Proteína Animal: a indústria avícola brasileira.
Neste mês de julho, completo um ano de trabalho no Grupo GTFoods, como CFO.
Este pequeno artigo resume minhas percepções acerca da indústria avícola, resultado de discussões com colegas, acionistas, investidores e com a comunidade financeira, que gostaria de compartilhar com vocês.
Na minhã visão, as perspectivas para o setor são promissoras.
Existem alguns fatores que devem contribuir para o crescimento sustentável da avicultura, garantindo o aumento de valor das empresas e de toda cadeia da indústria, neste ano, e num prazo mais longo.
Dentre os fatores, poderíamos destacar:
1. O preço relativo da proteína animal
2. O preço das commodities
3. A Demanda mundial e a desvalorização do Real
4. O efeito renda
5. e Hábitos & Cultura
Preço Relativo da Proteína Animal
Nos últimos 8 anos, o preço do frango foi, dentro da proteína animal , a categoria que que menos cresceu, em termos reais. Analisando a série histórica, desde de fevereiro de 2007 até maio de 2015, os preços do frango, descontada a inflação, cresceram entre 5% e 8% , para um crescimento de 53% do contra filé, 20% dos suínos e 18% dos pescados. (Vide Gráfico Abaixo)
Evolução do Preço Real das Proteínas Animais , IPCA IBGE
(Fev 2007=100)
Para se ter ideia do que isto significa, para cada quilo de contra file, em fevereiro de 2007, mantendo-se o valor da moeda , hoje comprar-se-iam 653 gramas. No caso do Frango, 938 gramas. Isto significa uma distância de preços de 44% , em termos reais!
A despeito da demanda mundial por proteína animal muito firme nos mercados emergentes (notadamente, a China) que se industrializaram e que se urbanizaram, o setor avícola respondeu aos desafios da demanda, ampliando a oferta com investimentos.
Isto permitiu maior equilíbrio no mercado, sem fortes pressões altistas nos preços, como nas demais categorias, representando ganhos em "share', dentro do grupo da proteína animal.
Desse modo, a posição relativa do preço do frango é uma vantagem competitiva relevante , tanto no mercado interno, como internacional.
Preço das Commodities
As cotações das commodities agrícolas, em dólares, em Chicago, por "bushel", com destaque para o milho e soja tiveram quedas de preços de 37,5% e 24,5%, respectivamente, nos últimos 12 meses (Vide Gráfico Abaixo).
Esta pressão baixista pode ser atribuída às excelentes safras americana, brasileira e de todo cone sul, em 2014/ 2015, e aos bons prognósticos da "safrinha" brasileira. (safra de inverno)
Há de se destacar , secundariamente, a posição dos fundos de "hedge" que mudaram suas posições de comprados para vendidos na bolsa de Chicago,no segundo semestre de 2014, em função das preocupações deflacionárias nas economias desenvolvidas, especialmente na Europa, Japão e EUA.
Assim, temos convivido com preços em dólares cadentes para as commodities nos mercados internacionais.
Com efeito, apesar da forte desvalorização cambial, no Brasil, entre 2014 e 2015, o setor avícola, que tem nas commodities agrícolas entre 60% e 70% de seu custo, pode manter suas margens. Os preços em Reais da commodities milho e soja,nos últimos 12 meses, seguem inalterados praticamente, contribuindo para a manutenção de margens. (vide Gráfico abaixo)
Tanto o milho, como a soja estão abaixo da média móvel dos últimos doze meses . ( vide a linha vermelha do Gráfico)
Demanda Mundial e Desvalorização do Real
Do ponto de vista da demanda externa, as perspectivas são positivas, igualmente.
A demanda mundial continua sendo sustentada pela recuperação das economias americana e europeia. Além disso, a Ásia e o Oriente médio continuam sendo um mercado cativo para a produção brasileira e com crescimento.
Há de se destacar que os problemas sanitários (exemplo, gripe aviária) de alguns países têm reduzido a oferta e reforçado a demanda (e preferência) pelo frango brasileiro.
Além disso, conforme pode ser observado no gráfico abaixo, nos últimos 12 meses (até Junho de 2015), o Real desvalorizou-se , em média, mais que as moedas dos países emergentes e desenvolvidos (exceção apenas do Rublo Russo), permitindo espaço para negociações comerciais e ganhos de mercado, preservando margens, num momento de instabilidade monetária global.
Este fator vem garantindo agressividade comercial e competitividade para a indústria avícola nacional no cenário global.
Queda da renda
Do mesmo modo, no mercado local, temos fatores muito positivos.
Além da questão já abordada do preço relativo entre as proteínas animais, temos a vantagem absoluta em termos de preço por quilo do frango, frente as demais opções de carnes.
Num cenário de queda da renda, haverá uma mudança na preferência dos consumidores por bens de menor preço que lhes confiram a mesma utilidade.
Nesse sentido, o frango tornar-se-á a opção preferencial em momentos de queda da renda dos consumidores em substituição às demais proteínas animais.
