Quando mulheres não colaboram entre si, todas perdem
Ao longo da minha carreira, enfrentei muitas situações desafiadoras – e continuo enfrentando. Algumas delas vieram de onde menos esperava: outras mulheres. E especialmente porque trabalho com equidade de gênero, decidi escrever sobre as pressões que levam à rivalidade entre mulheres no mercado de trabalho. Fingir que isso não existe não ajuda. Precisamos olhar para o tema com honestidade, porque reconhecer essa dinâmica é um passo essencial na busca por mais equidade.
Apesar de minha experiência ser muito positiva trabalhando com mulheres – algo que realmente amo fazer –, e de estar cercada por mulheres incríveis, há uma realidade que não pode ser ignorada.
Quem nunca viu um grupo de mulheres criticando a novata na empresa ou tentando dificultar o crescimento dela? Infelizmente, situações assim ainda acontecem com mais frequência entre mulheres do que entre homens.
Já sabemos que nós, mulheres, somos minoria em muitas áreas: em cargos estratégicos, como fundadoras de startups, na tecnologia, nas vendas B2B e, especialmente, em posições de liderança como os cargos C-level. Quando esse cenário de desigualdade nos obriga a competir por espaços reduzidos, acabamos criando barreiras que só nos prejudicam.
Quantas vezes já nos deparamos com mulheres que, em vez de apoiar, articulam contra outras? Que conspiram, fazem motim ou dificultam o crescimento alheio simplesmente porque se sentem ameaçadas? Essa realidade é desconfortável, mas precisamos falar sobre ela. Não para apontar dedos, mas porque é impossível construir espaços inclusivos e colaborativos se continuarmos nos sabotando entre nós mesmas.
Por que essas dinâmicas existem?
As pressões competitivas entre mulheres não surgiram do nada, e nem são porque “mulheres não gostam de mulheres” ou porque “são difíceis”. O problema é estrutural e muito mais complexo do que parece.
Durante séculos, fomos condicionadas a acreditar que havia espaço apenas para poucas mulheres em ambientes de poder e liderança. Essa crença, amplificada pelo sistema patriarcal, reforça a ideia de que precisamos competir umas com as outras para conquistar o pouco que nos é oferecido, entre as mulheres, e esquecemos do real problema.
Além disso, o fenômeno conhecido como "teto de vidro interno" mostra que, além das barreiras impostas pelo sistema, também criamos barreiras invisíveis entre nós mesmas. Segundo uma pesquisa da American Psychological Association, em ambientes onde as mulheres são minoria, há uma percepção de que apenas algumas podem alcançar o sucesso – uma crença que enfraquece todas nós coletivamente.
Mas até que ponto isso é imposto, e até que ponto internalizamos e replicamos essa lógica? Será que essas dinâmicas são naturais, ou são respostas ao contexto em que estamos inseridas? Essas são reflexões que precisamos fazer para mudar o cenário.
Os prejuízos da rivalidade feminina
Quando mulheres caem em dinâmicas de rivalidade ou exclusão, os impactos vão muito além das relações interpessoais. Eles afetam toda a cultura organizacional e o mercado como um todo.
Um estudo da Catalyst reforça que empresas que promovem apoio entre mulheres têm 30% mais chances de reter talentos femininos, melhorar a performance e avançar na equidade de gênero. Essas dinâmicas de rivalidade, portanto, se tornam um grande obstáculo para esses avanços.
Olhe para a sua trajetória e tente refletir
Ao longo da minha jornada, vivi situações marcantes em que fui prejudicada por outras mulheres. Talvez até eu, no passado, já tenha feito isso sem perceber. O padrão era sempre o mesmo: o medo de perder espaço ou a insegurança de ver outra mulher brilhando mais.
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Já enfrentei fofocas articuladas por alguém do RH que poderiam ter prejudicado minha credibilidade. Passei por momentos em que uma colega tentou criar situações negativas para me impedir de ser promovida. No lado mais pessoal, já enfrentei o cancelamento de um grupo de mulheres por não compactuar com uma postura racista – e, nesse caso, tenho orgulho de dizer que jamais tolerarei algo assim.
Percebi que, muitas vezes, a ambição feminina é mal interpretada. Ser estratégica, buscar crescimento e querer se destacar não é algo recebido de forma positiva quando vem de outra mulher. Essa visão precisa mudar.
Essas experiências me ensinaram muito. Não me tornei amarga ou desconfiada. Pelo contrário: reforçaram minha crença de que essas rivalidades refletem insegurança e um sistema que nos divide. Por isso estou escrevendo sobre isso. A vida das mulheres já é difícil – não precisamos torná-la ainda mais desafiadora para outras.
O poder da união feminina
A boa notícia é que podemos mudar essa dinâmica. Tudo começa com a nossa postura. Quando mulheres se unem, o impacto é transformador. Estudos da Harvard Business Review mostram que mulheres com redes de apoio crescem mais rápido na carreira e têm mais confiança em suas decisões.
Pequenas ações podem fazer uma grande diferença:
E se você ocupa uma posição de liderança ou influência, aqui vão algumas dicas poderosas:
Na Women In Sales , estamos vendo cada vez mais sucesso na construção de um movimento que fortalece a união entre mulheres e promove um espaço seguro para apoiá-las no crescimento profissional, sem rivalidade.
Como lidar com essas dinâmicas?
Nem sempre conseguimos mudar o comportamento das pessoas ao nosso redor, mas podemos controlar nossas reações:
Reflexão final
Quando mulheres não colaboram entre si, todas perdem. Perdemos força, oportunidades e a chance de criar um mercado mais inclusivo. Mas quando nos apoiamos, o impacto é poderoso.
Parte do meu trabalho é levar essas reflexões e estratégias para empresas que querem promover a equidade de gênero de forma efetiva. Além da nossa comunidade, palestras, workshops e mentorias são ferramentas que podem transformar ambientes e mostrar que, sim, há espaço para todas.
E você? Já pensou em como sua empresa ou equipe pode fortalecer redes de apoio entre mulheres? Vamos juntas mudar essa narrativa.
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3 semAngelita Oliveira excelente! #sororidade precisa ser mais forte e sair do discurso para a ação. Já enfrentei liderança de mulheres que infelizmente não tinham um pingo de sororidade. Temos um gap gigante entre o que é falado para parecer legal perante a sociedade do que o que realmente acontece nos bastidores. Falta muita união infelizmente…
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3 semAngel, muito necessária essa discussão! O que você acredita que empresas possam fazer, da maneira estruturada, para promover apoio entre mulheres de uma maneira geral? (Além do letramento)