Precisa de tempo para criar algo? Antes crie tempo.
Talvez uma grande falácia dos nossos tempos é essa eterna busca por tempo, especialmente o tempo para nos dar o direito de fazer algo de que realmente “vale a pena”.
O condicionamento da felicidade à plenitude vem arraigado a pensamentos como: “quando eu tiver dinheiro suficiente, vou largar esse trabalho ingrato”, “quando subir de cargo, vamos finalmente tentar engravidar”, “estou com colesterol alto, mas não consigo correr 20 minutos 3 vezes por semana... sabe como é, vida corrida!”, “adoraria aprender a cozinhar alguma receita especial, mas acabo fazendo sempre esse macarrão instantâneo, é mais rápido”, “nossa, eu adoro teatro, mas faz anos que não assisto a uma peça!”.
Estas frases eu ouço, algumas de mim mesmo, todos os dias. Somos muito dedicados e criativos na hora de criar justificativas para não fazer o que realmente queremos, ou melhor, para nos impedirmos de fazer exatamente o que sonhamos. Difícil é aceitar que em muitos casos a maior limitação parte de si mesmo.
Temos a sensação de que vivemos uma falta de tempo crônica, o que soa como uma incoerência. Este sofrimento é imposto pela mais democrática das limitações da vida: todos temos 24h por dia. O que nos difere, afinal? O que me permite contar uma história sobre a minha vida diferente de outra pessoa, que, invariavelmente, sofre a mesma imposição? Como algumas pessoas conseguem fazer render seu tempo e aparentemente tem dias mais longos que os meus?
Vejo muitas pessoas terem uma dedicação fora do comum para conquistar o que buscam e desde muito jovem não me poupei para experimentar diferentes atividades e para tentar criar projetos de diversas naturezas. Naturalmente eu não era a pessoa mais preparada, longe disso, para muitas das tentativas a que me propus, mas aí está o começo da mágica de criar tempo: o improviso.
Não damos ao improviso o real valor que ele tem. Improvisar não é buscar uma saída de última hora para uma questão que surge repentinamente, mas é estar o mais preparado possível para situações inusitadas, com todo o seu repertório pessoal e habilidade de resolver problemas, para que o tempo não seja o maior determinante para se escolher uma saída. Ficou confuso? Eu explico. Sabe quando a Alice, andando perdida no País das Maravilhas, encontra o gato em uma bifurcação e pergunta qual era o melhor caminho? O gato pergunta aonde ela quer ir e ela disse que não sabia? O gato, sabido e irônico, responde que para quem não sabe onde quer chegar todos os caminhos são bons, pois todos levam a algum lugar. Pois bem, aí começa o contrassenso.
Tenha foco: “para quem não sabe onde quer chegar
todos os caminhos são bons”.
A maior virtude de um profissional hoje não é mais conhecer todas as possibilidades, nem mesmo ter certeza de tudo o que será decidido, mas certamente será demandado por decisões cada vez mais rápidas com um conjunto cada vez mais escasso de informações. Feliz daquele que escolher os melhores caminhos com velocidade, sem precisar recorrer a bases de dados e análises complexas. Daí a falta de tempo, que é acrescida ao que o pai da disciplina da Arquitetura da Informação, Richard Saul Wurman, chamou de a Ansiedade da Informação: sabemos que não temos tempo em vida para consumir todo o conhecimento produzido sobre determinado tema que nos apaixona. Wurman é um exemplo de gênio na arte de criar tempo: entre inúmeras atividades, o arquiteto e designer gráfico, escreveu mais de 80 livros e criou a conferência TED. Um sujeito que vale a pena estudar.
Talvez a felicidade não seja a sobremesa da vida, que será recolhida como um extrato do balanço das suas conquistas. Pode ser melhor tentar equilibrar um pouco a rotina para se experimentar novos aprendizados, que te desafiem e coloquem à prova exaustivamente, assim não deixamos de encontrar tempo para tentar novamente e melhorar. A escritora britânica do final do século XIX, Susan Ertz, simplifica a questão de forma atemporal: “milhões de pessoas que buscam a imortalidade não sabem o que fazer em uma tarde chuvosa de domingo”.
Tempo não existe. Se quer ter tempo para fazer algo que te apaixona, crie tempo. É possível e, acredite, mais fácil do que imagina. Aproveite suas tardes de domingo, começando pelos dias de chuva. Como dizia Ziraldo, outro grande criador de tempo, “o tempo que você gasta sonhando é o mesmo que você gasta fazendo”.
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Todo mundo conhece alguém que não para quieto e toda hora aparece com uma nova sarna para se coçar, não? William Hertz, é desses: sócio-diretor e co-fundador da apis3 e de suas subdivisões apis3 play (cultura e entretenimento), apis3 school (cursos e palestras) e apis3 gov (governo e cidadania), e dá aulas e palestras em faculdades e pós-graduações pelo Brasil. Já co-fundou iniciativas como a rede Good People Share, é mentor Endeavor e foi líder da campanha digital do candidato à presidência Aécio Neves em 2014.
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Gerente de Desenvolvimento de Sistemas da empresa Confitec
9 aÓtimo texto. Consegui fazer uma comparação entre o tempo gasto em compromissos profissionais e compromissos pessoais. Hora de realizar algumas mudanças.
Engenheiro civil | ENGEPRO ENGENHARIA GERENCIAMENTO E PROJETOS
9 aIncrível.
Founder and Mentor na Maha Mentoring. Consultoria/Mentoring
9 aMuito bommmm !!! O tempo é aqui e agora...