicólogo norte americano e sua pesquisa mais relevante foi realizada em 1946 no estudo que compilou comportamentos em uma área de conflito entre as comunidades judaica e negra. Desta forma ele propunha a discussão em grupos para que os padrões fossem descongelados, alterados e congelados novamente, porém com uma nova perspectiva e maneiraa de serem utilizados na sociedade.

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Abraham Maslow

 

A pesquisa que realmente nos interessa aqui é sobre a teoria das necessidades que Maslow apresentou em seu artigo “A teoria da motivação humana” publicado em 1943. Neste artigo o psicólogo institui cinco categorias de necessidades humanas e as classifica em grau de importância sendo que apenas será conseguido alcançar um grupo se o anterior for satisfeito no indivíduo.

Então, partindo da própria pirâmide das necessidades de Maslow temos:

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Pirâmide de Maslow

Apesar de muitos já conhecerem vamos analisar rapidamente cada uma das categorias:

Para iniciar veremos as necessidades básicas: Fisiológicas e Segurança

O início parte das necessidades fisiológicas sem as quais o equilíbrio do organismo do indivíduo simplesmente não funcionaria. Possuem ligação íntima à própria sobrevivência e existência trazendo quesitos como respiração, alimentação, água, reprodução e outras de mesma importância. Sem o funcionamento, independente da intensidade não há motivo para que as demais categorias sejam almejadas mesmo porque simplesmente não haveria existência.

Logo após a manutenção e própria existência a segurança trata de amparar o indivíduo no bem estar de sua própria existência, por este motivo está ligada à fisiologia que é primeira categoria. Neste segundo “degrau” a segurança do próprio corpo e de recursos para a mais próxima correta manutenção perante a sociedade faz com que o indivíduo possa ter certeza de sua sobrevivência, diferente da existência da primeira categoria. São quesitos como recursos financeiros através de trabalho, saúde, propriedade e outros.

As necessidades secundárias ou psicológicas formam o próximo grupo elencado por Maslow sendo que a terceira, formada pelas necessidades sociais trazem uma projeção de Aristóteles que definiu o homem como “zoon politikón”, um ser político que, para tanto, tem necessidade de viver em grupo. Maslow traduziu esta característica pela necessidade de companhia, de relacionamento com grupos e, mais precisamente, de afeto que também acabam cruzando em determinados aspectos com a segurança.

Depois de satisfeita a necessidade de afeto um novo grupo é apresentado onde a estima é o segundo ponto que coloca em evidência o social ao invés do individual. Nesta faixa da pirâmide o reflexo entre o “eu” e o todo incita ao esforço de ser prestigiado, de ter novas conquistas, reconhecimento dos outros e a possibilidade de ter seu reconhecimento valorizado.

Por último, e de menor importância também sendo alcançado por um número menor de indivíduos que vivem em sociedade a realização pessoal vem embasada por todas as outras necessidades, em tese, já satisfeitas. Neste “local” a plenitude de entendimento compõe as alterações de comportamento e retornam para o indivíduo que passa a “irradiar” seus feitos para a sociedade que “frequenta”. Quando as realizações pessoais são satisfeitas a autonomia começa a se tornar evidente bem como o autocontrole baseados na moral da época.

Notem que a posição da Pirâmide de Maslow transporta as necessidades de individuais para coletivas ao ponto que progridem, ou seja, a base, mais larga, é a de maior importância, porém está concentrada no indivíduo. Posteriormente trata de necessidades coletivas e retorna, em seu ápice, no reconhecimento de que sem o indivíduo a sociedade não tem como existir e, mais ainda, que através de um indivíduo “satisfeito” haverá uma sociedade plena e também “satisfeita”

 

2 - Fatores históricos

Para que possamos unir a teoria à prática é necessário que analisemos nossa construção cultural com relação, principalmente, as nossas reais necessidades.

Não é novidade para ninguém as condições de nosso descobrimento e colonização extrativista. Como elemento agravador nossos colonizadores instituíram essa nova terra como um local de onde tudo se tirava, qualquer fosse a vantagem que estivesse à mão. O caso mais emblemático foi o pedido de Pero Vaz de Caminha, em seu último parágrafo da carta para o rei de Portugal Don Manoel I quando pediu que seu genro fosse transferido para a nova terra pois tinha sido condenado ao exílio para a África após ter cometido um assalto.

