Qual o modelo de gestão ideal para os atuais  projetos de construção?
Polito, 2021.

Qual o modelo de gestão ideal para os atuais projetos de construção?

Diante dos desafios que expus nos artigos anteriores, é incontestável que as abordagens tradicionais de gestão não são suficientes para garantir o sucesso dos projetos de construção atuais. Isso acontece porque se fundamentam completamente em um modelo preditivo e desintegrado. Ser preditivo significa que se baseia no planejamento detalhado prévio, com escopo, prazo e custo definidos no início do projeto, mesmo que com pouca informação disponível. Na medida em que o projeto avança, os processos de monitoramento e controle tentam mantê-lo na trajetória correta. Qualquer alteração de escopo é cuidadosamente gerenciada. Trata-se do conceito de “execute como planejado”. Infelizmente, esse modelo não aplica a qualquer projeto, nem mesmo em todo o seu ciclo de vida. A verdade é que nenhuma construção é executada exatamente como foi planejada. A crença de que planos prematuros e extremamente detalhados são a garantia de que tudo vai ocorrer bem, é falsa. Nem tudo pode ser planejado em detalhes previamente. É preciso admitir que mudanças ocorrerão, pois, em trabalhos complexos, é impossível se prever tudo o que irá acontecer. É comum ver cronogramas com milhares de linhas tornarem-se obsoletos, com a simples alteração de uma premissa. No caso de alterações frequentes, em pouco tempo, o cronograma “correrá atrás da obra” ao invés de servir-lhe como guia, sendo abandonado logo em seguida, por necessitar de muito esforço para sua atualização. Ser desintegrado significa que cada disciplina é desenvolvida de forma isolada, ou seja, buscando o melhor para seu desempenho individual e não o melhor para o desempenho do projeto como um todo. Isso faz com que o desempenho final seja menor que a soma dos desempenhos individuais, como, por exemplo, decisões de design são realizadas sem levar em conta como a edificação será construída, operada e manutenida e como essas decisões impactarão seu desempenho, prazo de construção, custo, vida útil, entre outros. A gestão de um projeto de construção é, essencialmente, um sistema e, como tal, não pode ser visto como uma coleção de processos isolados. É preciso compreender e medir as inter-relações entre as partes, integrando-as de forma eficiente. Em uma visão sistêmica, o papel de cada componente é contribuir para maximizar o desempenho do todo, mesmo que, para isso, seja necessário haver perdas internas. É necessário ter uma visão global dos problemas, visão essa que é prejudicada pela fragmentação do conhecimento e pela crescente especialização. É necessário acabar com os “silos”, permitindo uma visualização horizontal do projeto, independentemente das áreas envolvidas.

A proposta que discorrerei nos próximos artigos é que a gestão dos projetos de construção ocorra de forma integrada, colaborativa e simultânea, nas três perspectivas: Gerenciamento do Design, Gerenciamento do Projeto e Gerenciamento da Produção. Em outras palavras, podemos dizer que devemos definir o que será construído, o que deve ser feito para construí-lo e como será construído, conjuntamente e ao mesmo tempo. O gerenciamento do design está relacionado às características técnicas que a edificação deve possuir. É normalmente orientado ao negócio. Já o gerenciamento do projeto diz respeito ao esforço e os recursos necessários para se construir a edificação. Finalmente, o gerenciamento da produção está relacionado à execução propriamente dita, tendo como foco a melhor utilização dos recursos, a redução da variabilidade dos fluxos e a redução do desperdício, eliminando atividades que não agregam valor e melhorando a produtividade das que agregam valor.

No alt text provided for this image

Atuar de forma integrada significa que, as decisões tomadas, em cada uma das áreas de conhecimento, deve levar em consideração os requisitos e impactos nas demais. As soluções devem ser concebidas de forma compartilhada entre as diversas áreas envolvidas, sob a ótica de várias especialidades, para, posteriormente, serem detalhadas e implantadas individualmente. O desenvolvimento de forma integrada permite que cada decisão seja tomada objetivando o melhor para o resultado e não o melhor para cada parte. O melhor desempenho do projeto só ocorrerá se suas disciplinas evoluírem no mais alto nível de integração e harmonia. Significa aproveitar as sinergias positivas e eliminar a competição interna.

