Precisamos nos des-cartesianar!
Descobri esses dias este livro, “Catatau”, o primeiro do Paulo Leminski. A premissa é deliciosamente doida: trata-se de uma visita fictícia de René Descartes ao Brasil, que teria vindo para cá com as embarcações holandesas no século 17. No Nordeste, o filósofo do “penso, logo existo” tem alucinações ao perceber que sua lógica é incapaz de dar conta do que seus olhos veem: cores vibrantes, fauna e flora tropicais, aquele calor. Tudo o que ele enxergava era muito absurdo para sua compreensão.
Imediatamente me veio uma imagem na cabeça: como seria se Descartes chegasse hoje a alguma empresa ou organização para uma visita? Aposto que ele também alucinaria. Afinal, processos e pessoas são universos cheios de complexidades, com camadas que se sobrepõem e se complementam. Imagino que o próprio Descartes diria que a lógica cartesiana já não cabe mais em projetos criados em pleno 2021.
Olhar menos para essa lógica exata e mais para a ideia de simbiose: esse é o caminho para iniciativas centradas nas pessoas, que sejam relevantes. Se queremos tanto conexões verdadeiras, precisamos ter um pensamento sistêmico. É essa visão sistêmica que nos permitirá “desemaranhar” em partes o catatau de problemas complexos. Para então, começar a resolvê-los.
Por isso eu acho que está mais do que na hora de des-cartesianar, com o perdão do trocadilho!
Em tempo, o “Catatau” foi lançado pelo Paulo Leminski em 1975. É um romance experimental de leitura quase que impenetrável. Sem divisão por parágrafos ou capítulos. Inicia-se, inclusive, em letra minúscula. “ergo sum, aliás, Ego sum Renatus Cartesius, cá perdido, aqui presente, neste labirinto de enganos deleitáveis” é a primeira frase da publicação.
Estamos todos neste labirinto. E a melhor forma de sair de um labirinto é analisar todas as suas partes :)