A inspiração que por vezes nos falta
A “inspiração” talvez seja um dos principais insumos para uma vida com sentido. E não falo apenas na sua aplicação a temas diretamente relacionados à liderança ou à vida profissional. Acredito que a inspiração seja um componente básico para a excelência em qualquer coisa que decidamos fazer e que uma inspiração específica possa vir a beneficiar todas as demais dimensões de nossa vida.
O que te inspira a fazer o que faz? Não existe uma só resposta, muito menos respostas certas ou erradas. Cada um tem seus motivos, razões e justificativas. Posso trabalhar em busca de uma realização profissional em uma carreira ou através do desenvolvimento de uma empresa, na busca do lucro ou em empregar pessoas legais e ajudar a desenvolvê-las. Ou posso simplesmente trabalhar para pagar as contas e viver com dignidade.
Nem todos temos o emprego dos sonhos, poucos o tem. Mas precisamos trabalhar, suprir as nossas necessidades básicas, oferecer condições adequadas aos nossos filhos, e sobretudo precisamos nos ocupar com atividades produtivas e consistentes. Mente vazia é oficina do diabo, dizem. Independente de maquinações do mal, a ausência de atividades e de uma rotina pode nos deixar prostrados diante da vida. O ócio que vale a pena é aquele descanso entre atividades e não o contínuo e indesejado, muitas vezes provocado pelo desemprego ou falta de dedicação a algo.
A noção de propósito é importante e necessária, precisamos saber o porque de fazermos algo. Trabalho para pagar meus boletos, ok. Trabalho para garantir a educação dos meus filhos, ok também. Trabalho para me manter e viajar quando posso, ok claro. Trabalho para manter minha mente ocupada, muito ok também.
Saber porque fazemos algo é importante, mas nem sempre estamos realmente inspirados a fazê-lo. Alguns finais de domingo e segundas-feiras estão ai para mostrar isso.
Precisamos trabalhar, temos os motivos certos, todas as justificativas são claras e as necessidades prementes mas as vezes desanimamos e nos arrastamos ao trabalho. Falta a inspiração, aquela energia inexplicável que por vezes desaparece também inexplicavelmente.
Existem dias que são tranquilos, encaramos o trabalho com serenidade e leveza. Nesses dias temos a dose exata de inspiração como combustível. Resolvemos os problemas com facilidade, enfrentamos os desafios, lidamos bem com o cliente difícil ou com o colega chato.
Noutros dias estamos com a energia transbordando. Enfrentamos tudo com atenção máxima, resolvemos problemas cabeludos, aceitamos desafios grandiosos e os superamos. Estamos inspirados a enfrentar o que vier, com a força de mil leões.
Por que é assim? Onde posso abastecer esse meu “tanque de inspiração” para que eu tenha o combustível sempre equilibrado?
Essas palavras surgem da constatação dessa falta. Muitas vezes escrevo artigos que saem prontos, precisando apenas de um ajuste ou outro. Mas algumas vezes fico dias e dias sem avançar, preso em temas que não se desenvolvem e em ideias que não frutificam. Tem sido assim nesses dias quentes de verão. Esse texto é a quarta tentativa diferente de iniciar algo com alguma relevância ao leitor – e enfim espero que eu esteja certo ao entregá-lo.
O fato é que não somos máquinas, em nada do que fazemos. Pode ser escrever um artigo, fazer uma cirurgia, concluir um projeto, atender a um cliente. Somos variáveis em humor e dependentes de inspirações que por vezes não sabemos a origem e que nunca conseguimos garantir o seu suprimento contínuo.
Inspiro-me em muitas coisas e pessoas. Também em situações vividas ou observadas, sobretudo nas experiências práticas da existência. Mas a inspiração que vem nem sempre se aplica ao propósito ou à necessidade imediata de se fazer algo.
O reencontro com a família após esses dois anos de pandemia morando fora do Brasil tem grande peso em meu momento. O retorno à cidade da juventude com todas as lembranças e novas possibilidades também tem relevância para a constatação de uma nova fase começando na vida.
