Quando o capacitismo nos atinge

O capacitismo me atinge quando, ainda hoje, aos trinta anos, médicos me recomendam colocar uma prótese no olho esquerdo para ele ficar mais parecido com o direito. Ou quando ressaltam minha energia e carisma sempre, independentemente do que eu faça bem profissionalmente. Queria que elas me vissem além de animadora de torcida dos ambientes e me valorizassem como profissional.

O trecho acima é parte do prefácio que fiz para o “Manual anticapacitista: o que você precisa saber para se tornar uma pessoa aliada contra o capacitismo”. A publicação conta como pessoas autoras: Carolina Ignarra, CEO do Grupo Talento Incluir, e Billy Saga, rapper e líder de Diversidade e Inclusão em uma multinacional de telecomunicações. 

O livro, da editora Jandaíra, traz algumas experiências da Carolina e do Billy, além de ensinamentos fundamentais sobre o que é o capacitismo.  

Foi emocionante ver não só o meu nome no livro, mas também de outras pessoas que admiro. Ele é um dos primeiros guias que sintetiza as diferentes formas de capacitismo existentes e traz vozes de pessoas ativistas, estudiosas e acadêmicas que passam por esse preconceito diariamente e que estão agindo para mudar essa realidade.

Como tudo começou? 

Carol foi quem entrou em contato comigo para participar do manual. Ela mandou uma mensagem pra mim perguntando se eu queria fazer parte do prefácio do novo livro que ela e Billy iriam lançar com o tema capacitismo.

E eu disse sim na hora! Carol é uma superreferência para mim por tudo o que está construindo à frente da Talento Incluir para impulsionar as carreiras de pessoas com deficiência no mercado brasileiro.

Recebi duas perguntas para compor um dos textos do prefácio: “Qual a importância de ter livros sobre o capacitismo?” e “Como o capacitismo me impacta?”.

A primeira pergunta “Qual a importância de ter livros sobre o capacitismo?” foi mais tranquila de responder, pois acredito que avançamos muito na divulgação sobre esse tema nos últimos anos. Mas eu acredito que precisamos cada vez mais de conteúdo de referência para que o tema seja mais entendido pela opinião pública no país. 

Já a segunda pergunta foi mais difícil. Eu levei um dia para responder. Precisei refletir nas inúmeras formas que esse preconceito me atinge diariamente. Muitas delas estão presentes na minha vida desde pequena e só fui notar agora, aos trinta anos. Isso é chocante. Percebi também outras formas que tentei negar por muito tempo, como o capacitismo que passo profissionalmente. Não dá mais para negar. É preciso olhar, nomear e compartilhar informação.

A importância de fazer parte e ocupar 

Ao participar do manual, eu me senti parte de uma comunidade de pessoas que estão conectadas para falar, expor, trabalhar, fazer arte, moda, design e empreender pela inclusão de pessoas com deficiência no Brasil. 

Nossa força ficou ainda mais evidente no dia do lançamento do livro. Encontrei pessoas que não via há muito tempo devido aos anos de pandemia. O evento foi ainda mais representativo porque são pessoas que caminham na mesma direção, com propósitos em comum. 

É extremamente importante ocupar esses espaços que dão visibilidade para questões como o capacitismo que atinge não só pessoas com deficiência, mas a sociedade. Eu me sinto ainda mais revigorada para continuar com meu propósito de abrir mais portas e possibilidades para pessoas com deficiência.