Quando descobri a força da minha rede para o BEM

Meu primeiro trabalho com carteira assinada, quando ainda estudava no colegial técnico, foi na cozinha Central do Habib's.

Trabalhava no controle de qualidade e supervisionava 22 kibeiros, todo o processo que fornecia mais de 150 lojas naquela época ainda era manual. Sim, homens modelando o dia inteiro kibes a mão e ganhavam por produtividade. Eu era a “garota chata da qualidade” responsável por pesar, medir e fritar alguns kibes para garantir que estavam todos nos padrões corretos! Fedelha...

Se estivem pequenos ou furados eu deveria quebra-los! Bandejas de mais de 30 unidades abaixo do peso, ia tudo para o reprocesso. Imagina só como eles me adoravam!?

Homens barbados moradores de comunidade que dependiam do seu desempenho para receber um “troco” a mais no fim do mês e eu, uma estudante teen burguesinha (que nunca fui, mas na visão deles, era o que parecia). Tive que impor respeito a essa turma, creio que consegui.

Certamente seriedade era a minha marca, não conversava muito com eles, sempre cara fechada como uma forma de proteção. Demorou, mas comecei a pensar em como poderia ser eu mesma, divertida e feliz. Estava preocupadíssima em impor respeito, mas como com os valores que existiam em mim e minha personalidade eu poderia melhorar a relação com eles?

Usei a empatia. Mesmo sem saber o que isso significava na época e talvez sem tanto planejamento, busquei fazer diferença fora daquele ambiente da cozinha.

Um deles seria pai, ajudei a organizar um chá de bebe, tudo surpresa e lembro até hoje sincero  OBRIGADO que ele me deu com um sorriso amarelo. Outro, foi assaltado no dia do pagamento, o pessoal mobilizou uma vaquina e eu dei uma grana “legal”, pra mim na época e pra ele também 20 reais era uma fortuna! E sei como isso repercutiu positivamente entre eles. Até que um dia, um dos mais antigos sofreu um acidente de carro bem grave, ficou dias na UTI, entre a vida e a morte. Bateu seu fusca velho em cheio numa caçamba de lixo voltando bêbado de uma farra. Precisou de sangue e eu fui lá e doei! Minha primeira doação de sangue, havia acabado de fazer 18 anos. Aliás, nesta ocasião foi ele que me ensinou a importância deste gesto que repito anualmente até hoje. Tudo isso fez uma diferença incrível no clima entre nós.

Depois, fui promovida, mudei de área lá dentro da cozinha mesmo, e o que aconteceu? Eles viraram meus defensores, chegavam a me aconselhar e ganhei até um admirador não tão secreto assim que me enchia de bichinhos de pelúcia, cds e bombons! Kkk

De perseguida a protegida em cerca de 2 anos. Não foi um processo rápido e muito menos fácil. Mas o que quero dizer é que colhemos de fato o que plantamos.

Você pode não agradar sempre a todos, mas se souber usar inteligência emocional para lidar com pequenos desencontros e atritos diários, se de fato se preocupar com a DOR DO OUTRO, vai conseguir respeito, admiração e por consequência disso um clima melhor no seu trabalho.

Uma pena que naquela época não existia whatsappp, Linkedin, etc... Manter sua agenda atualizada é fundamental! Perdi o contato com quase todos meus colegas de trabalho daquela época, o único e mais especial de todos eu mantive, o gerente da cozinha, do período noturno, @Armando, que se tornou meu marido! :) Isso já vale toda a história, mas aprendi mais tarde essa parte da lição, que fala sobre o NETWORKING, palavra tão batida, mas enquanto ela não é de fato “encucada” sempre vamos tentar fazer o networkig por obrigação, e essa é a forma errada de encarar. Também não precisa pensar necessariamente em receber nada em troca, apenas em cultivar relações, facilitar alguns contatos, ser você a ponte entre as pessoas, isso pode acontecer de forma natural.

