Precisamos falar sobre Educação(?)

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Precisamos! Quem não trabalha com Educação, tampouco convive com quem trabalha, ou o mais próximo é o irmão, filho, sobrinho que ainda está em idade escolar, o que sabe sobre o assunto? PNE, LDB, DCNEI, BNCC etc. são siglas que a grande massa não conhece, diferentemente de IPVA, FGTS ou PIS. E isso acontece porque não falamos de Educação.

Tomo meu exemplo. Nasci dentro de uma escola, com pais donos de uma. Cresci um pouco em meio a alunos da minha idade e professores. A escola acabou junto com o casamento, e passei a ver no meu pai, pedagogo, matemático, a personificação do ambiente escolar. Talvez por ele Paulo Freire e sua Pedagogia do Oprimido tenham sido praticamente entidades presentes na minha infância e juventude. Tive sorte de estar sempre rodeado de bons livros.

No Ensino Médio, após titubear pelas Letras, Artes Visuais ou História, acabei no Jornalismo. E minha relação com a Educação mudou, para não dizer morreu. Troquei Freire por Adorno, Piaget por Santaella, Vygotsky por Gutemberg. E tudo que era sobre Educação em minha vida deu lugar à Comunicação, à vida das redações, das agências, do jornalista diário, das reportagens e histórias de vida. Ponto.

Desde que sai da escola até começar a trabalhar em uma empresa de Educação, foram 7 anos. Então, passei boa parte da minha vida sem sentir o impacto que a Educação causa na vida das pessoas. E, a meu ver, esta é a principal consequência de não falarmos de Educação. Você não precisa impactar para entender esse poder, basta estar lá, presenciar, dar o mínimo de atenção. Mas, de quem é a culpa?

Vejamos: o que se vê na mídia sobre Educação? Ou novas políticas públicas, ou casos de superação. Uma é essencial, a outra importante, mas não somente isso. Segundo pesquisa realizada pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), políticas públicas é o tema mais procurado por quem tem interesse na área, seguido de formas de aprendizagem e metodologias pedagógicas. Superação, um dos menos citados. Ainda no estudo da instituição, percebe-se que temas ligados às necessidades do dia a dia são mais requisitados, como vagas em creches ou a inscrição para o ENEM. O que podemos compreender sobre isso: pouco se procura, se procura o que se precisa. O baixo consumo de notícias sobre Educação pode estar relacionado ao fato de as pessoas não captarem o impacto das informações em suas vidas, ou porque é mais fácil entender “como será” ou se encantar pela história de alguém.

O baixo consumo de notícias sobre Educação pode estar relacionado ao fato de as pessoas não captarem o impacto das informações em suas vidas

Quantos projetos bacanas são desenvolvidos em escolas de ponta a ponta, quantos professores se dedicam ao máximo, muitas vezes ensinando disciplinas totalmente divergentes, como Matemática e História no Ensino Fundamental, quantos termos surgem a cada dia no pedagogês e ninguém além dos muros das escolas fica sabendo... A engrenagem gira a toda hora, muda vidas a todo instante, mas as pessoas parecem não perceber isso.

Discutir sobre Educação no dia a dia, sem politicagem, claro, é uma obrigação moral para todos nós. Existe um sem fim de canais abertos para elucidar dúvidas, compartilhar projetos, divulgar experiências, mostrar o que está sendo feito (ou deveria) para melhorar o ensino no país, a qualidade dos professores, o aprendizado dos alunos.

Certa vez ouvi: ‘Educação, Educação, Educação”. Nem precisa destrinchar muito, pois a palavra já fala por si. Vamos falar mais sobre Educação. Não adianta nada assinar a agenda do irmão, filho, sobrinho, sem saber o que se passa na escola. Pesquise, questione, discuta, entenda. Fica o apelo: seja questionador, crítico, participativo, como quer que nossas crianças e futuros adultos sejam.


Wescley Gomes

Jornalista, blogueiro, assessor de comunicação, editor e revisor de textos, gestor e produtor cultural

5 a

Excelente e pertinente reflexão, Eduardo.

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