Principais síndromes geriátricas
Por dois motivos resolvi falar sobre as principais síndromes geriátricas. O primeiro pois quando vamos ao ambulatório de geriatria, pensamos: “só saber tratar hipertensão e diabetes que tá safo!”, e em segundo porque vai cair amanhã na minha prova! Boa leitura!
A saúde do idoso é diretamente relacionada com sua Autonomia e Independência. E, como princípio na geriatria, devemos avaliar a capacidade do idoso em realizar suas atividades de vida diária (AVDs). Essa capacidade é diretamente relacionada com a cognição, incontinência urinária, humor, mobilidade, comunicação e presença familiar. Portanto a melhor forma de fazermos uma avaliação multissistêmica, no paciente geriátrico, é por esses domínios funcionais.
è Avaliação cognitiva
O primeiro ponto nessa avaliação é saber se a queixa do paciente causa um comprometimento das AVDs, sendo esse o fator mandatório para caracterizar o paciente com incapacidade cognitiva. Se for caracterizado, devemos determinar sua causa! Dentre elas temos as reversíveis (delirium e depressão) e as irreversíveis (demência e doença mental).
Nessa avaliação se faz necessário o uso de testes que avaliem o desempenho do idoso nas AVDs (escala de Katz) e nas funções cognitivas (mini exame do estado mental). Suas alterações falam a favor de delirium e demência. Para diferença-las, entende-las e ver algumas condutas bastaclicar aqui! Na suspeita de depressão podemos usar a escala de depressão geriátrica (EDG por Sheikh e Yesavage) e caracterizar o paciente pelo Manual Estatístico e Diagnóstico de Desordens Mentais (DSM V).
è Incontinência urinária (IU)
É caracterizada por qualquer perda involuntária de urina. Assim como na cognição, devemos avaliar seu impacto nas AVDs. Pela ordem de maior frequência, os tipos de IU são: por estresse, misto, urgência e transbordamento. No entanto, sua abordagem é iniciada pelos causadores reversíveis! Entendam que a IU é um problema, que muitas vezes implica em restrição social e até em imobilidade! Portanto quanto mais rápido revertermos esse quadro, melhor. Mas então, quais são as causas reversíveis?! Fácil! Sabe o “pinga pinga” da IU?! Do inglês é DRIP! Drogas; Restrita mobilidade; Infecções; Poliúria.
O tratamento é composto como base a aquisição de alguns hábitos de vida. Controlar o volume de líquido ingerido, evitar álcool e café, interromper tabagismo, tratar constipação e tratar comorbidades (pneumopatias, quando presentes). Fisioterapia é fundamental e extremamente eficaz. O uso de fármacos não é obrigatório mas, se usado, deve ser específico pro tipo de IU (alguém chuta qual fármaco é o melhor para cada tipo?!). A melhor forma de avaliar a eficácia do tratamento é questionar se houve melhora na qualidade de vida.
è Instabilidade postural (IP)
Tendo relação direta com a independência do idoso, a IP pode levar o idoso à queda, representando um dos grandes temores na geriatria, pois representa a sexta causa mortis de idosos e são responsáveis por 40% das internações. Sua fisiopatologia pode ser pontuada em: (1) visão, (2) sistema vestibular e cerebelo e (3) musculoesquelético. Qualquer alteração ou condições ambientais que exijam demasiadamente desses sistemas acarretará IP, ou seja, envelhecimento por si só não é causa de queda!
Frente a suspeita de IP, devemos pedir ao paciente que realize a manobra de “Timed up and go”. Se for feito em menos de 20 segundos e a marcha do paciente for normal, devemos buscar causas que levem secundariamente a IP ou problemas no ambiente em que o paciente vive. No entanto se o teste levar mais de 20 segundos, devemos avaliar os 3 pontos citados na fisiopatologia, acima.
Diferente do que a maioria pensa, a maior complicação da queda é o medo de cair novamente! E isso leva o paciente a ficar restrito ao leito levando a um pior condicionamento físico e assim favorecendo ainda mais episódios de queda. Portanto o paciente que somente apresentar o medo de cair, deve ser muito bem assistido, pois isso sugere que o mesmo tenha alta chance de sofrer um novo episódio.
O fundamental na IP é intervir nos riscos de queda. Para isso é fundamental exercícios de força, controle da pressão arterial, treino do equilíbrio sensorial e readequação do ambiente onde vive com a instalação de barras de segurança, melhora da iluminação, pisos antideslizantes e abominar os tapetes!
è Imobilidade
Entende-se como qualquer limitação do movimento. Em seu grau máximo é conhecido como síndrome da imobilização, sendo o idoso completamente dependente. Apresenta déficit cognitivo avançado, rigidez e contraturas generalizadas, afasia, disfagia, IU e fecal e úlceras de pressão. Necessita de cuidador em tempo integral.
Geralmente é constituído como etapa final da história natural da maioria das doenças que acometem os idosos. Alguma doença que levou a IP -> queda -> medo de cair novamente -> perda de condicionamento físico -> queda... -> Imobilidade. Possui critérios maiores e menores:
Maiores: déficit cognitivo médio ou grave; múltiplas contraturas
Menores: sinais de sofrimento cutâneo; disfagia; IU e fecal; afasia
è Incapacidade comunicativa e Insuficiência familiar
A incapacidade comunicativa está diretamente ligada com a independência e remete um sentimento de desconexão com o mundo (pensar na depressão). Por tanto é fundamental a avaliação constante das habilidades de linguagem, audição, motricidade oral e na fala.
A insuficiência familiar é agregada recentemente no contexto de grandes síndromes geriátricas, pois é decorrente do cenário social em que vivemos. A “falta de tempo” para o idoso, faz com que haja menor assistência domiciliar e com isso predispõe a quedas, desnutrições e outros eventos deletérios.
Como vocês viram, na geriatria não é só saber HAS e diabetes. Essas síndromes causam um grande impacto na vida do idoso e por isso é fundamental sua suspeição e investigação. Mas ainda não acabou... Por não estarmos muito familiarizados com essas condições, MUTAS vezes nós às induzimos! Qual o nome mesmo? Iatrogenia! Por isso, quando suspeitarmos de um paciente que se enquadre nas grandes síndromes devemos investigar SEMPRE os fármacos que ele estiver usando.
REFERÊNCIAS:
Neurologia Clínica de Harrison - 3.Ed.
Principais síndromes geriátricas, Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 54-66
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Até a próxima, galera!