A atuação colaborativa aproveita os talentos e a percepção de todos os envolvidos para otimizar os resultados do projeto, compartilhando informações, recursos e riscos. A colaboração é especialmente importante em projetos com alto nível de incerteza e com mudanças rápidas, isso porque propicia respostas melhores e mais oportunas do que o modelo centralizado. A colaboração cria sinergia e faz com que as pessoas produzam mais e melhor juntas, do que fariam isoladamente.

A atuação simultânea significa que o processo de design deve ocorrer de forma concomitante ao planejamento do projeto e ao planejamento da produção, de forma que as demandas de cada disciplina e áreas de conhecimento sejam identificadas a tempo de serem atendidas e equalizadas, ao menor custo possível, potencializando as sinergias e reduzindo os impactos negativos, sempre decidindo o que é melhor para o projeto. Em outras palavras, é trabalhar para acertar da primeira vez, projetando e planejando para o resultado desejado (custo, prazo, qualidade, desempenho, construtibilidade, manutenibilidade, usabilidade), ao invés de projetar primeiro e avaliar o resultado depois.

No alt text provided for this image

Quanto antes uma demanda for identificada, mais simples, rápida e barata será sua solução, agregando, consequentemente, maior valor ao projeto. Requisitos descobertos tardiamente ou interferências não previstas destroem valor, pois consomem muito mais recursos do que o benefício que geram.

No alt text provided for this image

E você, acredita nessa proposta? Tem alguma experiência para compartilhar?

No próximo artigo falarei um pouco sobre a aplicação de conceitos Lean e abordagens híbridas, combinando elementos preditivos, iterativos, incrementais e ágeis. Até lá.

Marcelo Junqueira Franco

Real Estate I CEO I COO I Diretor Executivo I Incorporação I Construção I Comercial I Marketing

3 a

Giuliano de forma conceitual suas colocações são extremamente corretas e devemos seguir, mas gostaria de acrescentar que quando executamos algo com prazo, custo e qualidade previamente definidos, entendo que obrigatoriamente o papel da engenharia é finalizar a obra dentro do planejado sobrando muito pouco espaço para desvios.

Muito bom Giulliano! Agilidade é muito importante, caso contrário, o gerenciador correrá sempre atrás da obra e dos problemas. Nunca conseguirá estar a frente.

Willian Ebone

Key Account Manager | Coordenador de Customer Success | Coordenador de Marketing | Coordenador de Vendas | Inside Sales | Negócios

3 a

Acredito que o aumento expressivo dos custos de materiais e a necessidade de buscar práticas ESG são também dois grandes motivos que exigem de todo o setor um modelo preditivo e integrado. Muito legal o artigo Giulliano, coloca luz sobre um problema que ao meu ver começa pela comunicação, onde cada uma das áreas expressa suas necessidades para atingir o objetivo do projeto. Curioso para conhecer os processos e ferramentas que vocês utilizam para integrar todos os stakeholders!

Adeildo Araujo

Controller na Retrofit Engenharia

3 a

Excelente abordagem, pensar um projeto e ter no DNA o antidoto para todas as interferências da sua execução com uma AMPLAVISÃO do "todo" o que ao meu ver tem que ser dinâmico demais!!! Excluo os conflitos de âmbitos sensitivos pessoais! Parabéns Giulliano Polito

RENÊ RUGGERI

Gestor de Empreendimentos, Integrador de Soluções

3 a

Muito bom ver esta visão da implantação de empreendimentos. Parabéns, Giuliano! Há uns poucos anos publiquei um artigo sobre a Engenharia Integral na Techne. Está tb disponível nos e-books (gratuitos) no seu site. Na Engenharia Integral, chamo as três áreas que vc citou de eixos de competência (projeto do produto, processo produtivo, execução de obras). Particularmente na construção civil separo Suprimentos (gestão de aquisições) como um eixo de competência específico, dada a sua criticidade. Acrescento ainda dois outros, o de Negócios e o de Entrega (comissionamento). Recomendo a leitura, pois o conteúdo se alinha bem com o seu texto. Parabéns!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos