Tendência: Beef on Dairy

Tendência: Beef on Dairy

Em síntese, Beef on Dairy se trata do uso de sêmen de corte em vacas leiteiras, uma prática utilizada a muitos anos no mercado de gado de leite mas que vem ganhando grande relevância também para a cadeia produtiva de corte. 

Mas por que o uso de genética de corte em gado leiteiro tem tanta importância para criadores, engordadores e cadeia frigorifica do corte? Vamos aos dados...

Desde o início desta tendencia em 2018, nos USA o uso de sêmen de corte em vacas leiteiras chamado Beef on Dairy cresceu cerca de 120%, culminando no fato de cerca de 70% das doses de Angus comercializadas nos USA serem utilizadas para Beef on Dairy tornando esse seguimento um importante player na cadeia de suprimentos de carne bovina.

Como dissemos antes, além do impactante incremento nas vendas de sêmen, não há nada de novo, pois quem já comeu carne em países com uma pecuária madura, estabilizada, já deve ter desfrutado de um bom Beef on Dairy sem mesmo saber, já aqui no Brasil esse seguimento foi por muitos anos desprezado, sendo o macho considerado um produto sem valor em algumas regiões e o cruzado um animal com um deságio que poderia chegar a 50% do valor do terneiro normal. Mas o que mudou?

O cenário mercadológico vem mudando, principalmente na Pecuária Sul brasileira, o avanço crescente da soja sobre áreas tradicionais de pecuária interfere diretamente na oferta de terneiros para recria e engorda, que se por um lado apresenta uma justa valorização do terneiro por outro espreme as margens do engordador em um cenário de estabilidade do boi gordo mas com custos nutricionais aviltantes, tornando assim o animal cruzado uma alternativa mais rentável principalmente para confinadores das regiões onde há oferta desse produto. Isso na visão do Beef, mas e no Dairy, o que mudou?

Na pecuária leiteira estamos vivendo um momento de ruptura, onde o volume de leite coletado vem aumentando ano a ano enquanto o número de vacas ordenhadas vem diminuindo assim como o número de produtores de leite, isso mostra um aumento da eficiência produtiva paradoxalmente em um cenário mercadológico de margens negativas para o produtor, o que acaba empurrando muitos para fora do negócio e fazendo que outros busquem além ser mais eficientes, novas alternativas para rentabilizar o seu negócio, é aí que juntamos o Beef com o Dairy.

Uma das práticas ajudaram os produtores de leite a adotar o Beef on Dairy como alternativa de agregação de valor foi a massificação do uso de sêmen sexado em novilhas, garantindo assim uma reposição de alta qualidade e liberando as vacas para uso do sêmen de corte, o que por sí já representa uma economia em custos de inseminação, a prática além de agregar renda ajuda no avanço genético do rebanho, pois parte-se do princípio que as novas gerações são superiores geneticamente, acelerando desta forma o ganho genético o que explica em parte o salto de produtividade. Mas e a qualidade do produto Beef on Dairy?

Talvez quando falamos sobre um produto do cruzamento entre uma vaca leiteira e um touro de corte muitos imaginem um terneiro pintado, descarnado, com baixo desempenho de engorda e sem qualidade de carne, nada poderia ser mais equivocado...

Na maioria das vezes fenotipicamente o produto desse cruzamento é um terneiro preto, no máximo com algumas pintas, o que pode parecer um detalhe menor mas é muito importante para a comercialização e que pode ser resolvido com a eleição de um touro Homozigoto para pelagem preta, mas além da pelagem muitas outras características devem ser observadas em um touro para garantir a produção de um bom Beef on Dairy:

-Fertilidade- nada vale mais em um tambo que uma vaca prenha, altas taxas de prenhês significam muitas vacas em futuro pico de lactação, portanto é fundamental uso de sêmen de touros com elevada fertilidade;

-Baixo peso ao nascer- um dos grandes desafios de qualquer vaca é o momento do parto, não podemos correr o risco de perder uma vaca, uma lactação ou um terneiro, portanto facilidade de parto é fundamental;

-Características de desempenho – características de crescimento são importantes para sistemas intensivos com alto custo nutricional, como por exemplo: peso a desmama, peso ao ano.

-Características de carcaça- além do peso de carcaça, são imprescindíveis as características de marmoreio, área de olho de lombo e cobertura de gordura, pois elas que garantem no final do processo a qualidade esperada da carne.

Para os ainda céticos quanto a possível qualidade do Beef on Dairy, podemos citar o resultado recente de um programa de Certificação de Ponta a Ponta realizado pelo nosso grupo nos USA, onde terneiros Beef on Dairy frutos de touros selecionados para o programa foram certificados logo no nascimento, enviados para propriedades de terminação após o desmame e então abatidos, resultando em 87% de certificação para programas Angus, coroando a etapa final do projeto.

Por fim, entendemos que com a técnica correta o Beef on Dairy pode agregar na cadeia de suprimentos da carne bovina, entregando um produto de desempenho e qualidade, abrindo inclusive novos mercados para os produtores de genética que souberem entender as necessidades e potenciais desse mercado que veio para ficar.

*artigo publicado na 6ª edição da Revista Pecuária Sul

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