QUANDO A (FALTA DA) CONTINUIDADE DE NEGÓCIOS REFLETE NA VIDA REAL
Nós, reles e simples especialistas em Continuidade de Negócios, temos falado a mais de 30 anos sobre o tema afim de resolver questões pois, quando ela falta, vidas ficam em risco e, não raras as vezes, são ceifadas.
O que ocorreu com o submersível na última semana, ou até no domingo de sua descida, conforme especulam alguns, é mais uma dessas situações. Ficamos sabendo que o especialista de Segurança que informou sobre problemas de confiabilidade desse tipo de exploração foi demitido pela empresa em 2018. O que será que fez essa demissão ocorrer? Não me impressionaria ter sido algo pelo qual eu mesmo passei… o executivo responsável por esse profissional tê-lo demitido pois “não queria ouvir más notícias”. É mais comum do que se possa imaginar.
Vejam, nos últimos 10 anos fomos assolados por notícias que causam esse tipo de consternação e é importante que se diga que quando um profissional de segurança lhe traz más notícias, é recomendável que você o ouça pois o risco de ter problemas por não o ouvir é grande demais pra ser ignorado.
Ao longo deste texto falando da Continuidade de Negócios, procurarei explicar porque novamente estamos chorando pela perda de vidas humanas.
Não raro a ambição e a falta de cuidado extremo, quando se tem situações extremas como a desse submarino, levam à catástrofe. O homem, quando evolui seu conhecimento, quer testar seus limites e isso é favorável à evolução, todavia, fazer isso sem segurança é jogar com a vida que não pode não ser a dele (do Homem)… como os generais que ficam atrás das barreiras de defesa enquanto os soldados vão ao Campo de Batalha.
Analisando este último caso podemos ver que a ambição e a futilidade (na visão de alguns) não tem limite. Ora, se viagens como essa anteriormente foram realizadas e nada aconteceu fora dos que deveria ter ocorrido, não quer dizer que esta estaria livre de problemas, já que se trata de uma "ação única e de missão crítica", onde um erro pode levar tudo a perder, jamais se deve deixar um ponto sequer sem atenção e, quando tudo não estiver exatamente como deve estar, a operação não deve ser realizada, simples assim. Quem não crê no que estou dizendo, veja, as verificações antes de qualquer voo comercial, dos milhares que existem diariamente, mundo afora... como são planejados, cada um deles e como ocorrem, de fato… Ou não, pois muitos já tiveram seus voos cancelados e até ficaram consternados com isso, sem nem sempre saber que esse cancelamento salvou sua vida para que pudesse, n´outra oportunidade, voar normalmente... sem riscos conhecidos à sua vida.
Claro, você dirá: - Não dá pra prever tudo! Que o digam as vítimas do avião da Gol, em 2006, quando um acidente ocorreu no céu. Muito bem, a palavra “acidente”, difere de “incidente” pois um “é conhecido” (incidente) e outro, obra do “acaso” (acidente). Muito embora nos estudos feitos posteriormente àquele “acidente”, detectou-se erro da comunicação do Sistema Nacional de Aviação com o avião Legacy, que permitiu voos concorrentes na mesma “via aérea”, sem o cuidado de colocar ambos os aviões em segurança, com uma via livre entre eles (quem não conhecer nada sobre operações de aviação, pode estudar essa questão e entender que aqueles dois aviões deveriam estar separados por ambiente seguro, caso estivessem nas vias corretas). Enfim, situações como aquela e esta, de 2023, 17 anos depois, são fatais e nada que se faça doravante trará as vitimas de volta. Embora muitos creiam (e eu também) que ninguém morre de véspera, a obrigação de quem pode evitar tais problemas deve ser realizada.
Fato que situações como a desse submersível não serão únicas e outras situações podem ocorrer da mesma forma. Muitos acham que coisas assim ocorrem só com quem não tem recursos financeiros para se proteger... Ledo engano pois desta vez eram cinco bilionários no Titan, visitando o Titanic, que em 1912, embarcava 1500 passageiros, 2/3 deles ricos e abastados senhores e senhoras, dos quais, menos de 500 se salvaram. A história se repete em 1912 e 2023, da mesma forma, sem os devidos cuidados com a segurança, quer seja no trajeto da embarcação ou na sua construção.
Nós, brasileiros, vemos isso recorrentemente nas chuvas de todos inícios de ano, notadamente nas serras paulistas e cariocas, por desabamentos de terra nas encostas perigosas, onde necessitados de um teto constroem suas casas e o poder público nada faz, primeiro para lhes dar condições descentes de moradia, segundo para lhes impedirem de jogar com a própria vida pois o poder público sabe, em cada cidade e estado, exatamente onde estão as áreas de risco.
