Precisamos hiperfocar
Somos aquilo em que prestamos atenção. Em tempos de conectividade ininterrupta, com o smartphone gerenciando a rotina, uma série de questões vem à tona, sobretudo quanto ao foco e à produtividade, haja vista o tempo excessivo nos aplicativos e nas redes sociais (“paraíso da irrelevância”, para o filósofo Luis Felipe Pondé).
Carregamos o mundo em nossas mãos. Curtimos postagens e postamos em uma busca frenética por curtidas, ações cujo prazer reside na liberação de dopamina pelo cérebro diante de interação e validação social. Seres gregários, somos beneficiados pelo papel do celular frente às relações, pois interagir é necessário. Todavia, como diria Cedric Price, “a tecnologia é a resposta, mas qual era a questão?”.
O brasileiro fica em torno de quatro horas por dia no celular. As implicações são diversas e há vários estudos em andamento, principalmente no campo da Psicologia e no da Neurociência. Infelizmente, alguns riscos são ainda pouco debatidos, a exemplo da queda drástica da produtividade. Tal conjuntura leva ao paradoxo do “não tenho tempo!”, enquanto minutos preciosos e esparsos do dia se esvaem por entre nossos dedos e telas.
Assim, o hiperfoco (foco total em uma atividade) surge como alternativa, objetivando mais rendimento, sem prejuízos sociais. Isto é, não precisamos nos desconectar, porém o uso limitado e pontual do smartphone beneficiaria trabalho e estudo. É o que afirma o especialista em produtividade Chris Bailey, no livro “Hiperfoco”: sobrecarregamos nosso “espaço atencional”. Para o autor, as redes sociais são uma “espiral de distrações” e a conectividade constante perturba a concentração. E uma saída seria, por exemplo, desabilitar notificações, decidindo quando usar o celular em vez de “ser usado” por ele. Isto porque levamos em torno de 22 minutos para focar novamente em uma tarefa depois de distrações e interrupções.
Em que nosso cérebro está prestando atenção? As redes sociais, armadilhas projetadas para nos prender num loop de distrações, nos conectam ou nos engolem, como buracos negros da produtividade? A resposta é um desafio para empresas, instituições de ensino, famílias, diante da urgência em trazer a atenção de volta à intenção. Se a diferença entre o veneno e o remédio reside mesmo na dose, tal como alertou Paracelso, o hiperfoco surge como antídoto, principalmente contra nós mesmos.