Pré de seis
Na minha época os meninos mais pobres, ou que as mães não trabalhavam fora, começavam a estudar aos seis anos, no muito cinco. Não é essa crueldade de hoje em dia, onde recém nascidos são tirados de suas mães e entregues aos maternais. Mas o assunto não é este. Era uma época que só de poder matricular seu filho em alguma escola, nessa idade, já era uma enorme conquista. Morando na área rural de uma cidade do interior então, uma vitória.
A partir daí construía-se um sentimento que o filho teria chance de dar certo, estudar e não ter uma vida tão dura quanto à dos pais. E ao longo dos anos você era instruído a ser um bom aluno, tirar notas boas, estudar muito, respeitar os professores, não matar aula, não colar, etc. manual básico de um bom aluno. Esta postura era passada como condição sine qua non para se ter uma vida profissional de sucesso. Basta estudar para ser bem sucedido profissionalmente. Ponto.
Um fato interessante de morar no interior é que você tem a oportunidade de acompanhar a vida das pessoas- não estou falando de fofoca, embora ela seja peça chave nos dias de pouca coisa para fazer- então, é possível construir amizades de muitos anos, aquelas que só acabam com a morte em idade avançada. É possível ver o que fulano “deu na vida”, o que aconteceu com aquela moça tímida, ou o filho de pais separados. O rapaz inteligente que tinha tudo para dar certo mas se perdeu nas drogas; a menina que foi mãe aos quinze e virou dona de casa; o menino afeminado que se casou com a gostosa; a gordinha que virou gostosa; a gostosa que ficou gordinha, o gatinho que ficou careca e barrigudo, o rebelde que foi morto por traficantes; o mau aluno que virou traficante. Se você for do interior vai entender.
Em resumo, sua vida vai se desenrolando ao longo dos anos com um número de pessoas conhecidas relativamente grande. E acompanhando meus amigos e conhecidos eu percebo que economicamente, nenhum dos bons alunos está muito bem, milionário. NENHUM. É verdade que uns dois pertencem à classe média, uma meia dúzia tem um emprego regular. Mas dentre os milionários nenhum foi bom aluno. Só ganhou dinheiro de verdade quem colou, pulou muro da escola, deixou de fazer dever de casa, assumiu que odiava matemática, quem teve coragem. Quem teve atitude e não baixou a cabeça o tempo todo para tudo que lhe foi imposto. Quem assumiu riscos e fez diferente.