Preterida por ser mãe
Foto: Mayara Neves

Preterida por ser mãe

Esta semana, um caso viralizou nas redes sociais: uma mãe foi preterida para uma vaga de gerência durante um processo seletivo, mesmo chegando a ser a única com as competências exigidas para o cargo, sob a justificativa de que a diretoria da empresa acreditava que ela não daria conta do cargo por ter dois filhos pequenos.

Por mais absurdo que isso seja, não estamos falando de exceção. Em inúmeros relatos que acompanhamos na timeline da Rede Maternativa, que atualmente conta com mais de 15 mil membras, é comum acompanharmos diversas histórias semelhantes. Inclusive, motivada por esses relatos, escrevi em 2015 um artigo para o site Think Olga falando justamente sobre como o mercado de trabalho tradicional fecha as portas para a mulher que é mãe.

 "Ao entrar em uma sala de reunião com um barrigão, não é incomum que todas as suas colocações sobre o tema discutido acabem se desenvolvendo em seguida para o fato de você 'não precisar se estressar com isso' ou 'deixa que a gente cuida disso, vá descansar' e por aí vai. Não é à toa que a maioria das ótimas profissionais que conheci escolhem traçar uma rota alternativa. A mulher se torna mais e melhor no momento da maternidade mas precisa lidar com pessoas que acham que ela agora é ' café-com-leite', que não sabe direito o que está fazendo, etc. Você vira uma caricatura pra muita gente." (Renata Decoussau, 34 anos, publicitária, mãe da Laura de 3 anos)

Quando questionamos sobre quais políticas afirmativas as empresas tem adotado junto às suas funcionárias que são mães, é muito comum recebermos respostas bastante positivas, exemplos de práticas excelentes, além de estatísticas que comprovam o quanto aquela empresa está engajada em promover um ambiente mais acolhedor e que permita que essa mulher possa ser mais produtiva e ter mais qualidade de vida no trabalho. Quando abrimos nossa timeline, que é esse canal direto de escuta junto ao público materno, a resposta é bem diferente.

Isso nos faz concluir que essa miopia empresarial está, infelizmente, apoiada por um paradigma que lutamos diariamente para desconstruir: que a mulher é a única responsável pelo cuidado com os filhos. Na matéria que abre este artigo, ao final, descobre-se que a vaga em questão foi preenchida por um homem. Homem esse que não sabemos, até então, se tem ou não filhos. Entretanto, deixo aqui a pergunta: se ele tivesse, será que isso teria feito alguma diferença em sua contratação? Certamente não.

É urgente e necessário que todos possamos desconstruir a ideia de que a participação masculina no cuidado com os filhos é secundária e que a mulher é e sempre será a "grande" cuidadora da família. Isso não é verdade. Com mulheres cada vez mais escolarizadas e capacitadas, ascendendo em suas carreiras no mesmo período em que sentem-se confortáveis e confiantes para serem mães, o mercado de trabalho precisa se rever, por que nós não vamos ficar em casa (a menos que a gente realmente queira). As empresas que não observarem a importância e a necessidade de transformar o seu olhar e o seu modus operandi em relação às mulheres que são mães, vão ficar presas no passado, vão abrir mão de mais da metade da força de trabalho e, consequentemente, perder talentos e dinheiro.

Tomara que o caso de Sonia Tomiyoshi possa, finalmente, trazer luz a essa questão.

Realmente, esse pensamento que só a mulher tem o dever de cuidar de tudo dentro de casa, no lar e que por ter filhos pequenos, precisa ser modificado, até porque nos dias atuais vemos homens que são pais solteiros que trabalham e cuidam de seus filhos, fazendo os dois papéis de pai e mãe, e não são vistos como incapazes que não vão dar conta do trabalho por ter filhos...nós mulheres somos multi-tarefas e damos conta de muitas coisas, é claro que quando o marido ajuda dentro de casa é melhor ainda, nem que seja lavando uma louça (pelo menos),mas o que geralmente acontece é que nós mulheres somos as administradoras de nossas casas, e damos conta de muita coisa e por que não daríamos conta de trabalhar numa empresa...! Esse pensamento ta ultrapassado, deve ser revisto e as mulheres mais valorizadas como profissionais! Também sou mãe de um bebê que vai completar um ano em Março, goataria muito de voltar para o mercado de trabalho, mais vendo creches particulares, se eu for trabalhar e ganhar salário mínimo, so vai dar pra pagar a creche e não vai sobrar praticamente nada, só se conseguir vaga na pública mesmo, ou um emprego na minha área como técnica em radiologia, mas tá difícil pois, poucos lugares pagam o piso salarial e concurso pra área de radiologia no RJ não tem previsto...

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