Quando a desculpa é evitar dor: o alto custo emocional do ghosting
"Tomei um ghosting."
Quem tem amigos solteiros provavelmente já ouviu essa frase. Ela tem sido tão comum e normalizada que comecei a me interessar mais pelo tema e fiz um trabalho um pouco mais investigativo.
Nessa minha busca, cheguei a um estudo da Universidade da Geórgia, que investigou as características e impactos do ghosting, revelando que dois em cada três jovens adultos já praticaram e foram vítimas da prática, que acontece quando uma pessoa deixa de falar com outra — por exemplo, não respondendo a mensagens ou chamadas — sem explicações.
A pesquisa descobriu que muitos consideram o ghosting uma estratégia viável por ser fácil, evitar confrontos e parecer mais educada do que uma rejeição direta.
No entanto, o estudo concluiu que o impacto do ghosting na saúde mental é pior do que o da rejeição aberta, causando dor prolongada e subestimada.
E olha só que curioso: os que praticam ghosting com frequência tendem a sofrer mais emocionalmente quando estão do outro lado da situação. Os ditados não falham: quem com ferro fere, com ferro será ferido.
A prática parece estar generalizada, inclusive no ambiente corporativo.
A quantidade de pessoas que me procuram para falar sobre o ghosting no ecossistema de RH é assustadora.
"Veras, fiz a entrevista com o RH há três semanas e eles ainda não me retornaram. Posso fazer um follow-up?"
Ou pior:
"Cheguei até a última etapa do processo e nunca mais tive retorno."
Ghosting expõe falhas na comunicação e na gestão das expectativas
De RH para RH, em que momento nos perdemos do que deveria ser a nossa essência, que é cuidar das pessoas e relações?
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Você, RH, poderia alegar: "Poxa, mas eu faço inúmeras entrevistas. São muitos candidatos."
Se você criou algum vínculo com o aspirante a uma posição da sua empresa, é importante dar um fim respeitoso à relação. Não podemos esquecer que recrutamento é construção de relacionamento a médio e longo prazo também.
Se a pessoa não se encaixa para uma determinada vaga naquele momento, talvez possa ser uma excelente opção em outro projeto. Incluindo outras empresas, em que você também poderá passar a atuar. Não custa lembrar que a vida pode seguir o mesmo percurso da roda gigante – altos e baixos se alternam.
A prática do ghosting expõe falhas na comunicação e na gestão das expectativas, refletindo uma cultura organizacional que frequentemente evita o confronto e a transparência.
Ou seja, se você é candidato a uma empresa onde essa prática é comum, talvez esteja, na verdade, ganhando um belo de um livramento.
Negar é melhor que ignorar
Embora a pesquisa da Universidade da Geórgia não tenha focado nos efeitos no campo profissional, é possível inferir que uma negativa em um processo seletivo é melhor do que o ghosting, como mostra o estudo sobre o impacto da prática na saúde mental, sendo pior do que o da rejeição aberta.
Mas já ouvi pessoas discordarem de mim sobre esses argumentos. Talvez faltassem dados para provar meu ponto durante as discussões. Afinal, antes de me debruçar sobre o tema, eu apenas intuía os resultados encontrados no estudo.
O contra-argumento costuma ser o de que o ghosting nem sempre significa descaso. Na verdade, muitas vezes é uma tentativa (equivocada) de evitar magoar alguém.
Muitos optam por deixar de responder, acreditando que estão protegendo a outra pessoa da dor. Mas não percebem que ser ignorado é frequentemente mais doloroso do que ser rejeitado abertamente.
A honestidade pode causar um desconforto passageiro. Já o silêncio e o desaparecimento definitivos podem causar dor e sofrimentos prolongados.
Até a próxima,
Thiago Veras
Diretor Global de Atração, Recrutamento e Seleção | Gerente Sênior de Recursos Humanos | Coach e Mentor de Carreiras
6 mAcho que o RH está numa fase crítica de mudanças em que está quase que preocupado consigo mesmo e com dificuldades de olhar pra fora, não acha Thiago Quaresma Veras? Parece que é questão de foco. O RH está olhando pra dentro pra cuidar das suas dificuldades com o seu próprio dia-a-dia (tanta coisa acontecendo, com tanta agilidade) que se esqueceu do seu propósito maior.
Diretora Executiva | Riscos | Compliance | Jurídico
6 mEsse tema merece uma reflexão profunda por parte dos profissionais de RH. É preciso resgatar a essência da função, que é cuidar das pessoas e construir relações saudáveis e produtivas no ambiente de trabalho. O ghosting não pode ser normalizado ou tolerado, pois vai contra esses princípios fundamentais. Acredito que a conscientização, a revisão de processos e a construção de uma cultura de respeito e empatia são caminhos importantes para combater o ghosting e reafirmar o papel do RH como guardião das pessoas nas organizações.
Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento | Validação Analítica | Validação de Limpeza | Inovação | Portfólio | Gestão de Projetos | Black Belt | Lean Six Sigma | Healthcare | Pharma | MBA
6 mNuma era onde muitas pessoas sofrem de ansiedade, não ter retornos claros de processos seletivos pode ser muito doloroso; ainda mais numa situação de desemprego. Sabemos que o processo de seleção é uma via de mão dupla e que existe a possibilidade de recusa por "N" motivos. Mas acredito que seja importante, mesmo que com uma mensagem padrão, dar o retorno para os candidatos. Já para as relações humanas em geral, eu acredito que a diversidade de plataformas de comunicação e suas diferentes maneiras de o fazer (Instagram, Facebook, WhatsApp etc), acabou afastando e bloqueando aquele calor humano, o te-a-te que se faz necessário.
Gestora de RH/ Mentora/Cofundadora da SOUNÓSMULHERES/DHO/ESG/Employee Experience/Endomarketing/Comunicação Interna
6 mNuma época de relações líquidas , as pessoas normalizam o que não deveria ser normalizado . Em qualquer relação a ausência de empatia e cuidado é dolorosa. Perfeita a sua provocação aos RHs quanto ao tema porque o que mais ouvimos principalmente nos casos de processos seletivos e falta de retorno , de feedback e de cuidado. No mundo corporativo ou na vida pessoal reciprocidade é o que se espera de nós seres humanos .
C-level / Editora/ Jornalista/ Podcaster/ Apresentadora/ Mediadora
6 mMuito legal a sua reflexão, Thiago. Vc focou no RH, que é a sua área de domínio, mas acredito q seja legal ressaltar que essa prática corporativa também é muito comum entre “vendendor/potencial comprador”. Discuto muito esse tema com o Tiago Musachi - o melhor executivo de vendas que eu conheço - porque são horas investidas em reuniões, demonstrações, versões de propostas, muitas vezes sendo pressionados pelos clientes em potencial (que parecem realmente interessados), para no final de tudo “levar um ghosting”. E olha que estou falando de vendas B2B, com muita gente sênior envolvida, viu? (Ou seja, o problema não é o “volume”, como muitas vezes acontece em processos seletivos com muitos candidatos). Como tb já tive o papel de vender, esse sumiço repentino, mais do que sofrimento, sempre me causou muita curiosidade. Pq será q um executivo sênior, que investiu horas construindo relacionamento com um possível fornecedor, depois decide deliberadamente não responder a nenhuma tentativa de contato? (E olha q eu tentava por diferentes meios de comunicação , sempre com contexto e muita educação) Não tenho essa resposta. Seu texto é um bom ponto de partida para pensarmos! Obrigada por dividir