Qual é a sua Verdade?

Hannah Arendt acreditava que a pluralidade fazia parte da condição humana. Para ela, não nascemos iguais, mas nos tornamos iguais. Sócrates, por seu turno, não só estabeleceu a pluralidade como “lei da terra”, como também se engajou na iniciativa de falar e agir.

Inserindo-se na companhia de muitos, ultrapassou o limite estabelecido da “polis” para o “sophos”, ou seja, o da preocupação para com as coisas eternas – não humanas e não políticas.

Assim, Sócrates está disponível para todos e através da interrogação conduz cada um a não renunciar à sua opinião, mas assumi-la e fundamentá-la diante de todos. Ele tem uma clara compreensão do sentido da pluralidade: praticando a maiêutica no coração da “polis”, dialoga com artesãos, poetas e escravos.

Mas o diálogo socrático perpassa o discurso limitado e pré-estabelecido. Não se trata de uma simples conversa na qual as pessoas que interagem falam apenas de si. Seu diálogo, ao contrário, exige a precisão da escuta, da paciência e da disposição para atrair algo que, de outro modo, passaria em silêncio pela área do discurso. Para ele - no falar e no ouvir - é possível mudar, ampliar e iluminar. Esse diálogo, porém, não está presente em nossa realidade.

Vivendo de retóricas na tentativa de mudanças positivas em relação a conceitos fossilizados, a não aceitação de uma diversidade que deveria ser tão natural (e intocável!), ainda hoje gera grandes conflitos. Não raro nos deparamos, diariamente, com discursos de ódio e preconceito nas mais diversas sociedades. Fato que me leva a concluir que o problema está no ser humano: tão vazio e tão falho. Debruçado sobre seu próprio ser, não consegue conhecer a si mesmo. E, para não se enfrentar e não pensar sobre o que deveria ser feito para seu equilíbrio e seu desenvolvimento interior, acaba simpatizando e se envolvendo com meios macabros no intuito de destruir, de se destruir e de destruir o outro.

Talvez Rousseau tenha razão: “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”.

Quero crer, porém, que o bem e o respeito sobrevivam sempre (especialmente em razão de toda riqueza que advém da pluralidade e da diversidade, as quais devem continuar com toda a sua identidade). Espero, igualmente, que a visão e que a percepção de cada um não sejam tão absolutas, pois precisamos, mais do que nunca, encontrar um meio termo como um caminho de paz e de harmonia. Precisamos aprender a respeitar e a coexistir sem qualquer preconceito, para podermos, para além de admirar, acrescentar ou incorporar em nós mesmos o que de valioso encontramos no outro.

Em suma: mais amor, SEM favor!!! rs... E, claro, Feliz Páscoa!!!

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