Assim que chegaram, conta a história, os portugueses se depararam com os, até então atuais, habitantes da terra, os índios. Essa população não possuía nenhuma necessidade de planejamento pois “na terra que se plantando tudo dá” suas necessidades estavam resumidas, principalmente, a se alimentar e procriar. Não havia para isso uma preocupação que os tivessem obrigados a manter uma metodologia de armazenamento de provisões, nem tão pouco suas necessidades estavam muito acima da segunda faixa da pirâmide de Maslow se formos traçar uma linha análoga dos temas.

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Os portugueses, por sua vez, encontraram uma população desprovida do “conhecimento” que entendiam como o “do mundo” e, em contraste com os índios, possuíam planejamento suficiente para, pelo visto, atravessarem o oceano em caravelas. Os portugueses trouxeram outros valores sociais e, face a sede de “companhias” logo iniciam a “aproximação” cultural com as índias.

Se considerarmos o fator quantitativo e não o de dominância cultural, temos muito mais indígenas “à mercê” dos visitantes vindo do outro lado do mundo e estes logo se acostumaram a “não pensar no amanhã”. Era um local totalmente novo, sem necessidade de tanto trabalho como de onde vieram e com muitos mais prazeres.

Em algum tempo novos integrantes começaram a ser gerados destes encontros apesar da desaprovação da coroa e da maioria dos “homens de bem” que aqui aportaram.

De maneira geral a preocupação dos habitantes originais era apenas de acordar, “arrumar” algo para comer e esperar o dia seguinte.

Com o passar do tempo os negros foram inseridos no país como mão de obra escrava. Apesar de todo movimento de comercialização dos europeus, os negros escravos também eram resultados da captura resultante de guerras tribais e oferecidos como produto para compra por outros povos negros africanos vencedores das disputas.

Eram transportados em situações abaixo de sub-humanas nos porões dos navios e, naquele momento, sua preocupação era somente de sobreviver mais um dia, não havia a menor possibilidade de poderem pensar em um planejamento sequer de alimentação. Este fato reflete o imediatismo original em função de sua sobrevivência.

Vamos lembrar que este artigo não tem por objetivo demonstrar as condições de valor positivo mas relatar os motivos que ainda refletem em nossa sociedade que a impede de prosperar mais rapidamente através da retenção e do planejamento.

Durante todo período de escravidão, infelizmente, a preocupação dos negros e negras era de se manterem vivos apesar das grandes desumanidades e crueldades. Os estupros eram frequentes pois, salvo raros casos, negras eram também tidas como objeto de satisfação sexual de fácil acesso pois as brancas estavam indisponíveis na proporção “da necessidade” por questões culturais e de construções sociais que firmavam a moralidade da época.

Aqui também é importante falar a respeito das questões quantitativas. Em função da grande monta de embarcações que traziam escravos da África a população de negros era infinitamente maior que a de brancos e, posteriormente, de índios. Mesmo os frutos dos estupros e relações entre as etnias branca e negra e considerando os filhos gerados que permaneciam nas senzalas a preocupação com o futuro se resumia ao dia seguinte.

Vejam que passamos pelo “encontro” com indígenas e posteriormente com a “convivência” com negros mas para o maior número da “população”, formada por indígenas e negros, a preocupação era a sobrevivência do dia seguinte e, mesmo parecendo hipócrita, e longe desta intenção, não era possível qualquer planejamento em nível de sobrevivência tanto financeiro quanto mais social sendo estes privilégios da menor parcela da população.

Indo direto para a Abolição da Escravatura, em 1888, a população negra foi jogada à própria sorte não contando mais, apesar da condição, com a comida e o teto da senzala. Todos foram “empurrados” para a rua para “descobrirem” como iriam conseguir a comida para o mesmo dia. Aquela perspectiva do dia seguinte não existia mais, seu problema era como sobreviveria ao dia que estava vivendo.

