Qual é a audiência real da Netflix?
Não importa. Ao menos é isso que a empresa liderada por Reed Hastings quer que o mercado pense.
E talvez essa seja a grande quebra de paradigma no serviço oferecido pelas empresas de streaming. Mais até do que a mudança do hábito de consumir TV, passando do modelo linear, com uma grade fixa de programação, para um modelo não linear, em que o programa pode ser acessado a qualquer momento e de qualquer dispositivo conectado à Internet.
O que as emissoras tradicionais de TV vendem ao mercado é a sua audiência, mesmo que seja estimada. É o número de pessoas que estão atentas aos seus programas e poderão ser impactadas por um anúncio publicitário. Um programa com grande audiência rende cotas maiores de publicidade. Simples assim. E essa lógica funciona há décadas também para rádios, jornais e revistas, cada um com suas características particulares. No fim, o espectador é o produto.
Para empresas como Netflix (ou Spotify, no caso de música) o que importa é a quantidade de assinantes do serviço. E para isso, a popularidade percebida torna-se algo mais importante do que a popularidade real, ou a audiência. O crescimento vem da manutenção e do crescimento da base de pessoas que consideram justo pagar R$ 19,90 por mês para terem acesso a um catálogo gigantesco de opções. Obviamente que uma produção de sucesso como “House of Cards” ou “Narcos” ajuda, mas o objetivo final ainda é a popularidade e mais assinantes.
Com o aumento da quantidade de opções de programação e facilidade de consumir e compartilhar informações de forma segmentada, a diferença entre audiência real e a popularidade percebida se torna maior ainda. Provavelmente uma série popular e comentada no nosso círculo de amizades possui menos audiência real do que imaginamos. Para serviços em que a estratégia é construir uma marca e criar valor, é mais importante ser assunto do que ter milhões de pessoas assistindo os seus programas. E neste sentido, a Netflix está sendo muito eficiente. Além de oferecer um catálogo que atende a diversos perfis de audiência, toda e qualquer novidade rapidamente se torna assunto.
Mas qual será o futuro deste modelo? Chegará a hora em que o serviço não será mais novidade. A base de assinantes não crescerá de forma tão agressiva como nos últimos anos. Competidores de peso estão ganhando espaço, como Amazon, Apple e os próprios serviços de streaming providos pelos canais tradicionais de TV.
O que fazer com o enorme banco de dados de comportamento de consumo, preferências e outros indicadores que não são divulgados publicamente? De que forma rentabilizar essa informação tão valiosa?
Em algum momento a Netflix irá se espelhar nas empresas de mídia digital e oferecerá publicidade baseada no perfil da sua audiência?
A Netflix comprará ou será comprada por alguma gigante do mercado de entretenimento?
Só o tempo trará estas respostas. Estamos apenas no início desse jogo e muita bola vai rolar ainda.