A PORTA ABERTA QUE ESPERA A TUA VOLTA
Foi depois que você foi embora
Que eu percebi o quanto havia de mácula,
De fábula,
De tática
Nesse medo que eu tenho da intimidade.
Eu só em verdade vejo agora
O quanto de estúpido,
De espúrio,
De ridículo
Eu fui em toda a minha maldade.
E a maldade é coisa que se desarvora,
Mas sempre lúcida,
Sempre cúpida
Ou mesmo lépida,
Pois esquecimento é a arma de quem tem saudade.
Eu desejei que você nunca mais tivesse alegria;
Que tivesse uma doença ou uma dor de dente;
Que ficasse presa no trânsito horas, por um dia!
Que torcesse o pé em um inesperado acidente;
Eu quis que você fosse alvo de uma louca patifaria.
E eu que te vi partir, mas te queria aqui, presente,
Sou categórico em dizer mi’a ordinária nostalgia:
Confesso que sou, dos tratantes, o mais competente.
E exibo – com orgulho – minha vergonhosa utopia.
Gosto de dizer que sou falho, sou fraco, sou gente,
Mas, no fundo, só justifico toda a mi’a covardia,
Pois subterfúgio é a arma dum apaixonado carente.