Com isso qualquer valor que fosse conseguido através de trabalho ou, infelizmente, furtos eram utilizados para a comida do dia e, por sua própria condição, a impossibilidade de qualquer planejamento e/ou economia era distante demais para ser implementados.

Retornando à pirâmide de Maslow a maior parte da “população” continuava esmagada na primeira faixa, tendo que lutar pela manutenção das necessidades fisiológicas havendo, claro, raríssimas exceções.

Como, em função da evolução econômica, a concentração de dinheiro estava aumentando em um grupo cada vez menor e com a miscigenação entre as etnias, a quantidade de pobres e miseráveis também aumentava formando, em pouco tempo, uma população pobre de ditos brancos que passaram a sofrer um achatamento de necessidades relativamente semelhante ao dos negros e índios. Na prática, também brancos passaram a se preocupar com “o dia seguinte” ao invés de, na maioria, estarem seguros dentro dos patamares sociais e econômicos que eram mínimos para a época.

Essa “manutenção da pobreza” sempre foi interessante para os comandantes que, principalmente em período eleitoral, ofereciam comida, roupas e outros itens essenciais para a população de baixa renda conseguindo, desta forma, a garantia do voto para seus “escolhidos” políticos.

Após este “início de cultura” de imediatismo, apesar do café brasileiro ser o produto chefe de nossa balança comercial, o poder econômico continuava nas mãos de poucos. Os grandes centros tinham suas principais avenidas comandadas pelos reis do café enquanto a grande parte da população se acotovelavam nos cortiços e favelas. Neste ambiente continuamos com a “cultura” do imediatismo e a preocupação apenas com o dia seguinte com o agravante da violência tendo como resultados ilícitos principais o furto e o roubo.

Em 1929 a quebra da bolsa de Nova York fez com que os Estados Unidos também passassem por um período de incertezas econômicas, mas esta ocorrência refletiu em todo mundo. O café no Brasil não ficou de fora deste desastre e o imediatismo de sobrevivência passou a alcançar outras camadas sociais que, até então, se sentiam seguras. Nosso principal problema sempre foi a moeda instável e, normalmente, de menor valor comparado ao dólar. Esta característica aumenta o tempo de recuperação na ocorrência de incidentes econômicos.; amplia a incerteza de mercado e, consequentemente, aumenta a ansiedade em todas as camadas sociais com ênfase nas mais baixas que precisa se preocupar com o dia seguinte sem, ainda, a possibilidade de planejamentos justamente por falta de dinheiro.

Apesar da manutenção da pobreza ser uma “excelente opção” para os governantes, pelo controle sobre a população sempre fácil, a história ofereceu momentos de maior tensão para os mais pobres sempre em número excedente. Em 1973 e em 1979 as grandes crises do petróleo avassalaram a economia e, novamente, a incerteza e falta de dinheiro propagaram grande temor dando a continuidade à manutenção. Neste caso estou me dirigindo com mais especificidade à região Sudeste, Sul e parte da região Centro-Oeste. As regiões Norte e Nordeste sempre foram locais de grande exploração humana com preços muito baixos e, principalmente por este motivo, nortistas e nordestinos começaram a migrar para as regiões “mais ricas” em busca de sustento mas, não esqueçamos, que sua cultura do “dia seguinte” continuava em sua natureza humana e apesar dos habitantes do norte e nordeste terem sido, indubitavelmente, os responsáveis pela construção das outras regiões ainda eram contratados a preços inferiores ao do mercado dando, desta forma, continuidade à cultura do “dia seguinte” por se tratar de uma herança cultural e tendo sido “implementada” no período de construção das personalidades pelas baixas condições de sobrevivência em suas terras natais.

É importante compreender que em momento algum existem culpados apontados neste texto. São comprovações históricas e ligações que vão justificar a impossibilidade e incapacidade da maioria do povo brasileiro de gastar com consciência e planejamento.

