Qual realização profissional é desejável?

Qual realização profissional é desejável?

Como alcançar a realização profissional? Aliás, o que será estar “profissionalmente realizado”?

Alcançar uma ou mais conquistas? Ter cargos, poder, fama, influência, dinheiro, posses? Ser presidente de uma grande empresa ou ter uma empresa de sucesso?

Para alguns a realização profissional talvez não seja algo tão definido. E ainda que seja poderá ir se alterando ao longo da carreira. E talvez nem se trate de um ponto determinado no futuro, mas algo que acontece enquanto esse objetivo é buscado.

A vida se transforma e é o movimento que muitas vezes traz sentido à existência. Não basta o tempo para que uma carreira evolua, é necessário que haja também a evolução do profissional. Uma transformação que o torne mais apto à desafios mais complexos e a lidar com situações mais críticas.

Essa transformação do indivíduo é longa e poderá provocar mudanças em seus objetivos. Nem sempre isso ocorrerá através de um processo racional ou intencional, estas mudanças poderão acontecer sem reflexão ou planejamento. O envolvimento com a busca pode ser tão intenso que o profissional já não pensa tanto no objetivo. E então, quando alcança o ponto tão duramente buscado, este poderá já não fazer tanto sentido.

Planejar uma carreira etapa por etapa definindo objetivos por aspectos mais quantitativos ou materiais costuma provocar uma inquietação existencial em algum momento. A primeira promoção traz uma grande satisfação, a segunda já nem tanto. O primeiro cargo de liderança nos transforma e traz uma imensa sensação de realização. O próximo já não será bem assim. Ganhar mais dinheiro sempre é bom e muitas vezes o consumo crescente – ou o status, ou o poder, ou a vaidade, etc. - acabam anestesiando a alma.

Além dessa anestesia emocional, uma forma de evitar que essa inquietação existencial se instale é definir e buscar continuamente novos objetivos ainda antes que se alcance o próximo. Assim a luta passa a ser constante, o que se alcança é apenas um degrau para o próximo alvo. O movimento contínuo impede o profissional de refletir sobre suas conquistas e seu sentido. Lutar sempre, sem parar nem pensar. A satisfação não chega por estar sempre ligada ao objetivo seguinte.

Mas um dia essa reflexão inevitavelmente se apresentará. E o profissional perceberá que não alcançou sequer parte da satisfação que imaginava ao conquistar tantos objetivos. Pode até ter realizado toda ou grande parte da sua ambição, mas a felicidade não se concretizou na mesma proporção.

Muito se fala em “propósito” e em “gostar do que se faz” como formas de alcançar a realização profissional. Mas a vida real da maioria das pessoas impede que trabalhem e ganhem dinheiro apenas com o que gostam ou com ideais tão nobres como cuidar de crianças carentes ou animais abandonados.

Isso significa que talvez seja difícil exercer uma carreira a partir de um propósito muito específico ou fazendo apenas aquilo que se gosta. Mas não significa que não seja possível encontrar algum propósito naquilo que se faz e então fazer com gosto.

Um professor pode ter como objetivo que seus alunos aprendam o melhor possível sobre o conteúdo e passem de ano. Outro pode ter como objetivo preparar aqueles alunos para enfrentar as dificuldades da vida a partir de uma visão crítica sobre o que aprendem. Ambos poderão evoluir na carreira e ter promoções, ambos poderão ter imensa satisfação em sua profissão, com propósitos distintos. Certamente terão um nível de satisfação diferente de um professor que só cumpre agendas e programas curriculares atendendo às condições formais para sua promoção, preocupado apenas com sua carreira e condições para a sua própria evolução.

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Em todo trabalho ou profissão é possível focar no bem das pessoas e isso pode ser traduzido em um propósito legítimo. Essa legitimidade se fundamenta em atender pessoas em suas necessidades ou desejos, proporcionar a elas momentos de alegria ou ajudá-las em seus momentos de dor e fraqueza. Pode ser que estes benefícios não aconteçam diretamente pela atuação de todos os profissionais, pois muitos trabalham em atividades de gestão ou suporte aos que agem diretamente. Porém mesmo de forma indireta o propósito pode se realizar e ter sentido.

Tradições religiosas propõem que a satisfação possa ser alcançada através do serviço ao próximo. Pode ser através da filantropia ou altruísmo ou simplesmente ajudando pessoas em nossas atividades diárias. O cristianismo diz que “é melhor dar do que receber.”

Pensar nossas carreiras como uma forma de servir ao próximo traz sentido ao nosso esforço. Existe dentro de nós algo que nos motiva quando ajudamos outras pessoas. Traz um senso de justiça, de colaboração com algo relevante e importante. É muito mais do que ganhar dinheiro ou receber algum reconhecimento externo. Na verdade, quando ajudamos alguém de qualquer forma, temos um “autorreconhecimento” pela percepção da nossa relevância como ser humano, ao menos naquele momento e para aquela pessoa. Sentimos que somos úteis e necessários para a comunidade.

Existem profissões em que esse propósito é muito evidente. Profissionais de saúde cuidam de seus pacientes, é um propósito óbvio e claro. Outras profissões têm uma relação mais distante com as pessoas e suas necessidades imediatas, mas todas as ocupações, de uma forma ou outra, levam a alguma contribuição às pessoas e à sociedade. Mas nem sempre pensamos nesses termos e condições, pois normalmente focamos nas atribuições diretas e recompensas imediatas, o que pode ser frustrante.

Por que você faz o que faz? O que te levou a escolher o seu trabalho? Se foi apenas a necessidade de emprego e renda ok, mas do que você gosta nessa atividade? O que você faz no seu trabalho que te traz alguma alegria ao fazer? Talvez isso traga alguma pista de um propósito que você ainda não tenha percebido com clareza, mas que já esteja aí trazendo alguma motivação e satisfação.

Praticamente todo trabalho apresenta coisas que gostamos e outras não. Normalmente damos mais atenção àquilo que não gostamos, é natural. Mas sempre pode existir alguma coisa agradável, alguma atividade que nos encante, algum resultado que nos satisfaça verdadeiramente. É muito válido pensar o propósito a partir daí e com isso buscar alguma identificação maior com a atividade e satisfação com seus resultados.

 

 

William Andreotti Jr.

Escritor, consultor, mentor e produtor de conteúdos sobre Administração, Negócios, Recursos Humanos e Carreiras. Defensor de uma visão humanizada para o mundo dos negócios e carreiras profissionais baseadas em princípios e valores.

Este texto foi desenvolvido a partir do apoio da Populis em seus esforços para desenvolver e disseminar conhecimentos relevantes da área de Recursos Humanos. A Populis é uma empresa que oferece soluções inteligentes para Folha de Pagamento.

Para acessar todos os conteúdos desse projeto siga o perfil da empresa no Linkedin e conheça a empresa em www.populisrh.com.

Já estava com saudades de suas escritas. Parabéns 👏👏👏✅

André Szmuklerz Vel Fuks

Gerente de Serviços Técnicos LATAM na Körber

2 a

Muito audacioso de sua parte abordar um tema tão importante e algumas vezes até um tabu para alguns, mas a evolução da espécie humana passa pela evolução individual, e isso ocorre através dos propósitos traçados para nossas vidas! Parabéns pela coragem!

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