O que é que há, Netflix?
Na última semana a Netflix tomou uma decisão ousada que foi na contramão da estratégia adotada pelos seus concorrentes:
aumentou o preço de sua assinatura.
Antes de compreender o que pode estar por trás de tal decisão considero importante fazer um retrospecto da empresa.
A Netflix existe desde 1997 e quando surgiu a proposta era disponibilizar filmes para serem assistidos em formato de dvd no conforto do lar. Tanto a entrega quanto a devolução era realizada pela própria empresa.
A ideia foi tão disruptiva que levou a falência das videolocadoras e a empresa manteve esse modelo de negócio até o ano de 2007 quando decidiu adotar o streaming. Inclusive a empresa nem foi a primeira neste ramo se considerarmos a definição do termo rádio e televisão são streamings, agora se considerarmos um serviçonos moldes da Netflix, o concorrente Prime Video surgiu antes e era nomeado Amazon Unbox. Contudo desde aquele período a Netflix conseguiu se consolidar como líder no seu segmento.
Esse histórico nos ajuda a compreender a decisão da empresa e podemos acrescentar o fator concorrência como um dos motivadores. Para me fazer mais claro: a Netflix está apostando no tempo que está no mercado e no fato dela ser o serviço de streaming mais popular do mundo. Posso até sugerir um teste pergunte a alguém qual é o primeiro serviço de streaming que lhe vêm a cabeça. A resposta tem grande chance de ser: Netflix e isso é resultado de um branding bem feito.
Branding é uma estratégia utilizada pelas empresas desde o final da década de 1960 e de forma simplificada consiste em criar uma conexão emocional do consumidor com uma marca. Para isso a empresa utiliza de elementos como logotipo, discurso, tom de voz e valores, esses elementos vão dar uma sensação de personalidade a marca e irão influenciar no relacionamento que o consumidor estabelecerá ou não com ela.
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Nesses 13 anos a Netflix estabeleceu uma comunicação eficaz com seu público e adotou uma linguagem jovem. Tanto que isso se reflete na faixa etária que consome o serviço: 49% dos assinantes tem até 29 anos de acordo com dados divulgados pela jornalista da Folha de São Paulo Cristina Padiglione.
E essa gestão de marca até o momento foi eficaz para fidelizar clientes dessa faixa etária que se identificam com o conteúdo produzido pela empresa. Porém nos últimos noves anosoutros serviços de streaming entraram no mercado brasileiro para disputar clientes com a Netflix.
Desde então a gigante tem buscado adotar estratégias diferenciadas para se destacar dos concorrentes, seja produzindo um maior volume de séries e filmes que recebem o selo de "original Netflix", inclusive fazendo aquisição de novos estúdios, seja mantendo um preço competitivo.
Porém a queda de assinantes nos Estados Unidos e Canadá no segundo trimestre deste ano (calcula-se que foram perdidos quase meio milhão de assinantes) pode ter influenciado na decisão de aumentar o valor de todos os planos.
Lógico que isso afetou a marca e vários usuários foram às redes sociais para criticar a Netflix pelo aumento em um período de pandemia e de inflação em alta no país . A empresa respondeu aos críticos e pediu para que o público tenha paciência, pois promete trazer conteúdo de qualidade. Agora resta saber se a empresa que já vem sendo criticada pela qualidade de suas produções vai cumprir com a promessa, pois caso contrário o público pode se sentir ludibriado. E o branding mostra que não é impossível reconquistar a confiança de um cliente, mas que fazê-lo gera custos a empresa maiores que mantê-los fidelizados.
Em um momento que a gestão de marca da Netflix vem sendo testada resta observar para ver o quão fiel é o consumidor brasileiro à gigante dos streamings ou se este vai se deixar seduzir pela concorrência que está adotando estratégias bem atraentes.