Tanto o rádio como a televisão no Brasil aumentaram consideravelmente o oferecimento de produtos mesmo esta não tendo condições financeiras, pois mesmo não possuindo condições de comprar os aparelhos não era incomum que os vizinhos se reunirem nas casas dos “mais abastados” para ouvirem e verem a programação que era mantida com o patrocínio das mais diversas marcas e produtos. Com isso a publicidade, além de manter os veículos de comunicação, começavam a gerar desejos de mercado em uma população predominantemente pobre que tinham como “artifício” o pagamento parcelado em médio prazo. Como marco de grande alteração no quantitativo de informações a internet, na década de 80, massificou ainda mais o oferecimento de serviços e produtos que também eram “viabilizados” através dos cartões de crédito, empréstimos e créditos pessoais do sistema bancário.

Na década de 90, mais precisamente no mês de março de 1990, a inflação alcançou o absurdo índice de 82,39% em um mês. Os preços dos supermercados eram alterados por dia e, tanto neste período como nos anteriores e seguintes, a população sempre perdeu poder aquisitivo aumentando, dentro deste contexto, a ansiedade e a necessidade de comprar tudo para o dia seguinte pois a incerteza era contínua e eminente. A população assalariada possuía a perda do poder econômico dia após dia. Este comportamento fez com que esta sociedade já distante da exploração dos colonizadores, distante também, em sua maioria, do controle dos coronéis e, principalmente, já formada com horizontalidade garantida, continuasse a se basear na necessidade de preservar a sobrevivência do dia seguinte pois a economia a forçava a não ultrapassar da faixa de segurança, segunda da pirâmide de Maslow.

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A partir dos anos 2000 novas perspectivas de necessidades foram inseridas na sociedade com ênfase aos aparelhos eletrônicos conectados à internet. Este movimento encabeçado por celulares, com cada vez mais recursos, aceleram a sociedade e tornam o imediatismo uma corrente forte e constante. Concluem a terceira faixa da pirâmide de Maslow (social) dando “acesso” à quarta (estima) de forma maciça. Neste momento a estima nunca esteve tão próxima e a sensação de realização pessoal é eminente gerando ainda mais ansiedade e “obrigando” os crediários em busca da felicidade mesmo gerando estragos no comportamento financeiro individual e familiar.

Até 2020 a ansiedade de consumo foi concentrada em itens eletrônicos com acesso à internet, no início PC’s, depois notebooks e após celulares que, gradativamente, concentraram esforços em sua evolução à medida que a internet se popularizava ainda mais. As empresas geravam grande expectativa e, assim como tênis nas décadas de 70 a 90, o celular era o “comprovante” mais acessível de ascensão social pois refletia a capacidade de compra entre os menos abastados. As faixas superiores ainda demonstram seu poder aquisitivo com casas e carros, mas, normalmente, não sofrem de consumismo descontrolado como as faixas mais baixas.

Compreendam que a todo instante o mercado oferece novas “modas” de demonstração de sucesso, poder aquisitivo e realização pessoal, esta última localizada no nível mais alto da pirâmide de Maslow e, dentro de seus grupos, podem, com grande sacrifício, se demonstrarem realizados mesmo que as outras faixas sejam castigadas pelo desejo de notoriedade.

A discussão, desde o início, foca a população de baixo poder aquisitivo que, raras exceções, são de número muito maior àquelas que realmente possuem condições. Sua perspectiva de auto realização não está embasada no conhecimento, no sucesso ou no reconhecimento de toda a sociedade. É movimentada pela horizontalidade de seus “concorrentes” não conseguem, normalmente, ascender financeiramente e quando isso ocorre não são reconhecidos em outras faixas sociais. Este paradigma acaba condenando seus elementos ao estigma da paralização vertical onde, ao invés de traçar um plano de ascensão simplesmente procuram ocupar os locais mais altos de onde sempre estiveram. Para nosso contexto, e exemplificando de forma prática, é muito mais simples encontrar um assalariado com, por exemplo, um tênis de valor de compra 2 ou 3 vezes maior que seu rendimento a encontrar “ricos” com esta particularidade mesmo porque raramente terão o rendimento vencido por qualquer produto. Aqueles que se comportam desta forma normalmente são rendidos pela falência financeira como aconteceu, por exemplo, com Maicon Jackson.

Entre 2020 e 2021 a pandemia de Corona Vírus (Covid 19) gerou grande temor em toda humanidade. Toda certeza que havia sido planejada e concretizada no decorrer dos séculos foi abalada pelo mesmo motivo já exposto: O temor da morte. A contagem regressiva para o encontro inevitável, mas, desta vez, abreviado para algumas semanas.