O tempo passou, vivi por mais outras 3 ou 4 empresas e cheguei aqui, depois de 18 anos de trabalho e muitas relações corporativas que não foram construídas, só passaram. Não sou do tipo que tem vida social muito ativa. Sou casada, mãe de 2 filhos e meu tempo livre gosto de usar com eles, ou seja, nossas escolhas impactam diretamente nos nossos resultados e sempre achei por isso meu networking ainda fraco

Até que uma questão familiar me mobilizou de grande forma e pude constatar algo que ainda duvidava dentro de mim, a força dessa rede!

Meu sobrinho de 20 anos, da parte da família do meu marido, tem insuficiência renal desde que nasceu. Até agora vinha tratando com medicações, chegou a tomar mais de 15 comprimidos por dia. Mas não deu mais, precisou começar a fazer hemodiálise e buscar um transplante. Um primo dele se dispôs a doar um dos rins para ele. O transplante no Brasil pode ser feito via SUS, mas as coisas não são tão simples assim e como ele tinha convenio médico, resolveram seguir por esse caminho. Porém os honorários de alguns cirurgiões o convênio não cobre.

A Família precisou então levantar cerca de 50 mil reais para o procedimento. Começaram a vender uma rifa. Peguei um bloco com fé que conseguiria vender metade pelo menos. R$ 50 reais, época de crise, enfim... entendo ser difícil para todos. Mas para minha agradável surpresa consegui vender 130 números! Muito mais do que esperava. Você pode estar pensando, isso é muito pouco...verdade, R$ 6.500 não são suficiente, mas para quem não tinha NADA nas mãos, esse valor vai ajudar bastante!

E de onde veio essa ajuda? Basicamente da minha rede de contatos.

A família e os amigos ajudaram, claro que sim, mas a maior ajuda em número de pessoas e valores vieram dos meus contatos de trabalho. Pessoas que se relacionaram comigo apenas “comercialmente” mas que por algum motivo foram tocadas e aceitaram ajudar a causa.

Me emociono de lembrar como algumas pessoas que nem trabalham diretamente comigo, clientes e fornecedores, que nunca foram na minha casa, que não sabem tanto sobre mim além do aspecto profissional ajudaram. Ajudaram a CAROL, que é tia do Rafa, me ajudaram como pessoa, muito além de crachás ou sobrenomes corporativos. Além da ajuda financeira muitos compartilharam para sua própria rede, e pessoa que de fato eu não conheço, por esse laço, também contribuíram de forma muito especial.

O que eu quero deixar para você como mensagem CENTRAL desse texto é que acima de tudo, de tudo mesmo, estão as relações humanas! O B2B o B2C na verdade, no fim do dia, é H2H é de Humano para Humano! Somos gente! E por mais que seja um “bordão” juntos somos mesmo mais fortes! Podemos levar isso mais a sério em nossas relações de trabalho. Gosto muito da abordagem da @LaiseDamaceno, sugiro segui-la, ela levanta a bandeira do MKT de Gentileza, que traz bastante disso em sua essência.

O fim da história ainda não chegou, o Rafa vai fazer o transplante amanhã, segunda-feira dia 03 de setembro de 2018.

A família arrecadou até agora R$ 35 mil, ainda estão em busca do restante para cobrir o empréstimo que precisou ser feito. O objetivo do texto não é pedir mais dinheiro a ninguém, se você se sentiu tocado e gostaria de ajudar, ainda existem números a venda, a Rifa corre apenas em outubro, posso falar com você no privado, mas você pode ajudar de outras formas, com uma oração, um pensamento positivo, uma mensagem que posso enviar a ele ou até mesmo fazendo o mesmo por outras pessoas que precisam!

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” Marcos 12:31 Bíblia Sagrada

Prometo dar notícias! Espero em Deus, voltar com boas novas em breve nos comentários desse artigo!

Estou longe de ser #ótima com pessoas! Aprendo e tento melhorar todos os dias sobre esse tema, para mim é um grande desafio.

Mas creio que se nos lembrarmos sempre que somos TODOS IGUAIS, todos da raça humana, e esse é um bicho é muito especial, já seremos a mudança que queremos no mundo!

E assim, termino parafraseando Fernando Pessoa, se nos comportarmos dessa forma, teremos momentos inesquecíveis, viveremos coisas inexplicáveis e encontraremos pessoas incomparáveis.

Viva as relações saudáveis!