Quando correlacionamos os preços reais com uma medida de atividade econômica , como o IBC-BR do Banco Central, é possível observar que os preços reais do frango, tendem a subir em momentos de queda da renda e da atividade, devido a pressões de demanda, como ocorreu em 2008. (Vide Gráfico Abaixo)
Preço Real do Frango e IBC-BR Bacen
(Fev 2007=100)
Devido a queda da renda, neste ano, muitos consumidores deverão optar por uma maior participação do frango em suas cestas de consumo.
É interessante observar que este fenômeno acaba por ampliar permanentemente a base de consumidores, contribuindo para o desenvolvimento do mercado de frango, no longo prazo.
Outro ponto relevante no mercado interno, diz respeito a mobilidade de classes, no Brasil, nos últimos anos. Tivemos a entrada de mais 50 milhões de consumidores na classe C, entre 2002 e 2014. (Vide Gráfico Abaixo) Estes consumidores são uma nova base para o consumo das proteínas animais, em especial o frango, devido ao seu preço relativo que já comentamos neste artigo.
Deste modo, tanto no aspecto estrutural (mobilidade de classes) como conjuntural (queda da renda) , esperamos uma demanda firme no mercado interno, em 2015.
População Brasileira em Classes de Renda
(Ministério da Fazenda, em milhões de pessoas)
Hábitos e Cultura
Outro fator importante no desenvolvimento da indústria da avicultura é a mudança de hábitos e o papel da cultura no crescimento da demanda.
Os consumidores estão trocando a carne vermelha pela carne branca , em busca de hábitos mais saudáveis. Existem também barreiras culturais e religiosas à expansão do consumo de outras carnes.
Por exemplo, a população muçulmana vem crescendo (2,9% a.a.) mais que a média de outras religiões (2,3% a.a.). Os muçulmanos, por exemplo, não consomem carne de porco.
Neste sentido não é de se estranhar que ,segundo relatório da FAO/ONU, até 2023, o frango ocupará a dianteira na cadeia da proteína animal, ultrapassando a carne de porco. (vide gráficos abaixo)
2014
Segundo FAO ONU, em 2014, o frango representou 107 M de toneladas (48%) e o suíno 115 m de toneladas (52%).
2023
... Em 2023, Frango terá uma produção de 134 M (51%) de toneladas e o suíno 129 M tons.(49%)
Esta mudança representa um crescimento de 2 % a.a. até 2023 nos volumes de vendas de carne de frango, em linha, com as projeções do setor.
Conclusão
Sem dúvida, o cenário é favorável para a avicultura brasileira, tanto neste ano ano, como no longo prazo. Temos vantagens comparativas importantes para competir na arena global e condições únicas de fortalecimento no mercado interno de proteínas.
O Brasil com a produção de 12 milhões de toneladas de frangos em 2014, só é menor , em termos de produção, que os EUA (17 milhões de toneladas) e China (13 milhões de toneladas). Porém, tanto a indústria chinesa, como americana, são orientadas para o mercado interno. A exportação dos EUA e da China é , de certa forma , residual.
Resumindo, o setor avícola brasileiro tem uma base de consumidores no mercado local e externo em ascensão, acesso às matérias primas agrícolas a preços competitivos, barreira sanitárias, uma boa base de granjeiros integrados à indústria, bem como uma estrutura de financiamento ao fomento já estruturada, garantindo previsibilidade ao fluxo de caixa do produtor.
Temos padrões de competição em nível global não devendo nada,em termos de produtividade e qualidade, a nenhum player global.
Há, de certo, medidas na área de infraestrutura que podem ampliar ainda mais a produtividade e competitividade da indústria. Cabe ressaltar que o Governo tem sinalizado que - em combinação com o setor privado - irá ampliar os investimentos, nesta área. Esta é uma necessidade não só do setor avícola, mas de todo país.
Num momento de crise ,como o atual, a indústria avícola desempenha papel relevante, seja na obtenção de divisas pela exportação e contribuição no equilíbrio do balanço de pagamentos, seja no amortecimento social da crise ao oferecer aos consumidores uma proteína animal de qualidade a preços mais acessíveis. Isto, sem falar, na geração de empregos, seja no campo, seja na indústria. Apenas no Paraná, a atividade avícola responde por mais de 700 mil empregos diretos e indiretos!
Apesar de 2015, ser desafiador, o setor avícola tem enfrentado os obstáculos e tem mantido seu programa de investimentos, ampliando o nível de emprego nas indústrias e no campo, neste primeiro semestre.
Não é por outra razão que o setor vem passando por um movimento de consolidação e tem despertado o interesse de investidores locais e estrangeiros. A perspectiva de curto , médio e longo prazos é bastante animadora.
O setor avícola brasileiro é melhor que frango!
Um abraço,
Vitor Bellizia
Digital Marketing
9 aUma aula!
Business Controller, Contador, Especialista em Custos, IFRS, P&L, SAP
9 aMuito bom, artigo bem fundamentado! Setor realmente promissor principalmente para os players que atendem o mercado global.
Sócio e Assessor
9 aVitor Bellizia, excelente análise sobre o setor. Vc poderia encaminhar esse artigo por e-mail para eu compartilhar internamente. Abs
Vice President of OPEN | Brazil
9 aCongratulations!!!...