QUANDO TE PARTISTE
Quando te partiste
a distância se transgrediu em fruto milenar
naquele momento esquivo da noturnidade
tão habitual como o teu olhar nascido
tão habitual como a tua fala ensurdecida
tão intertextual como o roxo de paradeiros
Quando te partiste
o intraduzível serenou nos sambas
que chuviamos em parceria
tão habitual que era o norte
e o sul de pequenos almoços
Quando te partiste
a comoção ressuscitou
devagar reintroduzimos a febre
devagar biografámos a tinta
tão habitual que era a inquietude
tão habitual a alusão aos mistérios
às galáxias, à explosão de metafísicas
tão habitual o território de barro e música
Quando te partiste
as idades do tempo longo
alastraram na sépia de um continente cheiro
alastraram em remorsos e chamas
tão habitual que era o óleo
tão habitual que era aquela grade
tão habitual o registo de árvores
Quando te partiste
o meu estádio era uma ponte arredada
e o íntimo era remoto e mimético
tão habitual como o teu olhar nascido
tão habitual como as dimensões da alma
tão habitual como a chuva
e a nudez de areias
Quando te partiste
a distância transgrediu
enlacei as pinturas de velasquez
e aí me escondi
e aí progredi e aí me adormeci.
Clarinda Costa e Jorge C Ferreira
1 comentário
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Advogado na F. Castelo Branco & Associados
1 aUma fantástica ambiência transhumana
Vigilante
1 aBom dia Cecília, 👏❤️, feliz natal