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Minhas fontes de reflexão e observação recentes pouco tem a ver com as atividades profissionais e estão mais relacionadas ao encantamento de como a vida pode se fazer surpreendente, absurdamente difícil em um momento apenas para que no momento seguinte se mostre maravilhosa e plena.
Isso se aplica a tudo, claro, mesmo a um trabalho ou a um emprego. Mas a sensação de transbordamento que a vida me trouxe nesses dias me levou a expandir esses efeitos para todas as demais dimensões que vivo.
Sinto-me inspirado a viver cada segundo com todo o seu peso e relevância. E a aproveitar cada momento para me dedicar à essa inspiração, seja em meus escritos, em meus atos e até no meu respirar.
Vivo melhor quando estou nesse estado de fluxo, cérebro e coração alinhados para a vida a frente. A minha relação com as pessoas se beneficia disso, as minhas atividades são mais assertivas e meu trabalho mais consistente.
Sei de onde vem a minha inspiração, tenho plena consciência de sua fonte, mas mesmo isso não garante seu suprimento contínuo. Afinal, a vida pode ser maravilhosa mas sempre será difícil em muitos aspectos, cheia de distâncias e obstáculos até para que se possa viver plenamente àquilo que nos inspira. Por vezes essas dificuldades parecem gigantes monstruosos, impossíveis de serem vencidos. Aqueles absurdos inimigos de videogame que precisamos vencer para passar à fase seguinte.
Por vezes a luta é pesada, reconheço. Fica difícil levantar cedo na segunda-feira e encarar a semana. É sofrido chegar ao final do mês e ainda existirem boletos sobre a mesa ou então não poder proporcionar tudo o que queremos aos nossos filhos. Muitas vezes os desafios são pesados e as recompensas desproporcionais ao que merecemos ou precisamos.
Só algo além da materialidade pode nos ajudar a seguir. Fé e esperança em melhores condições futuras, persistência, força de vontade, inspiração.
Ah quão abstrata pode ser essa força? O que me inspira hoje poderá não inspirar amanhã. O que me inspira pode não inspirar ao leitor ou leitora. Mesmo a vida a dois só pode ser plenamente vivida se a inspiração for mutua e recíproca. Sincronizada nem sempre será, mas a inspiração de um ajuda ao outro quando fraqueja... e quando se encontram ambos com seus tanques cheios, que delicia viver!
Quero me abastecer dessa inspiração revisitando sempre essa fonte que jorra. Que ela componha um imenso lago onde eu possa banhar-me em busca de coisas novas que possam inspirar a outros em seus próprios desafios e existências.
Toda inspiração é válida e pode ser transbordada. Experimente!
William Andreotti Jr.
Escritor, consultor, mentor e produtor de conteúdos sobre Administração, Negócios, Recursos Humanos e Carreiras. Defensor de uma visão humanizada para o mundo dos negócios e carreiras profissionais baseadas em princípios e valores.
Este texto foi desenvolvido a partir do apoio da Populis em seus esforços para desenvolver e disseminar conhecimentos relevantes da área de Recursos Humanos. A Populis é uma empresa que oferece soluções inteligentes para Folha de Pagamento.
Para acessar todos os conteúdos desse projeto siga o perfil da empresa no Linkedin e conheça a empresa em www.populisrh.com.
Gerente de Serviços Técnicos LATAM na Körber
2 aParabéns pelo texto, fonte de inspiração para uma segunda-feira pré-Carnaval (que para mim é um porre, diga-se de passagem, principalmente quando revisitamos essa pandemia no Brasil e como ela deve ter surgido em 2020 por aqui)! O que vejo que temos que buscar continuamente são essas fontes de inspiração, desde a coisa mais irrisória à de maior grandeza, sempre temos que estar atentos ao que a vida nos ensina! Continue inspirado para nos brindar com textos motivadores e frutíferos para nosso dia a dia!
Professora e Coach
2 aPerfeito! Às vezes precisamos voltar ao nosso "marco zero", onde tudo começou e ali percebemos o porquê que temos os valores que temos, e é interessante como isso nos inspira outra vez.