Quando vender uma empresa?
Há algumas décadas atrás pessoas criavam empresas pensando em seus herdeiros. As coisas eram feitas para durar, inclusive as empresas, que tinham destino certo nas mãos das próximas gerações da família do fundador. Vender uma empresa era algo considerado somente em caso de problema gravíssimo, tal como morte de alguém fundamental para a continuidade dos negócios, ou ainda, por problemas financeiros maiores que a capacidade de gestão dos donos. Vender uma empresa era para muitos o último recurso e também um "atestado de incompetência" dos gestores, de fracasso, até de vergonha. Negócios bons não eram colocados à venda.
O Século XXI trouxe com ele uma visão muito mais dinâmica aos negócios. Empresas são consideradas ativos, e como tal, são negociadas e vendidas. Sem qualquer conotação negativa. Compra e venda de empresas atualmente é assunto corriqueiro em jornais e até objeto de cursos em escolas de administração. Assuntos relacionados a fusões e aquisições, expediente comum de implementação de planos empresariais e há muito utilizado por grandes empresas e corporações, estão ficando frequentes nas pautas de reuniões estratégicas também em pequenas e médias empresas. Em alguns nichos de mercado mais dinâmicos, como o de tecnologia e informação só para citar um exemplo, empresas de todos os tamanhos já perceberam as vantagens dessa estratégia e mudam de controlador com grande velocidade.
A realidade das operações de fusões e aquisições invadiu o ambiente das pequenas e médias empresas. Muitos empresários de pequenas e médias são assediados por interessados em conversar sobre a venda do negócio, ou associação com outra empresa, grupo empresarial ou fundo de investimentos. Entretanto, no Brasil ainda é frequente junto aos empresários de empresas pequenas e médias o pré-conceito equivocado que não se vende uma empresa rentável e financeiramente sadia. Todavia, muitas dessas operações podem ser excelentes oportunidades ao empresário, enquanto outras podem ser péssimas. A maneira de condução de uma conversa relacionada à combinação de negócios (esse é um termo técnico para operações do tipo fusões e aquisições) é essencial para que os resultados sejam adequados. Independente da capacidade e experiência do empresário em negociações complexas é fundamental que a negociação e transação sejam conduzidas profissionalmente e por especialistas. Há um ditado que diz que o advogado que defende sua própria causa tem um tolo como cliente. Da mesma maneira não é recomendável que o dono negocie a própria empresa.
Importante ressaltar que para uma conversa relacionada a fusões e aquisições progredir, a empresa deve estar preparada para isso. Estar preparada significa tomar atitudes antes de iniciar um processo, iniciar conversa com terceiros. Entre eles destacamos: Informações financeiras e contábeis atualizadas e refletindo a realidade, contratos com terceiros fáceis de serem checados, tais como contratos com clientes e fornecedores, plano de negócio descrito, projeções financeiras realistas refletindo adequadamente o futuro próximo da empresa, valor da empresa fundamentado etc..
Além das informações corretas e disponíveis é importante que os acionistas ou cotistas estejam confortáveis com a decisão de vender a empresa. E que essa decisão tenha sido baseada em visão de negócio que venha a refletir uma boa oportunidade de se realizar um bom negócio, tanto para quem a comprará quanto para quem a venderá. Quando uma empresa é colocada à venda por falta de opção, ou ainda como alternativa para sair de situação financeira complicada, a negociação geralmente beneficia muito mais o lado comprador, pois nesses casos há imposição de certas condições por conta da pressão de venda.
Portanto, um bom negócio é realizado quando ambas as partes se preparam adequadamente para realizá-lo e o encara de maneira profissional, sem pressões externas para que seja realizado. Minha experiência mostra até então que em muitos casos fatores relacionados ao mercado devem ser considerados como secundários para a tomada de decisão de venda de uma empresa, mesmo porque um processo de venda de empresa não tem maturação rápida, portanto, quanto melhor planejado e executado, melhores serão as chances de sucesso.