Preocupe-se produtivamente

Após 31 anos atuando no segmento de Oil & Gas nas distribuidoras Ipiranga, Alvo e BR Distribuidora, dos quais 19 atuei como gestor, optei por aderir ao Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário disponibilizado pela BR, assim como mais de mil colegas o fizeram. Fui desligado ontem, de forma que hoje, é o meu primeiro dia da primeira vez em que me encontro em transição de carreira na minha vida profissional.

A preocupação é mais do que natural. Não tenho tempo de contribuição, muito menos mindset, para me aposentar. Mesmo contando com o precioso apoio da Lee Hecht Harrison nesta nova jornada, e confiando muito na qualidade do meu CV e das minhas qualificações, surgem muitas dúvidas.

Neste momento, cresce o valor dos mentores e coachs, de todas as áreas. Assim sendo, foi com gratidão que recebi da minha psicoterapeuta, Dra. Elda Mirelli de Oliveira Rios, um oportuno material, na realidade um capítulo do livro “Como lidar com as preocupações – sete passos para impedir que elas paralisem você”, de Robert L. Lehay. Compartilho aqui com a comunidade do LinkedIn algumas recomendações do autor que julgo fundamentais neste momento, ou em qualquer ocasião estressante.

É fundamental distinguir as preocupações produtivas das improdutivas. “Preocupação produtiva é aquela que o ajuda a resolver problemas e conduz a uma ação que se pode realizar no momento. Preocupação improdutiva é aquela que gera uma porção de e-se que não conduzem a qualquer ação prática concreta”, esclarece o autor.

A preocupação produtiva nos impele para frente, em direção às ações que vão resolver os problemas. As preocupações improdutivas, os “e-se” como chama o autor, nos paralisam. E nas ocasiões estressantes, é incrível como os “e-se” se multiplicam como coelhos, principalmente à noite, quando colocamos a cabeça no travesseiro.

“Preocupe-se de modo eficaz”, recomenda o Dr. Robert Lehay. Interessante ressaltar que seu conselho não é simplesmente “não se preocupar”, seria ingênuo, conforme o próprio autor classifica. “O importante é ser capaz de determinar quando deve prestar atenção a uma preocupação em particular e quando descartá-la”. Segundo o autor, aprender a se preocupar de modo mais eficaz envolve três passos:

 1. Distinguir as preocupações produtivas das improdutivas.

 2. Lidar com a preocupação improdutiva sem usar preocupação.

 3. Transformar a preocupação produtiva em solução de problema tão logo seja possível.

As preocupações improdutivas geram muita ansiedade. Como elas não estão no nosso controle, não há providências ou ações que possam ser tomadas imediatamente, portanto, vão ficar martelando enquanto não saírem do seu radar. O Dr. Lehay enumera 4 influências que podem desviar um indivíduo para uma preocupação improdutiva:

1)           Preocupação com questões sem resposta;

2)           Preocupação com a reação em cadeia dos acontecimentos;

3)           Rejeição de uma solução por não ser perfeita;

4)           Pensamento que devemos nos preocupar até nos sentirmos menos ansiosos;

5)           O desejo de controlar tudo.

Com certeza, já nos deixamos envolver com uma ou mais situações como estas. O primeiro item por exemplo, é típico dos momentos que antecedem reestruturações nas empresas. As áreas ficam paralisadas, tentando adivinhar as alterações que vão ocorrer e os impactos pessoais. É uma típica preocupação improdutiva. Não está sob seu controle. O melhor a fazer é continuar trabalhando com a eficiência e o afinco de sempre.

E se a situação econômica do Brasil não reagir ? E se o que chamamos comumente de “dor de barriga”, ou seja, uma necessidade não esperada de dispêndio monetário acontecer ? E se o Corona Virus se tornar uma pandemia de dimensões globais ? São todas preocupações improdutivas, as soluções, se é que os problemas existem, não estão ao seu alcance, é inócuo se preocupar.

E se eu não conseguir uma recolocação em um ano ? E se eu errar nas alternativas de investimento do recurso que vou receber no Desligamento Voluntário ? E se minha opção em termos da aplicação da Previdência Complementar não for a melhor ?

Se o profissional em transição de carreira investiu o tempo necessário para aprimorar seu LinkedIn e seu CV, e estudou detidamente todas as opções financeiras disponíveis, os “e-se” do parágrafo anterior também são preocupações improdutivas. Investir para aperfeiçoar seus pontos fracos, buscar ajuda técnica para deixar seu CV e seu LinkedIn no nível de qualidade que o mercado demanda, focar no seu networking, estas são preocupações produtivas, induzem a ações. Feito isto, não há mais com o que se preocupar, vai dar certo.

Preparo minha conclusão aludindo outro psicólogo, na realidade psiquiatra e neurologista por formação, Vitor Frankl. Recomendo fortemente a leitura de seu livro “Em Busca de Sentido” (Ed. Vozes, 47ª edição, 2019), no qual ele descreve, não só como vítima mas também sob a ótica de um médico, sua experiência como prisioneiro nos diversos campos de extermínio pelos quais passou durante a Segunda Guerra Mundial.

Frankl utiliza os “cases” dramáticos vividos naquele ambiente desumano para trazer lições que podem ser aplicadas nas nossas vidas. Com base nas experiências relatadas no livro, Frankl criou um ramo da psicologia que denominou de “logoterapia”, a busca do equilíbrio psíquico e emocional através da identificação e perseguição tenaz do sentido de vida do indivíduo.

É de Frankl uma frase que sempre achei inspiradora, e agora para mim foi promovida a lema: “Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quando a situação não puder ser transformada, transforme-se”.