Diferente dos outros movimentos contemporâneos, onde a ansiedade do consumismo foi substituída pela morte de milhares de pessoas e a falta de perspectiva para o dia seguinte deixou de existir de uma função de uma necessidade básica fisiológica para alcançar diretamente o nível de segurança, o mercado não tinha soluções para resolver esta equação pois tanto a alimentação quanto medicamentos compuseram valores semelhantes neste período. Houve uma retração mundial de mercado dos produtos e serviços até então normais. Toda sociedade estava focada sobreviver tanto à possível fome quanto à doença causada pelo vírus.

Acompanhando o pensamento de Martin Heidegger onde a insatisfação e o “oco” da alma é característica básica do ser humano e também considerando que a hierarquia das necessidades nunca foi tão demonstrada do que nesta fase mundial, a preocupação em priorizar a terceira, quarta e quinta faixa da pirâmide de Maslow volta a ser evidente depois da vacinação e de supostas soluções para a pandemia. A satisfação pessoal (última faixa), que só poderá existir após satisfeitas as demais, força o “ser humano comum” a, literalmente, comprar com seu trabalho e dinheiro o acesso às faixas inferiores. Com isso o motor propulsor das vontades, a insatisfação, volta a compelir os grupos a gastarem cada vez mais, sem planejamento e sem previsão de êxito, pelo reconhecimento de conjuntos normalmente superiores social e financeiramente.

Evidentemente que todas as conjunturas aqui apresentadas possuem vários outros fatores a serem considerados, mas, os resultados estão à mostra de qualquer parcela da população e, por menos que possa admitir os mecanismos são repetidamente utilizados para a movimentação do mercado com exceção do período entre 2020 e 2021 onde ocorreu uma pandemia mundial, mas, o retorno gradativo das atividades econômicas, financeiras e comerciais implicarão, obrigatoriamente, na extensão dessa mola reprimida durante a pandemia. De acordo com os fatores filosóficos e históricos a possibilidade de endividamento da maior parcela de população e muito possível tendo com parte deste movimento a oportuna utilização da ansiedade “adquirida” historicamente que perenizará a falta de planejamento e a impossibilidade de economia financeira nos grupos e famílias brasileiras.

CONCLUSÃO

Neste momento unirmos os argumentos aqui demonstrados e concluímos que em função da insatisfação permanente do ser humano, conforme Martin Heidegger provou e considerando também a pequena quantidade de indivíduos que ultrapassam a terceira faixa da pirâmide de Maslow e, principalmente, as questões culturais herdadas dos acontecimentos históricos, concluímos que o consumismo e necessidade de gasto imediato são resultados da necessidade de sobrevivência do dia seguinte tanto citada anteriormente. Nossa população não recebe educação financeira em sua formação, é impactada com o oferecimento de centenas de milhares de propagandas com produtos atrativos e as necessidades sociais de manter integrada ao grupo (moda que satisfaz a terceira faixa da pirâmide de Maslow) cria um curto circuito entre a possibilidade e necessidade. Para uma solução desta questão seria necessária uma maciça implementação de educação financeira familiar nas escolas de todo país além da conscientização dos atuais consumidores da sua real necessidade dentro do período de um ano.

Apresento então os principais motivos da impossibilidade de diminuir seus gastos e de realizar economia para planos futuros da sociedade: Ansiedade, medo da morte e moda como forma de integração social.

Este artigo é para que você possa sentir-se um pouco mais cômodo(a) com sua compulsão por compra, por gastos e constante falta de planejamento. Isso não significa que é uma justificativa para continuar desta forma, muito pelo contrário! A intenção é fazer você saber do problema e poder combater essa cultura com base histórica e filosófica.

Entenda o problema para uma boa solução

Abraços!

Ouça no ANCHOR o áudio deste artigo

https://anchor.fm/daubert-gonalves7/episodes/POR-QUE-VOC-NO-GUARDA-DINHEIRO---POLIS-PODCAST---21122021---Por-Daubert-Gonalves---146-e1c3ct9

 

 

 

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