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Impensável pois entender “por que” ainda é assim. Difícil de acreditar que “ainda ocorrerão mais situações similares”. Não podemos esquecer de Mariana e Brumadinho, onde problemas ligados à ambição dos empresários por não dar segurança adequada aos seus mega empreendimentos, levaram à morte centenas de pessoas. Meu objetivo aqui não é dizer que tudo está perdido e nem ficar listando problemas pois os conhecemos muito e recorrentemente coisas assim acontecem, mas como resolver esse problema? – Esse é o desafio.
Bem, primeiro lembrando que existem normas internacionais, vigentes no Brasil, para dar às situações de risco o seu devido encaminhamento e tratamento. Falo das Normas do Comitê Internacional da ISO (Internacional Standardization for Organization), acatadas no Brasil pela ABNT (Associação Brasileira das Normas Técnicas), sob os números 31000 (Gestão de Riscos Operacionais), 27002 (Código de Prática da Segurança da Informação), 27005 (Gestão de Riscos em Segurança da Informação), 27001 (Sistema de Gestão da Segurança da Informação), 22313 (Código de Prática da Continuidade de Negócios) e 22301 (Sistema de Gestão da Continuidade de Negócios). Antes que me critiquem pelos nomes que coloquei ao lado dos números das Normas, menos me preocupa os termos certos escritos no nome oficial, do que o que essas normas de fato são… e elas são o que eu escrevi nos parênteses “()”. Com certeza existem outras, que desconheço por não serem do mercado que atuo, de Segurança da Informação e Continuidade de Negócios. Essas, entretanto, ensejam tudo que é necessário pra resolver esses problemas.
Bem, lendo atentamente cada uma e seguindo a sequência que indiquei, da 31000 até a 22301, pode-se ver que existe método discutido e comprovado, internacionalmente, para a resolução de situações como as do submersível e todas as outras que relatei aqui. Claro que não é algo simples, nem barato e muito menos rápido de se realizar pois envolve trabalho sério e dedicado de profissionais altamente qualificados e, consequentemente, caros. Não se espera desse tipo de atividade algo que resolva de modo simples a equação de segurança x viabilidade de operação. Mas entendam todos, o que nós, especialistas e conhecedores dessas normas e atividades queremos sempre é que o sonho de visionários seja aplicado e desenvolvido, evitando como d´antes muitas situações desagradáveis ocorriam. Há aqui um problema maior de quando um trabalho sério desses é realizado e os executivos responsáveis não os seguem. Parece que foi o caso desta situação recente.
Se não, vejamos: - É fato que antes dos incêndios dos edifícios Andraws e Joelma, na Capital Paulista, em 1972 e 74, não havia o cuidado que existe hoje na construção de prédios e habitações, muito menos fiscalização para tanto. Resultado, depois de aplicados os requisitos, baseados em normas como as que descrevi aqui, muito menos incêndios como aqueles ocorreram e muito menos vitimas existiram. Impediu que outros prédios queimassem? – não… mas quando ocorreram os incêndios, os cuidados para que fossem evitados, sendo maiores e aplicados, também os de “contorno da situação”, posteriormente ao “incidente” levou, não raro, à evitar a perda de vidas humanas, mesmo que tenha ocorrido a perda total do patrimônio físico (o prédio em si), Com as vidas que foram poupadas, todos tiveram a possibilidade de seguir em frente e até fazer parte da reconstrução.
O mesmo se aplica à operação de aeronaves, depois de muitos problemas ocorridos nas décadas de 1950, 60 e depois, os checklists foram se aprimorando e hoje, muito menos problemas ocorrem. Situações como da insegurança das pistas de pouso em aeroportos dentro de cidades também foram trabalhadas para evitar situações como as do avião da TAM, em 2007, em Congonhas.
Vejam, a aplicação efetiva da Segurança não evita, mas mitiga os problemas quando da ocorrência de incidentes (os conhecidos) e acidentes (os fortuitos) e isso é importante para que se melhore cada vez mais a situação da sociedade, que no final das contas, é quem precisa de fato evoluir, em ações, atitudes e conhecimento, pois, quando isso não acontece, pouco há o que fazer pois situações como as que vimos agora se repetirão exaustivamente, até que a lição seja, de fato, aprendida.
O texto foi duro, eu sei, mas espero que entendam a gravidade de situações para que o episódio visto nessa semana não seja somente mais um momento de consternação mundial, sem que isso sirva de lição para situações futuras. Repito, não se trata de ricos, pobres ou de raça, credo ou preferências de qualquer tipo, mas da manutenção da vida humana, usando elementos que já existem, bastando que sejam aplicados e seguidos.
Desejo bons e contínuos ventos para todos!
COO | CCO | Somaxi Group | Co-Founder 1a Franquia de Privacidade do Brasil | AOPD®SC | OAB/SP® Member | RGB®Member | IDCiber®Member | Neurociência | Membro G20 | Membro Clube BoraFazer | Awareness Sec IA
1 aExcelente Reflexão